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RELÂMPAGOS
Banho na
claridade
JOÃO GILBERTO NOLL
À noite ele saia pelas ruas
sem algo exato a fazer. Ao
acordar, não se lembrava de
nada. Precisava de um banho, tirar o cheiro de pele,
disfarçar a ausência de sua
história mais recente e voltar a ser uma pessoa entre as
outras, deixando-se ver na
claridade, respondendo,
perguntando. "Onde estarei
depois de morto?" A pergunta arrebentou no núcleo
de sua demência. Comprou
seu próprio caixão. Quando
abriram o esquife, à beira da
cova, não precisou dos
olhos para ver a filha grávida, olhando-o pela última
vez. A filha distendeu as pálpebras como se tentasse fixar as feições dele para sempre.
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