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Em "O Homem sem Sombra", Paul Verhoeven conta a história de cientista que fica invisível
Perversidade visível
Divulgação
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O invisível Sebastian Caine (Kevin Bacon) em cena de "O Homem sem Sombra", filme do holandês Paul Verhoeven, que já arrecadou quase US$ 80 milhões nos EUA |
Para o diretor holandês, o ser humano mostraria o pior de si se pudesse passar despercebido
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MILLY LACOMBE
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
O que você faria se pudesse ficar
invisível? Para o diretor Paul Verhoeven a resposta é simples: roubaria, mataria, estupraria. Uma
resposta que condiz com a inquietação existencial desse holandês,
conhecido em Hollywood por
criar obras obscuras.
"Platão já escrevera que o homem, se pudesse ficar invisível e
se livrar da opressão da sociedade,
mostraria o pior de si", disse. "A
verdade é que o homem só se
comporta por causa das exigências sociais, da polícia, da punição", completou. "Caso contrário,
seríamos todos criminosos."
E foi com isso em mente que
Verhoeven levou às telas seu homem invisível. Quem espera assistir a um filme leve e sem grandes pretensões, como a comédia
romântica que Chevy Chase e
Daryl Hannah protagonizaram
sob o tema ("Memórias de um
Homem Invisível"), engana-se.
Kevin Bacon é Sebastian Caine,
o cientista contratado pelo Pentágono para conduzir um estudo
que busca a fórmula da invisibilidade. Experimentando a incrível
e secretíssima descoberta nele
mesmo, o cientista, seduzido pela
liberdade que a transparência
proporciona, acaba por transformar-se em um monstro. "Ele não
é um homem perverso", defende
Paul. "Ele se transforma em demônio no decorrer da trama."
"O Homem sem Sombra", ficção científica repleta de efeitos especiais de última geração e que já
arrecadou quase US$ 80 milhões
nos EUA, é, antes de mais nada,
um thriller de terror e suspense.
Paul Verhoeven, 62, ficou conhecido em Hollywood quando
dirigiu "Robocop", em 1987. Depois, emplacou sucessos como
"Total Recall" (90) e "Instinto Selvagem" (92). Mas foi com "Showgirls" (95), a história de uma stripper em Las Vegas que tenta fazer
carreira a qualquer custo, que ele
mostrou seu lado mais sombrio.
"Acho que não conseguiria fazer
nada mais perverso do que isso",
disse ele sobre "Showgirls".
Para melhor entender a complexidade interior desse sujeito,
deve-se saber o seguinte: Paul
Verhoeven é formado em física,
tem doutorado em matemática,
integrou o Exército holandês, fez
carreira em Hollywood e há 15
anos estuda profundamente a vida de Jesus Cristo. "Entendo o
personagem de Bacon porque, se
eu ficasse invisível, talvez tivesse
algumas de suas atitudes", disse.
"O que me separa da criminalidade é o cinema. Minhas obras
são reflexos do que sou. Uso meus
filmes para extravasar essa minha
inquietação e, com o passar dos
anos, tenho conseguido me transformar em um sujeito mais normal", disse, rindo da dificuldade
em encontrar o adjetivo adequado para se autodescrever.
"Os filmes apenas refletem a sociedade. Não se pode dizer que filmes inspirem violência, isso é
uma bobagem. Eles são apenas reflexos dela. O mesmo vale para o
sexo. Filmes refletem desejos e
realidades inerentes ao homem."
Há 15 anos ele participa de reuniões semanais para estudar a vida de Cristo. O grupo analisa a vida de Jesus e a intenção de Verhoeven é, claro, transformar a história em filme. "Tudo o que posso
dizer é que vai ser polêmico."
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