São Paulo, Sexta-feira, 29 de Outubro de 1999
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CINEMA - ESTRÉIAS
"Clube da Luta" bate forte e acerta na alma

da Reportagem Local

A mídia já colocou o carimbo: a "Laranja Mecânica" dos anos 90. Pode até ser. Mas "Clube da Luta" é bem mais do que isso. É um filme inventivo, perturbador, realmente subversivo e, o que é melhor, um espetáculo cinematográfico delirante e genial.
David Fincher não tem medo de acelerar fundo. Em "Seven" e "Vidas em Jogo", seus filmes anteriores, o cineasta não pisou no freio. Matou a mocinha no primeiro e deu um nó na cabeça do espectador no segundo. Agora, mais uma vez, Fincher bate forte.
E fica um pouco mais fácil fazer isso tendo nas mãos o devastador romance de Chuck Palahniuk, um mecânico com mania de malhação que jamais esperava ter tanta repercussão e receber tanto dinheiro por seu primeiro livro.
Enquanto "Laranja Mecânica" mostrava a violência física como um estado que a juventude inglesa teria alcançado num futuro não muito distante, "Clube da Luta" é, em essência, mais subversivo. Agora, a confrontação física e o terrorismo são objetivos traçados pelos personagens. O único "fator externo" que leva a moçada a uma espiral de violência é a falta de perspectivas. Todo o trabalho de Palahniuk e Fincher é mostrar que isso é o bastante para a barbárie zen que é estabelecida.
O personagem de Edward Norton conduz a narrativa. Com um emprego chato, sem ambições e, pior, sem apartamento, destruído num incêndio, ele vai morar com o esquisitão Tyler (Brad Pitt), vendedor de sabonetes e garçom com um baú de discursos prontos contra a sociedade de consumo e a falta de desafios reais para o homem moderno.
O novo amigo de Tyler vem de um período conturbado, em que combatia uma insônia impiedosa com visitas a grupos de pacientes terminais. Morar com Tyler não ajuda em nada, só piora a bagunça mental do rapaz, que também é assediado por uma doida de pedra, Marla (Helena Bonham Carter), que conheceu nas tétricas reuniões com os doentes.
Tyler convence o amigo a trocar socos e pontapés como forma de libertação. Nasce o interesse de estranhos que acompanham as longas sessões de pancadaria que os dois amigos protagonizam. Quando mais homens querem também começar a brigar, Tyler forma então o Clube da Luta.
Aos poucos, entre muitos hematomas, cortes e ossos quebrados, o clube secreto vai invadindo a sociedade. Em todos os lugares, gente de olho roxo descobre um novo sentido para a vida: socar e apanhar. Quanto aos dois fundadores do clube, um inevitável confronto começa a nascer.
"Clube da Luta" consegue ser, ao mesmo tempo, empolgante e incômodo. Todo o sangue que espirra pela tela quer pintar a cena de falência do macho no cenário atual. Sem poder provar sua condição de provedor do lar ou de reprodutor da espécie, sem uma guerra para lutar, sem causas para defender, só resta a pancadaria.
O filme vai permanecer por um bom tempo na cabeça dos que assistirem essa sinfonia de imagens violentas em ritmo pop. Brad Pitt e Edward Norton têm duas interpretações viscerais, imperdíveis.
"Clube da Luta" é uma rara prova de que o cinema ainda pode chacoalhar corações e mentes. (THALES DE MENEZES)


Avaliação:    

Filme: Clube da Luta (Fight Club) Produção: EUA, 1999 Diretor: David Fincher Com: Brad Pitt, Edward Norton Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte 1, Interlagos 1, Metrô Tatuapé 2, West Plaza 2, Eldorado 1 e circuito

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