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FOTOGRAFIA
Lançada hoje, coleção traz artistas contemporâneos em novo formato
FotoPortátil cria sanfona de imagens
TONI PIRES
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Sanfona lembra forró. "Forró", dizem, vem de "for all". E
a idéia era essa, publicar livros de
fotografia "para todos", principalmente "para todos os bolsos",
sem abrir mão da qualidade. Se
não foi possível fugir do "pocket
book", a Cosacnaify inovou o formato ao transformar em uma extensa e ilustrada sanfona os seis livrinhos da coleção FotoPortátil,
que tem hoje em São Paulo o lançamento de seus dois últimos volumes, dedicados a Eustáquio Neves e Raul Garcez.
"A preocupação em criar um
design diferente para o pocket era
que o formato não fosse uma camisa de força, mas, ao contrário,
que pudesse dar liberdade de edição", diz Elaine Ramos, responsável pela direção de arte da coleção.
O distende-comprime da sanfona é uma espécie de convite ao leitor para que brinque ele mesmo
com a edição das fotos. Funciona,
e a cada manuseio é possível fazer
uma leitura diferente, aumentando ou diminuindo as imagens.
O tom ensaístico conduz a coleção e valoriza a característica do
trabalho de cada um dos seis fotógrafos escolhidos. "A idéia não
era fazer um livro da vida do fotógrafo nem encadernar seu portifólio. A busca era pelo ensaio", diz
Eder Chiodetto, idealizador do
projeto e colaborador da Folha.
A coleção tenta resgatar a história da fotografia e, ao mesmo tempo, dar espaço a novos talentos
-nem propriamente novos, mas
pouco conhecidos no mercado
editorial. "Optamos por começar
pelo contemporâneo e depois vamos voltar e alinhavar a história
da fotografia, mas não necessariamente com uma ordem cronológica", afirma Chiodetto.
Olhares
A primeira série da coleção é
concluída pelos livros de Eustáquio Neves e Raul Garcez. Morto
em 1987, Garcez deixou para a fotografia o bom hábito do ensaio,
trabalho que muito discutiu no laboratório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, entre
os anos 70 e 80. Um de seus ensaios mais comentados é a série
de fotografias do Conjunto Habitacional Várzea do Carmo. Com
uma gentileza no olhar, os personagens mostram seu cotidiano,
seus cantos prediletos, suas famílias. Esse mundo captado por
Garcez é tão simples que chega a
ser perturbador, como um espelho de nossas angústias.
Eustáquio Neves, químico de
formação e inquieto por natureza,
nunca se rendeu ao único para
contar uma história e utiliza técnicas de colagem de diversos fotogramas para mostrar como enxerga a vida. Suas imagens não
contam nada descaradamente,
elas se insinuam em pequenas
histórias antes de se mostrarem
num grande final. A edição faz
nosso olhar dançar.
Augusto Massi, responsável pelo projeto editorial, conta que o
desejo de fazer um livro com preço acessível (R$ 29,50) não o impediu de sonhar em apresentar ao
mercado um livro de arte. E arte é
o que encontramos no trabalho
premiado de Antonio Saggese.
Sua obra nos chama a atenção
para os caminhos dos desejos.
Suas imagens mostram um adensamento de matéria, pedaços de
corpos congelados, dissecados ou
esmiuçados através do seu olhar
preciso. Os três primeiros livros
da coleção trazem o trabalho de
Luiz Braga, Cris Bierrenbach e
Rosângela Rennó.
Fotógrafo paraense, Braga tem
uma longa trajetória na fotografia, mas ainda não havia publicado seus trabalhos em livro. Bierrenbach trabalha com técnicas
antigas de reprodução e apresenta
uma leitura antropológica do corpo e de seus limites. Terceira a imprimir seus trabalhos no projeto,
Rennó já tem uma trajetória consolidada no mundo das artes e optou por publicar a série "Apagamentos", um registro de fotografias policiais que revelam cenários
de crimes e investigações.
Impossível "apagar" da lembrança obra tão forte. A primeira
série da FotoPortátil se encerra
com este olhar agudo para o mundo do ensaio, do romance visual
de Garcez. A promessa é que logo
outros nomes também tenham
suas imagens impressas. O formato vai continuar pequeno, mas
o "som" da sanfona pode, diz Chiodetto, se transformar.
Coleção FotoPortátil
Autor: vários
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 29,50 (cada livro)
Lançamento: hoje, às 19h30, no Itaú
Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1876)
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