São Paulo, quinta, 29 de outubro de 1998

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MOSTRA DE SÃO PAULO
Filme celebra Rodrigues

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O longa de episódios "Traição", de Arthur Fontes, Claudio Torres e José Henrique Fonseca, conquistou uma penca de prêmios no recente 31º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, entre eles o de direção e o do público.
Foi o filme que mais agitou a platéia, provocando ondas de risos e aplausos durante a projeção.
A receita para o sucesso foi simples: tomar histórias do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues envolvendo triângulos amorosos (da série "A Vida como Ela É") e encená-las de acordo com o gosto de cada um de seus jovens diretores, todos sócios da produtora carioca Conspiração Filmes.
Arthur Fontes optou pela comédia de costumes em "O Primeiro Pecado": na década de 50, um jovem nervosinho e inexperiente (interpretado por Pedro Cardoso) é seduzido por uma fogosa mulher casada (Fernanda Torres).
Sua performance será acompanhada à distância pelos amigos do bar. Poucas vezes a cultura machista carioca e brasileira foi captada com tanta graça.
No segundo -e melhor- dos episódios, "Diabólica", o diretor Claudio Torres (filho de Fernanda Montenegro e Fernando Torres) optou por realçar o fantástico do universo rodrigueano.
É numa atmosfera de terror gótico que o bom moço Geraldo (Daniel Dantas) é seduzido pela cunhadinha adolescente (Ludmila Dayer, premiada como atriz coadjuvante em Brasília) às vésperas de seu casamento. A história se passa nos anos 60.
Da fotografia quase expressionista de Breno Silveira à interpretação exuberante de Fernanda Montenegro, o segmento é puro Nelson Rodrigues, sobretudo na magnífica cena final, em que se confundem o trágico e o grotesco.
Até Francisco Cuoco está ótimo, no papel de delegado. Ganhou também um Candango de coadjuvante em Brasília.
O último segmento, "Cachorro!", roteirizado por Patricia Melo e dirigido por José Henrique Fonseca (filho de Rubem Fonseca), envereda pelo brutalismo, dando tons hiper-realistas à violência contida na obra. Como a história se passa nos dias de hoje, tudo é mais explícito, tarantinesco.
Mas há momentos de fino teatro do absurdo nesse "huis clos" em que um jovem (Alexandre Borges) flagra a mulher (Drica Moraes) num quarto de hotel com o melhor amigo (José Henrique Fonseca).
No conjunto, um filme animador: divertido, inteligente e competente como poucos.
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Filme: Traição Produção: Brasil, 1998
Direção: Arthur Fontes, Claudio Torres e José Henrique Fonseca Com: Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Paulo Cardoso, Daniel Dantas, Alexandre Borges, entre outros Quando: hoje, às 20h, no Espaço Unibanco

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