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"Brasil é periférico", diz Piñon
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nestes anos todos em que o
Brasil tem estado isolado de seus
vizinhos latino-americanos, a escritora Nélida Piñon tem atuado
como uma espécie de diplomata
informal das relações do país com
a hispanidade. Não por acaso, será ela a representante brasileira,
entre os escritores, no 1º Fórum
Ibéria e América Latina.
Piñon, que passa a maior parte
do tempo viajando, falou à Folha,
pelo telefone, de sua casa nos Estados Unidos -há dez anos, por
um semestre, ocupa uma cadeira
da Universidade de Miami, a mesma do Nobel de Literatura de
1978, Isaac Singer (1904-1991).
Leia a seguir trechos da entrevista.
(CM)
Folha - A sra. é uma militante da
integração, não é?
Nélida Piñon - É que, desde muito jovem, via que não somente
nós nos desconhecemos, sobretudo o mundo luso e o mundo hispano, como também percebia
que, toda vez que se falava de
América Latina, nunca se mencionava o Brasil. Lutei muito, já
em 1970 eu batalhava, para incluir
o Brasil nessa designação geral.
Hoje é difícil que se faça um fórum ou algo sobre a América Latina e não se inclua o Brasil. Não
havia intenção de alijar, era uma
impossibilidade de entender que
esse país continental, oficialmente com uma cultura e língua diferentes, fizesse parte de um princípio básico e que tivéssemos destinos comuns.
Folha - Em termos de literatura,
isso já mudou?
Piñon - Muito ainda não. Acho
que melhorou muito. O Carlos
Fuentes, que está à frente desse fórum, tem uma noção perfeita da
necessidade de integração. Quando digo integrar não é renunciar
às diferenças, que são razão de riqueza da humanidade. Mas quando você abre os olhos, legitima o
outro. De olhos fechados o outro
não existe.
Folha - Esse tipo de encontro funciona?
Piñon - Todo debate é útil. Não
sabemos até que ponto vão os debates, como se propagam nessa
rede cultural do mundo, que é tão
vasta. Mas no momento que você
dá nome às coisas, elas passam a
existir. Quem sabia isso mais que
qualquer pessoa era Deus. No Gênesis, está lá: no princípio era o
verbo. O mundo precisa cada vez
mais entender que a América Latina é um conjunto histórico, de
culturas, que não pode ficar fora
dos epicentros. Nós somos epicentro. Não podemos continuar
com esse sentimento periférico.
Folha - O Brasil é epicentro ou periferia?
Piñon - Eu acho o Brasil extremamente periférico. Não que mereçamos, mas é a realidade. A nação brasileira precisava fazer um
esforço imenso no sentido de se
dar a conhecer. Viajo bastante e
vejo que não somos muito conhecidos, não se escreve nada sobre o
Brasil. A idéia que perdura é a do
gigante. Só que não se conhece o
conteúdo do gigante.
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