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LIVROS
Cerca de 2 milhões são esperados na 50ª Feira de Porto Alegre, que homenageia Alemanha e Bahia nesta edição
Festa gaúcha chega a "jubileu de ouro" maior e estrangeira
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Vão estar ministros, o governador e prefeitos, mas o evento mais
tradicional do livro no Brasil só
começa quando o xerife mandar.
Rechonchudo, cabelos brancos,
olhos pequenos e claros, 73 anos,
Julio Laporta é o xerife e é com o
badalar de um sino que ele abre
no início da noite de hoje a Feira
do Livro de Porto Alegre.
Não é a primeira, a segunda,
nem a trigésima vez que este gaúcho, dono de banca de jornal, faz
este ritual. Mas desta vez o xerife
está mais apreensivo. Neste ano a
festa literária porto-alegrense
chega a sua 50ª edição, seu "jubileu de ouro", como dizem os organizadores da feira.
A história começou cinco décadas atrás. Naquele tempo não havia o xerife, mas um general. A
primeira Feira do Livro de Porto
Alegre era: 14 barraquinhas de livreiros em torno da estátua do general Osório, no meio da praça da
Alfândega, coração da capital do
Rio Grande do Sul.
A praça é a mesma, o general
continua montado em seu cavalo
de bronze, mas o número de barracas multiplicou-se. Em sua 50ª
edição, o evento terá 124 barracas,
em uma área que pela primeira
vez transborda para o outro lado
de uma das ruas, a Siqueira Campos, e chega a 11 mil m 2, números
grandes que sombreiam outros
maiores.
Porto Alegre tem pouco mais de
1,4 milhão de habitantes. A polícia
gaúcha estimou o público da edição passada da feira em 1,8 milhão
de pessoas. Waldir da Silveira,
presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, organizadora do
evento, tem o misterioso "xis"
desta equação: o interior. "Quase
40% do público vem de fora da cidade", calcula. Ele estima que, por
ter um dia a mais e área 1.400 m2
maior, a feira deva chegar neste
ano aos 2 milhões de visitantes.
"A feira escapou de nossas
mãos. Ainda bem. Somos hoje
aglutinadores e estimuladores de
um evento que toma mais do que
toda a cidade", expressa o paranaense, que passou por São Paulo
antes de se radicar em Porto Alegre. Seu "estrangeirismo" não é
tecnicamente o único. O patrono
do evento deste ano também veio
de outra parte do Sul.
O originalmente catarinense
Donaldo Schüler, escritor, professor de teoria literária e de grego e
tradutor de uma das obras mais
intraduzíveis do mundo, "Finnegans Wake", de James Joyce, é o
homenageado.
Uma química exótica cerca os
outros festejados pela feira, que
todos os anos brinda a um país e a
um Estado. Alemanha e Bahia são
as bolas da vez, acarajé com chucrute. Assim, a festa de hoje terá,
além das autoridades (e do xerife), apresentação do Olodum e o
hino alemão.
Da Alemanha vem também um
dos convidados principais da feira, o jornalista Günter Wallraff
("Cabeça de Turco"), que divide
atenções com o escritor argentino
Tomás Eloy Martinez, com o colombiano Efraim Medina Reyes e
com outros mais de 200 autores,
com predomínio dos locais, como
Luis Fernando Verissimo, Lya
Luft e o colunista da Folha
Moacyr Scliar.
Além das mais de 600 sessões de
autógrafos, em parte dos 500 mil
exemplares projetados de venda,
eles participam de oficinas e mesas-redondas, que ocupam também cinco prédios na praça.
A festa termina só no dia 15 de
novembro. Como? Bah, tchê, com
o badalar do sino do xerife.
O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite da Câmara Brasileira do Livro
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