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"Forma rara e desconhecida de amor"
da Reportagem Local
O ensaio já vai pelo meio quando
Zé Celso reclama da ausência da
trilha sonora. Da cabine, responde
Cibele Forjaz, que dirige o som e a
luz: "É que a mesa é nova, a gente
apertou um botão errado e desgravou o primeiro ato inteiro, mas vai
dar tudo certo".
Na cena, abraçadas, a mãe Alzira
e as três irmãs (Cacilda, Dirce e
Cleyde Yáconis) falam a uma voz,
como num presságio: "Vocês vão
ver uma forma rara e desconhecida de amor".
Pouco depois, Bete Coelho se
desfaz em lágrimas nos ombros de
Marcelo Drummond e de Zé Celso.
As luzes se apagam: "Eu não
aguento mais, está muito difícil".
Giulia Gam desce do segundo andar, se aproxima: "Eu sou o problema", murmura, aludindo a dificuldades, agora aparentemente superadas, para cumprir o cronograma de ensaios. É o sinal para Bete
explodir: "O problema não é seu, é
meu. Eu também tenho problema.
Que coisa! Eu aguentei por dois
meses. Deixe agora eu ter os meus
problemas. Pare com isso!".
Vira-se para os cabeças do Oficina: "Não posso não acreditar em
vocês. As pessoas precisam ter palavra". Volta-se para Giulia: "Você
se segura!", e sai pela porta do teatro, rua afora. Todos estão paralisados, no "palco-passarela", nas
arquibancadas, nos camarins e cabines. Zé Celso fica ali, olhando para o vazio, ofegante.
Passa um pouco, alguns comentam baixinho, ele começa a chamar os outros. O ensaio é retomado, o diretor querendo fazer como
aqueles jogadores de tênis que repetem o golpe até acertar, para espantar da consciência a imagem
do fracasso.
Os atores bombeiam energias
inexistentes. Faz, pára, corrige, repete. Uma outra atriz marca o papel da heroína: no chicote, o pai de
Cacilda impõe à família a mudança
de Pirassununga para São Paulo.
Ajoelhadas, mãe Alzira e irmãs
rogam praga para o pai, mas é como se as atrizes (Ligia Cortez, Mika Lins e Iara Jamra), o grupo fechado em torno de Cacilda-Bete,
amaldiçoassem o diretor: "Tomara que ele morra, tomara que ele
morra, tomara que ele morra".
Mesmo ausente, o fantasma de
Cacilda-Bete comanda as falas da
atriz que a substitui: "Este foi o ano
mais importante da minha vida",
diz, como se pesasse os seis meses
de ensaios extenuantes pelo choque de culturas, de personalidades
e os embates com a extrema escassez de recursos.
Uma hora depois, atravessado o
vale de lágrimas, o ensaio embala,
a cena se divide. O foco sai das irmãs Becker Yáconis. Quando retorna, ouvem-se palmas, alguns
choram, outros gritam. É Bete que
está de volta a seu papel, no meio
da cena, sem avisar. Na sequência
das falas do ensaio, vem o hino:
"Graças dou, sim, pela vida, pelo
bem que revelou. Graças dou pelo
futuro e por tudo que passou. Pela
benção derramada, pelo amor em
comunhão".
O trabalho prossegue. Zé Celso
pede mais.
(MVS)
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