São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2001

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"O REVOLUCIONÁRIO CORDIAL"

Livro retrata machadiano marxista

GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O marxista fluminense nascido em Rio Bonito, filho de médico, fundador do Partido Comunista Brasileiro em 1922, o moço intelectual responsável pelo fato de o capitão gaúcho Luís Carlos Prestes ter abraçado o comunismo em 1927 na Bolívia, o jovem adolescente pegando a barca de Niterói e indo beijar a mão do escritor Machado de Assis às vésperas da morte deste em 1908 no Cosme Velho, gesto que ficará imortalizado numa crônica de jornal escrita por Euclydes da Cunha, eis o retrato de Astrojildo Pereira, aliás muito bem retratado pelo professor Martin Cezar Feijó.
Colaborador do jornal "O Homem do Povo" de Oswald de Andrade e Pagu, tendo viajado à União Soviética em 1924, menos ligado na Revolução de 30 do que na de 17, renegado intelectual "pequeno burguês" expulso do Partidão, reassimilado em 1945, apaixonado por Rui Barbosa e Machado, espécie paradoxal de machadiano marxista, daí o oxímoro "revolucionário cordial", Pereira foi, do ponto de vista do prestígio midiático, a casa-grande do marxismo, por onde se percebem as desavenças tão caras à cultura política brasileira -entre o marxismo e o nacionalismo. Assim talvez se explique seu namoro com a UDN ianquizada e a UDN anti-José de Alencar.
O internacionalismo proletário de Astrojildo Pereira ficou sendo o epítome chapa-branca do marxismo no Brasil, ou seja, o credo da solução dos problemas brasileiros colocada no plano mundial. Disso resulta que o marxismo entre nós assume às vezes o estranho papel de agente colonial, tanto que a patota sociológica que tomou o poder em 1994 não deixou de exibir o passaporte "marxista" em meados dos anos 60.
O ponto alto do livro foi trazer à tona a contribuição de Octávio Brandão, tido como o primeiro marxista brasileiro, digamos assim, a senzala do marxismo, até hoje posto em escanteio sem a merecida consideração.
O marxista romântico Brandão pagou o preço por exigir dos intelectuais a questão da soberania nacional e por querer transformar o Brasil numa "grande potência mundial socialista". Enfim, é aquela velha manjada história: a brasilidade sempre se dá mal.


Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de, entre outros, "Glauber Pátria Rocha Livre" (ed. Senac) O Revolucionário Cordial - Astrojildo Pereira e as Origens de uma Política Cultural


    
Autor: Martin Cezar Feijó
Editora: Boitempo
Quanto: R$ 26 (243 págs.)




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