São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIAS

MARIE-JO E SEUS DOIS AMORES

Estréia no Brasil novo longa de Guédiguian

Filme aborda o amor em choque com as convenções

Divulgação
Os atores Ariane Ascaride e Gérard Meylan em cena de "Marie-Jo e seus Dois Amores", longa-metragem de Robert Guédiguian


DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu não tenho, como você, a sorte de amar um homem só", diz Marie-Jo à filha, uma adolescente apaixonada pelo namorado e indignada com a descoberta de que a mãe tem um amante.
O assunto de "Marie-Jo e seus Dois Amores", filme de Robert Guédiguian que estréia hoje, vai além da existência de dois homens na vida de uma mulher.
É um inventário dos afetos individuais -e de sua possibilidade de sobrevivência no mundo das convenções sociais- o que pretende o cineasta franco-romeno, conhecido no Brasil pelos anteriores "Marius e Jeannette" e "A Cidade Está Tranquila".
A atriz Ariane Ascaride interpreta Marie-Jo. "Uma mulher com consciência de que vive um desequilíbrio, mas que decide levá-lo até o fim", diz. Seus dois amores são vividos por Jean-Pierre Darroussin (o marido Daniel) e Gérard Meylan (o amante Marco).
O trio de atores trabalha com o diretor há 20 anos, em todos os seus filmes. Ascaride é também a mulher de Guédiguian, mas recusa o rótulo de musa.

Cumplicidade
"Sou muito mais cúmplice desse homem com quem vivo e com quem divido meu trabalho. Musa é quem inspira. Eu não inspiro nada. Apenas dou vida a um personagem que ele inventou. Costumamos dizer que sou a consciência feminina de Guédiguian e que Gérard Meylan é sua consciência masculina", disse a atriz à Folha, em São Paulo, onde participou da pré-estréia do filme.
O diretor permaneceu na França, desenvolvendo o roteiro de seu próximo longa, sobre militância política.
"Os filmes de Guédiguian são como um diário íntimo. Ele fala de suas preocupações naquele momento. Como somos todos da mesma geração, temos as mesmas preocupações", diz Ascaride.
"Muito mais que interpretar um personagem, trabalhamos com ele para contar uma história que nos interessa. Não queremos realizar uma grande performance, mas tornar críveis personagens que existem no papel, fazê-los de carne e osso."

Preocupação social
No caso de "Marie-Jo e seus Dois Amores", classificado pela crítica como o menos político dos filmes do diretor, houve a preocupação de construir personagens de vida e atividades comuns. E isso é uma atitude política, que oferece o pano de fundo social para o romance, acredita Ascaride.
Marie-Jo é motorista de uma companhia de transporte hospitalar, seu marido é marceneiro e o amante, comandante de navio.
"Na idade em que está [48 anos], Guédiguian tem vontade de falar de preocupações individuais, mas não desarraigadas do real. Ao contrário, a pergunta é: quando chegamos à metade da vida e temos preocupações sociais, que tipo de angústias individuais podemos ter?", diz a atriz.
"Marie-Jo e seus Dois Amores" concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes, vencida por "O Pianista", de Roman Polanski. (SA)


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