São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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Formação dura uma década

DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo rígido padrão da International Psychoanalytical Association (IPA), um psicanalista demora quase dez anos para se tornar um membro efetivo, sem contar a formação universitária prévia.
Em tese, qualquer portador de diploma de nível superior pode se candidatar a uma formação. "Mas cada sociedade local tem autonomia para decidir se restringe a entrada apenas a médicos e a psicólogos", explica Wilson Amendoeira, presidente da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP).
A ABP, com sede no Rio de Janeiro, é uma federação de organizações locais, cada uma delas diretamente reconhecida pela IPA, que tem sede em Londres. No Brasil, há só oito sociedades aceitas, espalhadas por seis cidades (uma em São Paulo, uma em Brasília, uma em Recife, uma em Pelotas, duas em Porto Alegre e duas no Rio de Janeiro).
"Temos outros três grupos de estudos que já são reconhecidos como embriões pela IPA e caminham para se tornar sociedades", diz Amendoeira.
Além disso, oito núcleos novos, patrocinados pela ABP, começam a espalhar os ensinamentos de Freud pelo vasto território brasileiro.
Para fazer a formação analítica é preciso pedir ingresso a uma das sociedades já reconhecidas. As duas do Rio de Janeiro só permitem o ingresso de médicos e psicólogos. A de São Paulo é mais flexível.
Depois de passar pelo processo seletivo inicial, o ingressante, que então passa a se chamar "candidato", precisa fazer cursos teóricos que duram quatro anos e passar pela análise didática. Trata-se de uma psicanálise pessoal que demora, em média, sete anos, feita com um analista didata, posição ocupada pelos que chegaram ao ápice da carreira na respectiva sociedade.
Além disso, o candidato é obrigado a atender pelo menos um homem e uma mulher por dois anos cada um, em sequência, quatro ou cinco vezes por semana, sob supervisão de outro analista didata.
Após esses quatro anos de prática e com relatórios clínicos enviados à sociedade, mais os cursos teóricos e a análise didática, o candidato é submetido a uma votação da assembléia geral da respectiva sociedade.
Caso seja aprovado, deixa de ser candidato e passa a ser membro associado. Para galgar a posição de membro efetivo da sociedade, precisa esperar ainda mais dois anos e produzir um trabalho científico original. O texto, muitas vezes depois publicado em revistas especializadas, é avaliado por uma banca de três analistas.
Os processos analíticos costumam ser longos e caros tanto para os candidatos quanto para os pacientes em geral. O que torna a psicanálise onerosa é o número de sessões por semana (o preço de cada uma tende a acompanhar o de uma consulta médica). Sugere-se quatro ou cinco vezes por semana (embora menos também seja aceitável).
"O sucesso da análise depende de criar uma intimidade e um clima de introspecção entre o analista e o paciente", explica Amendoeira. Por isso, é necessário uma frequência alta de encontros semanais.
O sigilo do que é dito dentro do consultório está garantido pelo código de ética da IPA, "dentro dos limites das normas jurídicas e profissionais aplicáveis", segundo o texto. Redigidos apenas dois anos atrás, embora em vigor como praxe desde a época de Freud, os princípios éticos da IPA não abordam o problema de o que fazer em caso de o analista vir a ter alguma informação que envolva perigo para terceiros. O tema se encontra em discussão.
Já o contato sexual entre analista e paciente fica explicitamente vedado. "O psicanalista não deverá ter relações sexuais com um/a paciente ou estudante sob tratamento ou supervisão do psicanalista", afirma o código. (AS)



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