São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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Produções discutem mulheres no futebol

Preconceito e autoestima contrapõem documentários exibidos pelo GNT

"Deixa que Eu Chuto" traz o futebol femino no Brasil e "Driblando Obstáculos" mostra esporte como valorização para afegãs

MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Você já imaginou? Seu filho chega em casa com uma menina e a apresenta como namorada. Daí, você pergunta o que é que ela faz, e ela responde: "Sou zagueira do Bangu". Pega mal, vocês não acham?", repetia João Saldanha, técnico que classificou a seleção à Copa de 70, a todos que ousavam defender as mulheres nos gramados.
Décadas depois de Saldanha celebrizar seu raciocínio intrinsecamente machista no meio futebolístico, uma nova geração de jogadoras ainda se depara com o preconceito.
O esporte, segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, tem sido um espaço de reafirmação de dominações na sociedade, tal qual a dos homens sobre as mulheres. A tentativa de ultrapassar essas barreiras invisíveis impostas à prática do futebol por mulheres é tema de dois documentários do GNT.
A produção brasileira "Deixa que Eu Chuto", que vai ao ar hoje às 21h, foca a história de quatro jogadoras de futebol no Brasil. Os relatos delas servem de pano de fundo para um panorama da situação do dito futebol feminino no país. Falta de patrocínio, de investimento e de interesse da mídia são alguns dos lugares-comuns nas declarações das jogadoras e na narração do documentário.
O filme, no entanto, acerta ao dar atenção à questão do preconceito, relembrando o decreto-lei nº 3.199, de 1941, que lança uma luz sobre a forma com que a prática desportiva por mulheres no Brasil foi e ainda pode ser encarada por alguns.
Segundo o artigo 54 do texto: "Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza".
O decreto-lei só foi revogado em 1980. Mas as raízes da discriminação permanecem. Mais contundente, o documentário "Driblando Obstáculos - O Futebol Feminino no Afeganistão", que vai ao ar amanhã, mostra o esporte bretão como fator de aumento da autoestima e de inserção social das adolescentes afegãs.
No documentário, a saga de uma equipe feminina afegã rumo à disputa do primeiro campeonato fora de seu país serve de pano de fundo para contar os maus-tratos a que as mulheres foram submetidas pelos talebãs. Imagens fortes de mulheres sendo espancadas e executadas marcam o filme.
Mas, ao fim, a mensagem é positiva. Escondidas sob burcas durante anos, elas celebram a ainda incipiente libertação feminina com as bolas nos pés.


DEIXA QUE EU CHUTO

Quando: estreia hoje, às 21h; livre

DRIBLANDO OBSTÁCULOS - O FUTEBOL FEMININO NO AFEGANISTÃO

Quando: estreia amanhã, às 21h; 14 anos
Onde: GNT (ambos os documentários)




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