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Produções discutem mulheres no futebol
Preconceito e autoestima contrapõem documentários exibidos pelo GNT
"Deixa que Eu Chuto" traz o futebol femino no Brasil e "Driblando Obstáculos" mostra esporte como valorização para afegãs
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Você já imaginou? Seu filho
chega em casa com uma menina e a apresenta como namorada. Daí, você pergunta o que é
que ela faz, e ela responde: "Sou
zagueira do Bangu". Pega mal,
vocês não acham?", repetia
João Saldanha, técnico que
classificou a seleção à Copa de
70, a todos que ousavam defender as mulheres nos gramados.
Décadas depois de Saldanha
celebrizar seu raciocínio intrinsecamente machista no
meio futebolístico, uma nova
geração de jogadoras ainda se
depara com o preconceito.
O esporte, segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, tem sido
um espaço de reafirmação de
dominações na sociedade, tal
qual a dos homens sobre as mulheres. A tentativa de ultrapassar essas barreiras invisíveis
impostas à prática do futebol
por mulheres é tema de dois
documentários do GNT.
A produção brasileira "Deixa
que Eu Chuto", que vai ao ar
hoje às 21h, foca a história de
quatro jogadoras de futebol no
Brasil. Os relatos delas servem
de pano de fundo para um panorama da situação do dito futebol feminino no país.
Falta de patrocínio, de investimento e de interesse da mídia
são alguns dos lugares-comuns
nas declarações das jogadoras e
na narração do documentário.
O filme, no entanto, acerta ao
dar atenção à questão do preconceito, relembrando o decreto-lei nº 3.199, de 1941, que lança uma luz sobre a forma com
que a prática desportiva por
mulheres no Brasil foi e ainda
pode ser encarada por alguns.
Segundo o artigo 54 do texto:
"Às mulheres não se permitirá
a prática de desportos incompatíveis com as condições de
sua natureza".
O decreto-lei só foi revogado
em 1980. Mas as raízes da discriminação permanecem.
Mais contundente, o documentário "Driblando Obstáculos - O Futebol Feminino no
Afeganistão", que vai ao ar
amanhã, mostra o esporte bretão como fator de aumento da
autoestima e de inserção social
das adolescentes afegãs.
No documentário, a saga de
uma equipe feminina afegã rumo à disputa do primeiro campeonato fora de seu país serve
de pano de fundo para contar
os maus-tratos a que as mulheres foram submetidas pelos talebãs. Imagens fortes de mulheres sendo espancadas e executadas marcam o filme.
Mas, ao fim, a mensagem é
positiva. Escondidas sob burcas durante anos, elas celebram
a ainda incipiente libertação feminina com as bolas nos pés.
DEIXA QUE EU CHUTO
Quando: estreia hoje, às 21h; livre
DRIBLANDO OBSTÁCULOS - O FUTEBOL FEMININO NO AFEGANISTÃO
Quando: estreia amanhã, às 21h; 14 anos
Onde: GNT (ambos os documentários)
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