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"O REVOLUCIONÁRIO CORDIAL"
Livro retrata machadiano marxista
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O marxista fluminense nascido em Rio Bonito, filho de
médico, fundador do Partido Comunista Brasileiro em 1922, o moço intelectual responsável pelo fato de o capitão gaúcho Luís Carlos
Prestes ter abraçado o comunismo em 1927 na Bolívia, o jovem
adolescente pegando a barca de
Niterói e indo beijar a mão do escritor Machado de Assis às vésperas da morte deste em 1908 no
Cosme Velho, gesto que ficará
imortalizado numa crônica de
jornal escrita por Euclydes da Cunha, eis o retrato de Astrojildo Pereira, aliás muito bem retratado
pelo professor Martin Cezar Feijó.
Colaborador do jornal "O Homem do Povo" de Oswald de Andrade e Pagu, tendo viajado à
União Soviética em 1924, menos
ligado na Revolução de 30 do que
na de 17, renegado intelectual
"pequeno burguês" expulso do
Partidão, reassimilado em 1945,
apaixonado por Rui Barbosa e
Machado, espécie paradoxal de
machadiano marxista, daí o oxímoro "revolucionário cordial",
Pereira foi, do ponto de vista do
prestígio midiático, a casa-grande
do marxismo, por onde se percebem as desavenças tão caras à cultura política brasileira -entre o
marxismo e o nacionalismo. Assim talvez se explique seu namoro
com a UDN ianquizada e a UDN
anti-José de Alencar.
O internacionalismo proletário
de Astrojildo Pereira ficou sendo
o epítome chapa-branca do marxismo no Brasil, ou seja, o credo
da solução dos problemas brasileiros colocada no plano mundial.
Disso resulta que o marxismo entre nós assume às vezes o estranho papel de agente colonial, tanto que a patota sociológica que tomou o poder em 1994 não deixou
de exibir o passaporte "marxista"
em meados dos anos 60.
O ponto alto do livro foi trazer à
tona a contribuição de Octávio
Brandão, tido como o primeiro
marxista brasileiro, digamos assim, a senzala do marxismo, até
hoje posto em escanteio sem a
merecida consideração.
O marxista romântico Brandão
pagou o preço por exigir dos intelectuais a questão da soberania
nacional e por querer transformar
o Brasil numa "grande potência
mundial socialista". Enfim, é
aquela velha manjada história: a
brasilidade sempre se dá mal.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de, entre outros, "Glauber Pátria Rocha Livre" (ed. Senac)
O Revolucionário Cordial -
Astrojildo Pereira e as Origens
de uma Política Cultural
Autor: Martin Cezar Feijó
Editora: Boitempo
Quanto: R$ 26 (243 págs.)
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