|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOSTRA DE SÃO PAULO
Filme celebra Rodrigues
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O longa de episódios "Traição",
de Arthur Fontes, Claudio Torres e
José Henrique Fonseca, conquistou uma penca de prêmios no recente 31º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, entre eles o de direção e o do público.
Foi o filme que mais agitou a platéia, provocando ondas de risos e
aplausos durante a projeção.
A receita para o sucesso foi simples: tomar histórias do escritor e
dramaturgo Nelson Rodrigues envolvendo triângulos amorosos (da
série "A Vida como Ela É") e encená-las de acordo com o gosto de
cada um de seus jovens diretores,
todos sócios da produtora carioca
Conspiração Filmes.
Arthur Fontes optou pela comédia de costumes em "O Primeiro
Pecado": na década de 50, um jovem nervosinho e inexperiente
(interpretado por Pedro Cardoso)
é seduzido por uma fogosa mulher
casada (Fernanda Torres).
Sua performance será acompanhada à distância pelos amigos do
bar. Poucas vezes a cultura machista carioca e brasileira foi captada com tanta graça.
No segundo -e melhor- dos
episódios, "Diabólica", o diretor
Claudio Torres (filho de Fernanda
Montenegro e Fernando Torres)
optou por realçar o fantástico do
universo rodrigueano.
É numa atmosfera de terror gótico que o bom moço Geraldo (Daniel Dantas) é seduzido pela cunhadinha adolescente (Ludmila
Dayer, premiada como atriz coadjuvante em Brasília) às vésperas de
seu casamento. A história se passa
nos anos 60.
Da fotografia quase expressionista de Breno Silveira à interpretação exuberante de Fernanda
Montenegro, o segmento é puro
Nelson Rodrigues, sobretudo na
magnífica cena final, em que se
confundem o trágico e o grotesco.
Até Francisco Cuoco está ótimo,
no papel de delegado. Ganhou
também um Candango de coadjuvante em Brasília.
O último segmento, "Cachorro!", roteirizado por Patricia Melo
e dirigido por José Henrique Fonseca (filho de Rubem Fonseca), envereda pelo brutalismo, dando
tons hiper-realistas à violência
contida na obra. Como a história
se passa nos dias de hoje, tudo é
mais explícito, tarantinesco.
Mas há momentos de fino teatro
do absurdo nesse "huis clos" em
que um jovem (Alexandre Borges)
flagra a mulher (Drica Moraes)
num quarto de hotel com o melhor
amigo (José Henrique Fonseca).
No conjunto, um filme animador: divertido, inteligente e competente como poucos.
²
Filme: Traição
Produção: Brasil, 1998
Direção: Arthur Fontes, Claudio Torres e
José Henrique Fonseca
Com: Fernanda Torres, Fernanda
Montenegro, Paulo Cardoso, Daniel Dantas,
Alexandre Borges, entre outros
Quando: hoje, às 20h, no Espaço Unibanco
1
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|