São Paulo, segunda, 29 de setembro de 1997.



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DISCO/CRÍTICA
Stones voltam cheios de idéias novas em "Bridges to Babylon"

ROGÉRIO SIMÕES
da Reportagem Local

Quando abalavam as estruturas conservadoras britânicas nos anos 60, os então rapazes dos Rolling Stones jamais poderiam imaginar que estariam lançando um novo álbum de estúdio em 1997.
Mas, com o tempo, os agora vovôs do rock tiveram de se acostumar com a idéia de fazer música depois dos 50, chegando ao novo trabalho, "Bridges to Babylon", cheios de idéias novas.
Mas quem precisa de idéias novas? Certamente não Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts, que podem ter 100 mil pessoas a seus pés apenas pedindo: "Start me up!"
Então por que mexer em time que sempre ganhou, mesmo quando não precisava jogar? Talvez porque a próxima vitória já não fosse tão certa assim.
"Bridges to Babylon" está longe de ser uma revolução no som dos Rolling Stones, mas mostra que a turma sentiu-se obrigada a fazer alguma coisa nova.
Que ninguém espere encontrar essa novidade logo na primeira faixa, "Flip the Switch", um rock básico como outros parecidos encontrados em muitos álbuns anteriores. Competente? Sem dúvida, mas muito igual ao que já foi feito no passado.
"Anybody Seen My Baby" -primeira das três faixas com a colaboração dos Dust Brothers na produção- é outra história.
Apostando numa melodia fácil e num baixo contagiante, a banda conseguiu fazer do primeiro single do disco uma agradável surpresa: uma linda balada para ouvir na pista de dança.
"Low Down", um rock sem muita graça, e "Already Over Me", uma balada acústica simples, sem novidades, mantêm a idéia de jogar apenas para segurar o resultado.
Já em "Gunface" é possível perceber ousadias na guitarra e na bateria. Charlie Watts, aliás, até que tenta criar algo diferente no disco, principalmente nesta bem arranjada faixa, fugindo um pouco de sua batida tradicional.
A impressão de o disco ter mudado de banda vem com "You Don't Have to Mean It", uma canção com um toque caribenho, mas sem muita graça.
Em "Out of Control", o grupo encontra um bom momento, numa balada que se transforma num rock de bastante força.
"Saint of Me", outra produzida pelos Dust Brothers, vale novamente pela tentativa (nem sempre com sucesso) de Charlie Watts de sair do seu convencional, buscando uma batida nova.
O "novo" Stones patrocina o maior salto em "Might as Well Get Juiced", a terceira produção dos Brothers, com batida eletrônica e sintetizadores.
Não é uma música ruim, mas, assinada com a grife Rolling Stones, soa de forma estranha.
Depois de outra balada, "Always Suffering", finalmente aparece um rock digno do nome da banda, "Too Tight", aquela música que o fã de carteirinha esperava ouvir.
"Thief in The Night" é outra canção lenta que apenas prepara para a última faixa, "How Can I Stop", cantada por Richards, com um arranjo típico de grupos de soul. Um final à altura dos melhores momentos do grupo.
Keith Richards disse que "Bridges to Babylon" não foi pensado para ser um disco qualquer. Talvez por isso possa não agradar muitos fãs. Falta, digamos, um pouco mais de rock & roll.
Mas os Rolling Stones decidiram arriscar. Mudaram um pouco a forma de jogar e estão com uma ambiciosa turnê, cujo site na Internet até permite votar em uma música para ser tocada nos shows.
A aposentadoria deverá sair em breve, tenham certeza, mas até lá ainda vale a pena ouvi-los, mesmo com algumas pisadas na bola.



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