São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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FESTIVAL DO RIO

Diretor de documentário elogia versão de Jayme Monjardim

Alemão filma Olga sem lágrimas

Divulgação
Margrit Sartorius em dramatização no documentário "Olga Benario", exibido no Festival do Rio


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O pontapé inicial dos dois filmes é o mesmo: a ação liderada por Olga Benario, em 1928, para retirar da prisão o líder comunista Otto Braun. Mas terminam aí as semelhanças entre "Olga", do brasileiro Jayme Monjardim, que já passou dos 2,4 milhões de espectadores, e "Olga Benario", do turco-alemão Galip Iyitanir, que estréia hoje no Festival do Rio.
Enquanto a superprodução brasileira é toda feita com atores e busca emocionar o público, "Olga Benario" é um documentário que narra a história de Olga de forma seca, sem adjetivos, e em que as poucas cenas com atores não têm excessiva dramatização.
"["Olga'] Não é um filme para críticos, mas para o povo. Cumpre bem esse objetivo. É um bom filme", diz Iyitanir, que assistiu a "Olga" no domingo, no Rio. "A obrigação dele [Monjardim] não era se manter ligado à realidade, e sim manter o filme interessante. É muito diferente do meu, nem dá para comparar", completa.
Ele assume que evitou deliberadamente injetar emoção na sua narrativa. "Só no campo de concentração eu permiti um pouco mais de emoção. Quis ser muito objetivo. É um documentário, então eu queria me ater a documentos, à realidade", diz.
A alemã Olga Benario (1908-42) entrou para a história do Brasil ao ser designada, por dirigentes soviéticos, para acompanhar a volta do líder comunista Luís Carlos Prestes ao país. Os dois se apaixonaram e foram presos juntos em 1936. Judia, Olga foi deportada grávida para a Alemanha de Hitler por Getúlio Vargas, morrendo num campo de concentração.
Iyitanir conta essa história a partir de documentos e fotos relacionados à vida de Olga. Como esses não são fartos, o filme repete muitas imagens. Só se vale de cenas com atores em passagens das quais não há qualquer registro.
"Não há material de arquivo para três momentos importantes: o resgate de Otto Braun; a prisão com Prestes no Rio; e o nascimento de sua filha, que é retirada de seus braços pelos nazistas. Como eu queria mostrar esses momentos, usei atores", explica.
A cena em que Anita Leocádia, com 14 meses de vida, é arrancada da mãe é curta em "Olga Benario", muito menos dramática do que a de "Olga", exemplificando bem a diferença entre os filmes. Mesmo sem querer provocar lágrimas, Iyitanir quer sensibilizar espectadores com a história de sua personagem. "Ela, em 34 anos, viveu mais do que 34 pessoas com cem anos. A coragem dela para enfrentar o que enfrentou é fascinante", afirma o diretor.
Iyitanir, 54, ouviu a história de Olga há 22 anos, contada pela artista plástica brasileira Tessa de Oliveira Pinto, desde então sua mulher. Nos últimos dez anos, ele vem tentando realizar "Olga Benario", seu primeiro longa-metragem depois de duas décadas trabalhando como montador.
A partir de 1999, ele conseguiu recursos para pesquisar na França, na União Soviética e no Brasil -passou janeiro e fevereiro de 2003 reproduzindo materiais de arquivos brasileiros. Também foram fundamentais a biografia "Olga", de Fernando Morais, e um livro escrito em 1961 pela alemã (oriental) Ruth Werner.
"Olga Benario é uma heroína nas cidades da antiga Alemanha Oriental. Há mais de cem coisas com o nome dela, como ruas, escolas e cooperativas. Mas, no que era a Alemanha Ocidental, ninguém ouviu falar. O que eu quero com o filme é torná-la mais conhecida", diz o diretor.
"Olga Benario" estréia na Alemanha em 2 de dezembro. Iyitanir, que emigrou para o país aos 23 anos, já planeja novo pouso: quer passar alguns anos filmando e conhecendo o Brasil. Seu primeiro filme tem referências como repentistas e choros na trilha.

FESTIVAL DO RIO. "Olga Benario". Onde: Espaço Unibanco 2 (hoje, às 14h30 e 22h), Estação Ipanema (amanhã, às 18h30) e Estação Barra Point (sex., às 17h). Mais informações no site: www.festivaldoriobr.com.br


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