São Paulo, terça, 29 de setembro de 1998

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TELEVISÃO
TV Cultura exibe hoje o vídeo "Poesia é Risco"

CARLOS ADRIANO
especial para a Folha

Se a TV é mesmo um eletrodoméstico que despeja no aconchego do lar a espetacularização da barbárie e da vulgaridade, não pode haver polarização maior do que aquela entre televisão e poesia.
A poesia, arte da concentração de sutilezas e complexidades, provoca um curto-circuito no tubo catódico. Em termos de teoria da comunicação, seria um ruído de imprevista voltagem de invenção no fluxo mesmerizante e boçalizador.
Hoje transmite-se uma contraprova, demonstrando que esses meios aparentemente excludentes podem até conviver em choques heterodoxos.
O título do vídeo já estampa seu manifesto: "Poesia é Risco". Trata-se da obra intermídia de Augusto de Campos, Walter Silveira e Cid Campos, que, por sua vez, é baseada no CD homônimo lançado por Augusto e Cid em 1996.
O CD originou a apresentação e o vídeo, reunindo poemas e oralizações de Augusto, músicas e arranjos de Cid e direção e videoarte de Walter. O programa parte de material gravado em São Paulo há dois anos.
Já exibida em Yale e Amsterdã, a performance dos artistas será levada em outubro ao Fla/Bra (Festival Flórida/Brasil), em Miami, e ,em novembro, à 1ª Bienal Internacional de Poesia em Belo Horizonte.
"Poesia é Risco" contém trabalhos de Augusto de Campos realizados durante seus mais de 40 anos dedicados à poesia. É um privilégio ver a imagem do poeta conjugando o verbo de autor em pessoal dicção.
Não se trata de mero registro da apresentação. O material ao vivo serve de base, expandido pela manipulação e a edição de vídeo. Potencializando as interfaces já presentes no projeto, o especial de TV traz diálogos intertextuais entre texturas, ao fundir animações e intervenções no percurso da performance.
Combina a gravação dos poemas ao vivo com a tradução dos poemas para o vídeo ("Tvgrama 1", por exemplo, é um emblema, ao configurar Mallarmé nos pixels difusos da rasura televisual). Na apresentação, os videopoemas projetavam-se numa tela do palco. Na televisão, os poemas projetam-se daquela tela para a fusão com as imagens-matriz em primeiro plano.
Os criadores propõem uma arte de correspondências, em que diferentes instâncias de expressão buscam o sentido plural e entram em fase -sincrônica ou contrapontística-, inconformadas por não caberem em seu suporte prévio.
Assistir a "Poesia é Risco" no vídeo sugere a poesia como um oásis em meio ao mar de mediocridade que inunda os aparelhos de televisão e nos afoga com a tabula rasa dos índices de audiência.


Vídeo: Poesia é Risco
Autores: Augusto de Campos, Walter Silveira, Cid Campos
Onde: TV Cultura
Quando: Hoje, às 23h30




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