São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2011
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TEATRO DRAMA Ótima direção atualiza fábula de "O Bosque" Texto de David Mamet ganha jogo de contrastes com recursos inventivos e atinge uma densidade poética rara
LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA O teatro e os medos primitivos. "O Bosque", encenação de Alvise Camozzi de um texto antigo de David Mamet, explora o impacto de tudo o que é obscuro e desconhecido sobre a imaginação humana. Encenada pela primeira vez em 1977, pelo próprio dramaturgo norte-americano, a peça situa um jovem casal experimentando a solidão de uma casa de campo em três momentos: à tardinha, à noite e ao amanhecer. O tom naturalista dos diálogos de Mamet, um especialista em esconder o ouro sob o coloquialismo das falas, autorizaria uma cena realista sem grandes surpresas. A montagem, no entanto, em diálogo com propostas cênicas mais radicais, realça os não ditos e as dimensões invisíveis daquela relação. Assim, mesmo operando na contramão do naturalismo, evidencia as virtudes menos notadas da dramaturgia. Para isso, o diretor conta com o talento dos atores Bruno Kot e Cristine Perón. Ele é o dono da casa, na qual passou férias na infância e na juventude. Ela interpreta a namorada que visita o lugar pela primeira vez e desbrava seus segredos. CONTRASTES É exatamente porque eles sustentam uma interpretação hipernatural, com um mínimo de afetação, que o contraste entre as falas e as cenas em que transcorrem se potencializa. Faz parte desse jogo de contrários um desenho de luz particularmente inspirado de Guilherme Bonfanti. É ele quem delimita os nichos em que a conversa se desenvolve. Primeiro num lusco-fusco vespertino e harmonioso. Depois na fria luminosidade da noite alta e ameaçadora. Finalmente na pálida e reconciliada aurora. Destaque-se que esses efeitos são obtidos com recursos inventivos e não convencionais. A cenografia de William Zarella Jr. também é decisiva para o efeito geral. Ao evitar elementos figurativos e constituir planos de atuação indefinidos, contém os corpos na espessura de uma escuridão crescente. Ao mesmo tempo, volumes informes desproporcionais ocupam uma metade do palco, em contraste com o vazio de referências que permanece na outra metade. Com todas essas oposições caprichosamente construídas, o espetáculo atinge uma densidade poética rara. Remetendo o texto de Mamet ao universo das florestas escuras dos temores infantis, a direção de Camozzi atualiza um drama esquecido e universaliza sua fábula, tornando-a emblemática de nossas névoas contemporâneas. O BOSQUE QUANDO de ter. a qui., às 19h30; até o dia 27/10 ONDE Centro Cultural Banco DO BRASIL (r. Álvares Penteado, 112, região central, São Paulo, tel. 0/xx/11/3113-3651) QUANTO R$ 6 CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Rubricas Próximo Texto: Corbusier chega às bancas no domingo Índice | Comunicar Erros |
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