São Paulo, segunda, 29 de dezembro de 1997.




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RESENHA
Um demônio exorcista

MAURÍCIO TUFFANI
Editor-assistente de Ciência

Exorcizar a matemática de seus demônios, isto é, de suas dificuldades com aparência demoníaca -para os leigos, é claro- tem sido um dos grandes desafios educacionais.
Hans Magnus Enzensberger, poeta e ensaísta nos temas de política e comunicação, tenta, com razoável sucesso, vencer esse desafio com seu livro "O Diabo dos Números".
A escolha do ambiente e dos personagens para a desmistificação proposta por Enzensberger não poderia ser mais metafórica. Nada de salas de aula: é em seus próprios pesadelos que o garoto Robert aprende a não temer a matemática.
Já que estamos em um pesadelo explícito, nada melhor que despir o mestre de seu ar humano e apresentá-lo como um demônio -justamente o que muitas crianças supõem estar por trás de seus professores da temida disciplina.
Uma vez explicitados o demônio e o seu inferno, parece não haver mais lugar para grandes temores. Sob a orientação de Teplotaxl, o "Diabo dos Números", Robert percorre esse caminho sem medo.
Não se trata, portanto, de um exorcismo, em que se expulsa o demônio, mas de um esforço para mostrar que o diabo e sua matemática não são tão terríveis quanto deles se fala.
Poderia se dizer que o autor comete alguns exageros na escolha dos temas das aulas-pesadelos.
Por que escolher neste final de século 20 justamente as sequências de Fibonacci, idealizadas no início do século 13 por Leonardo de Pisa, para resolver problemas algébricos associados à conversão de moedas?
Mas o autor não perde de vista seu objetivo de fazer com que o leitor perca seu medo da matemática. E, justamente por isso, certas escolhas aparentemente exóticas talvez sejam apropriadas.
Não se iluda, porém, o leitor preguiçoso. Matemática não é assunto para mentes displicentes. Embora seja compreensível para o leitor não especializado, o livro exige bastante atenção.
Enzensberger e seu demônio Teplotaxl ficam, no entanto, devendo algumas páginas para mostrar efetivamente que tudo em matemática é demonstrável. E não foi por falta de o sonhador Robert avisar.



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