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TELEVISÃO
TV Cultura exibe hoje o vídeo "Poesia é Risco"
CARLOS ADRIANO
especial para a Folha
Se a TV é mesmo um eletrodoméstico que despeja no aconchego
do lar a espetacularização da barbárie e da vulgaridade, não pode
haver polarização maior do que
aquela entre televisão e poesia.
A poesia, arte da concentração
de sutilezas e complexidades, provoca um curto-circuito no tubo
catódico. Em termos de teoria da
comunicação, seria um ruído de
imprevista voltagem de invenção
no fluxo mesmerizante e boçalizador.
Hoje transmite-se uma contraprova, demonstrando que esses
meios aparentemente excludentes
podem até conviver em choques
heterodoxos.
O título do vídeo já estampa seu
manifesto: "Poesia é Risco". Trata-se da obra intermídia de Augusto de Campos, Walter Silveira
e Cid Campos, que, por sua vez, é
baseada no CD homônimo lançado por Augusto e Cid em 1996.
O CD originou a apresentação e
o vídeo, reunindo poemas e oralizações de Augusto, músicas e arranjos de Cid e direção e videoarte
de Walter. O programa parte de
material gravado em São Paulo há
dois anos.
Já exibida em Yale e Amsterdã, a
performance dos artistas será levada em outubro ao Fla/Bra (Festival Flórida/Brasil), em Miami, e
,em novembro, à 1ª Bienal Internacional de Poesia em Belo Horizonte.
"Poesia é Risco" contém trabalhos de Augusto de Campos realizados durante seus mais de 40
anos dedicados à poesia. É um privilégio ver a imagem do poeta
conjugando o verbo de autor em
pessoal dicção.
Não se trata de mero registro da
apresentação. O material ao vivo
serve de base, expandido pela manipulação e a edição de vídeo. Potencializando as interfaces já presentes no projeto, o especial de TV
traz diálogos intertextuais entre
texturas, ao fundir animações e
intervenções no percurso da performance.
Combina a gravação dos poemas
ao vivo com a tradução dos poemas para o vídeo ("Tvgrama 1",
por exemplo, é um emblema, ao
configurar Mallarmé nos pixels
difusos da rasura televisual). Na
apresentação, os videopoemas
projetavam-se numa tela do palco.
Na televisão, os poemas projetam-se daquela tela para a fusão
com as imagens-matriz em primeiro plano.
Os criadores propõem uma arte
de correspondências, em que diferentes instâncias de expressão
buscam o sentido plural e entram
em fase -sincrônica ou contrapontística-, inconformadas por
não caberem em seu suporte prévio.
Assistir a "Poesia é Risco" no
vídeo sugere a poesia como um
oásis em meio ao mar de mediocridade que inunda os aparelhos
de televisão e nos afoga com a tabula rasa dos índices de audiência.
Vídeo: Poesia é Risco
Autores: Augusto de Campos, Walter
Silveira, Cid Campos
Onde: TV Cultura
Quando: Hoje, às 23h30
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