São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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LIVROS

Cerca de 2 milhões são esperados na 50ª Feira de Porto Alegre, que homenageia Alemanha e Bahia nesta edição

Festa gaúcha chega a "jubileu de ouro" maior e estrangeira

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Vão estar ministros, o governador e prefeitos, mas o evento mais tradicional do livro no Brasil só começa quando o xerife mandar. Rechonchudo, cabelos brancos, olhos pequenos e claros, 73 anos, Julio Laporta é o xerife e é com o badalar de um sino que ele abre no início da noite de hoje a Feira do Livro de Porto Alegre.
Não é a primeira, a segunda, nem a trigésima vez que este gaúcho, dono de banca de jornal, faz este ritual. Mas desta vez o xerife está mais apreensivo. Neste ano a festa literária porto-alegrense chega a sua 50ª edição, seu "jubileu de ouro", como dizem os organizadores da feira.
A história começou cinco décadas atrás. Naquele tempo não havia o xerife, mas um general. A primeira Feira do Livro de Porto Alegre era: 14 barraquinhas de livreiros em torno da estátua do general Osório, no meio da praça da Alfândega, coração da capital do Rio Grande do Sul.
A praça é a mesma, o general continua montado em seu cavalo de bronze, mas o número de barracas multiplicou-se. Em sua 50ª edição, o evento terá 124 barracas, em uma área que pela primeira vez transborda para o outro lado de uma das ruas, a Siqueira Campos, e chega a 11 mil m 2, números grandes que sombreiam outros maiores.
Porto Alegre tem pouco mais de 1,4 milhão de habitantes. A polícia gaúcha estimou o público da edição passada da feira em 1,8 milhão de pessoas. Waldir da Silveira, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, organizadora do evento, tem o misterioso "xis" desta equação: o interior. "Quase 40% do público vem de fora da cidade", calcula. Ele estima que, por ter um dia a mais e área 1.400 m2 maior, a feira deva chegar neste ano aos 2 milhões de visitantes.
"A feira escapou de nossas mãos. Ainda bem. Somos hoje aglutinadores e estimuladores de um evento que toma mais do que toda a cidade", expressa o paranaense, que passou por São Paulo antes de se radicar em Porto Alegre. Seu "estrangeirismo" não é tecnicamente o único. O patrono do evento deste ano também veio de outra parte do Sul.
O originalmente catarinense Donaldo Schüler, escritor, professor de teoria literária e de grego e tradutor de uma das obras mais intraduzíveis do mundo, "Finnegans Wake", de James Joyce, é o homenageado.
Uma química exótica cerca os outros festejados pela feira, que todos os anos brinda a um país e a um Estado. Alemanha e Bahia são as bolas da vez, acarajé com chucrute. Assim, a festa de hoje terá, além das autoridades (e do xerife), apresentação do Olodum e o hino alemão.
Da Alemanha vem também um dos convidados principais da feira, o jornalista Günter Wallraff ("Cabeça de Turco"), que divide atenções com o escritor argentino Tomás Eloy Martinez, com o colombiano Efraim Medina Reyes e com outros mais de 200 autores, com predomínio dos locais, como Luis Fernando Verissimo, Lya Luft e o colunista da Folha Moacyr Scliar.
Além das mais de 600 sessões de autógrafos, em parte dos 500 mil exemplares projetados de venda, eles participam de oficinas e mesas-redondas, que ocupam também cinco prédios na praça.
A festa termina só no dia 15 de novembro. Como? Bah, tchê, com o badalar do sino do xerife.


O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite da Câmara Brasileira do Livro


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