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CINEMA - ESTRÉIAS
"Clube da Luta" bate forte e acerta na alma
da Reportagem Local
A mídia já colocou o carimbo: a
"Laranja Mecânica" dos anos 90.
Pode até ser. Mas "Clube da Luta"
é bem mais do que isso. É um filme inventivo, perturbador, realmente subversivo e, o que é melhor, um espetáculo cinematográfico delirante e genial.
David Fincher não tem medo de
acelerar fundo. Em "Seven" e "Vidas em Jogo", seus filmes anteriores, o cineasta não pisou no freio.
Matou a mocinha no primeiro e
deu um nó na cabeça do espectador no segundo. Agora, mais uma
vez, Fincher bate forte.
E fica um pouco mais fácil fazer
isso tendo nas mãos o devastador
romance de Chuck Palahniuk,
um mecânico com mania de malhação que jamais esperava ter
tanta repercussão e receber tanto
dinheiro por seu primeiro livro.
Enquanto "Laranja Mecânica"
mostrava a violência física como
um estado que a juventude inglesa teria alcançado num futuro não
muito distante, "Clube da Luta" é,
em essência, mais subversivo.
Agora, a confrontação física e o
terrorismo são objetivos traçados
pelos personagens. O único "fator
externo" que leva a moçada a uma
espiral de violência é a falta de
perspectivas. Todo o trabalho de
Palahniuk e Fincher é mostrar
que isso é o bastante para a barbárie zen que é estabelecida.
O personagem de Edward Norton conduz a narrativa. Com um
emprego chato, sem ambições e,
pior, sem apartamento, destruído
num incêndio, ele vai morar com
o esquisitão Tyler (Brad Pitt),
vendedor de sabonetes e garçom
com um baú de discursos prontos
contra a sociedade de consumo e
a falta de desafios reais para o homem moderno.
O novo amigo de Tyler vem de
um período conturbado, em que
combatia uma insônia impiedosa
com visitas a grupos de pacientes
terminais. Morar com Tyler não
ajuda em nada, só piora a bagunça mental do rapaz, que também é
assediado por uma doida de pedra, Marla (Helena Bonham Carter), que conheceu nas tétricas
reuniões com os doentes.
Tyler convence o amigo a trocar
socos e pontapés como forma de
libertação. Nasce o interesse de
estranhos que acompanham as
longas sessões de pancadaria que
os dois amigos protagonizam.
Quando mais homens querem
também começar a brigar, Tyler
forma então o Clube da Luta.
Aos poucos, entre muitos hematomas, cortes e ossos quebrados, o clube secreto vai invadindo
a sociedade. Em todos os lugares,
gente de olho roxo descobre um
novo sentido para a vida: socar e
apanhar. Quanto aos dois fundadores do clube, um inevitável
confronto começa a nascer.
"Clube da Luta" consegue ser,
ao mesmo tempo, empolgante e
incômodo. Todo o sangue que espirra pela tela quer pintar a cena
de falência do macho no cenário
atual. Sem poder provar sua condição de provedor do lar ou de reprodutor da espécie, sem uma
guerra para lutar, sem causas para
defender, só resta a pancadaria.
O filme vai permanecer por um
bom tempo na cabeça dos que assistirem essa sinfonia de imagens
violentas em ritmo pop. Brad Pitt
e Edward Norton têm duas interpretações viscerais, imperdíveis.
"Clube da Luta" é uma rara prova de que o cinema ainda pode
chacoalhar corações e mentes.
(THALES DE MENEZES)
Avaliação:
Filme: Clube da Luta (Fight Club)
Produção: EUA, 1999
Diretor: David Fincher
Com: Brad Pitt, Edward Norton
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte 1, Interlagos 1, Metrô Tatuapé 2,
West Plaza 2, Eldorado 1 e circuito
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