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RESENHA
Um demônio exorcista
MAURÍCIO TUFFANI
Editor-assistente de Ciência
Exorcizar a matemática de
seus demônios, isto é, de suas
dificuldades com aparência demoníaca -para os leigos, é
claro- tem sido um dos grandes desafios educacionais.
Hans Magnus Enzensberger,
poeta e ensaísta nos temas de
política e comunicação, tenta,
com razoável sucesso, vencer
esse desafio com seu livro "O
Diabo dos Números".
A escolha do ambiente e dos
personagens para a desmistificação proposta por Enzensberger não poderia ser mais metafórica. Nada de salas de aula: é
em seus próprios pesadelos
que o garoto Robert aprende a
não temer a matemática.
Já que estamos em um pesadelo explícito, nada melhor
que despir o mestre de seu ar
humano e apresentá-lo como
um demônio -justamente o
que muitas crianças supõem
estar por trás de seus professores da temida disciplina.
Uma vez explicitados o demônio e o seu inferno, parece
não haver mais lugar para
grandes temores. Sob a orientação de Teplotaxl, o "Diabo
dos Números", Robert percorre esse caminho sem medo.
Não se trata, portanto, de um
exorcismo, em que se expulsa o
demônio, mas de um esforço
para mostrar que o diabo e sua
matemática não são tão terríveis quanto deles se fala.
Poderia se dizer que o autor
comete alguns exageros na escolha dos temas das aulas-pesadelos.
Por que escolher neste final
de século 20 justamente as sequências de Fibonacci, idealizadas no início do século 13 por
Leonardo de Pisa, para resolver
problemas algébricos associados à conversão de moedas?
Mas o autor não perde de vista seu objetivo de fazer com
que o leitor perca seu medo da
matemática. E, justamente por
isso, certas escolhas aparentemente exóticas talvez sejam
apropriadas.
Não se iluda, porém, o leitor
preguiçoso. Matemática não é
assunto para mentes displicentes. Embora seja compreensível para o leitor não especializado, o livro exige bastante
atenção.
Enzensberger e seu demônio
Teplotaxl ficam, no entanto,
devendo algumas páginas para
mostrar efetivamente que tudo
em matemática é demonstrável. E não foi por falta de o sonhador Robert avisar.
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