|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Formação dura uma década
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo rígido padrão da International Psychoanalytical Association (IPA), um psicanalista demora quase dez anos para se tornar
um membro efetivo, sem contar a
formação universitária prévia.
Em tese, qualquer portador de
diploma de nível superior pode se
candidatar a uma formação. "Mas
cada sociedade local tem autonomia para decidir se restringe a entrada apenas a médicos e a psicólogos", explica Wilson Amendoeira, presidente da Associação
Brasileira de Psicanálise (ABP).
A ABP, com sede no Rio de Janeiro, é uma federação de organizações locais, cada uma delas diretamente reconhecida pela IPA,
que tem sede em Londres. No
Brasil, há só oito sociedades aceitas, espalhadas por seis cidades
(uma em São Paulo, uma em Brasília, uma em Recife, uma em Pelotas, duas em Porto Alegre e duas
no Rio de Janeiro).
"Temos outros três grupos de
estudos que já são reconhecidos
como embriões pela IPA e caminham para se tornar sociedades",
diz Amendoeira.
Além disso, oito núcleos novos,
patrocinados pela ABP, começam
a espalhar os ensinamentos de
Freud pelo vasto território brasileiro.
Para fazer a formação analítica é
preciso pedir ingresso a uma das
sociedades já reconhecidas. As
duas do Rio de Janeiro só permitem o ingresso de médicos e psicólogos. A de São Paulo é mais flexível.
Depois de passar pelo processo
seletivo inicial, o ingressante, que
então passa a se chamar "candidato", precisa fazer cursos teóricos que duram quatro anos e passar pela análise didática. Trata-se
de uma psicanálise pessoal que
demora, em média, sete anos, feita com um analista didata, posição ocupada pelos que chegaram
ao ápice da carreira na respectiva
sociedade.
Além disso, o candidato é obrigado a atender pelo menos um
homem e uma mulher por dois
anos cada um, em sequência,
quatro ou cinco vezes por semana, sob supervisão de outro analista didata.
Após esses quatro anos de prática e com relatórios clínicos enviados à sociedade, mais os cursos
teóricos e a análise didática, o
candidato é submetido a uma votação da assembléia geral da respectiva sociedade.
Caso seja aprovado, deixa de ser
candidato e passa a ser membro
associado. Para galgar a posição
de membro efetivo da sociedade,
precisa esperar ainda mais dois
anos e produzir um trabalho científico original. O texto, muitas vezes depois publicado em revistas
especializadas, é avaliado por
uma banca de três analistas.
Os processos analíticos costumam ser longos e caros tanto para
os candidatos quanto para os pacientes em geral. O que torna a
psicanálise onerosa é o número
de sessões por semana (o preço de
cada uma tende a acompanhar o
de uma consulta médica). Sugere-se quatro ou cinco vezes por semana (embora menos também
seja aceitável).
"O sucesso da análise depende
de criar uma intimidade e um clima de introspecção entre o analista e o paciente", explica Amendoeira. Por isso, é necessário uma
frequência alta de encontros semanais.
O sigilo do que é dito dentro do
consultório está garantido pelo
código de ética da IPA, "dentro
dos limites das normas jurídicas e
profissionais aplicáveis", segundo
o texto. Redigidos apenas dois
anos atrás, embora em vigor como praxe desde a época de Freud,
os princípios éticos da IPA não
abordam o problema de o que fazer em caso de o analista vir a ter
alguma informação que envolva
perigo para terceiros. O tema se
encontra em discussão.
Já o contato sexual entre analista e paciente fica explicitamente
vedado. "O psicanalista não deverá ter relações sexuais com um/a
paciente ou estudante sob tratamento ou supervisão do psicanalista", afirma o código.
(AS)
Texto Anterior: Teses de Lacan se adaptam aos trópicos Próximo Texto: Simpósios sobre Freud começam hoje Índice
|