São Paulo, segunda, 29 de dezembro de 1997.




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Ali cumpriu profecia

EDUARDO OHATA
da Reportagem Local

À época de seu combate no Zaire, Muhammad Ali e George Foreman representavam pólos completamente opostos.
Foreman era o favorito. Com apenas 24 anos, estava invicto, e, em suas três lutas anteriores, havia massacrado facilmente seus adversários.
Por outro lado, os especialistas acreditavam que a carreira de Ali estava próxima do fim. Com 32 anos, após ter permanecido inativo por anos (teve sua licença de pugilista cassada por se recusar a lutar no Vietnã), Ali não era mais o mesmo. As derrotas para Joe Frazier e Ken Norton, a quem Foreman demoliu com facilidade, confirmavam isso.
No coração dos moradores locais, entretanto, o favorito era Ali. Conhecido por sua luta pelos direitos dos negros, o ex-campeão mostrou-se sempre disponível para promover a luta. Sempre de bom humor, fazia questão de caminhar pelas ruas do Zaire para estar em contato com a população.
O "invencível" Foreman preferia ficar confinado em seu hotel. Para garantir a privacidade, levou com ele dois enormes cães. Isso o tornou ainda mais odiado pela população local, que ainda lembrava da época da dominação belga, quando os colonizadores lançavam mão de cães para manter a situação sob controle.
Em suas raras aparições públicas, a equipe de Foreman demonstrava arrogância. "Vou subornar o árbitro. Não para que favoreça Foreman, mas para que pare o combate logo que Ali comece a apanhar", disse o técnico Sandy Sadler. "A vida de Ali pode correr perigo."
Não foi nenhuma surpresa que, apesar de conhecidos nomes da música, como James Brown e Pointer Sisters, terem se apresentado antes do combate, o público continuasse entoando seu próprio hino durante a luta: "Ali, Boom-ay-yee, Ali Boom-ay-yee" (Mate-o, Ali). Melodia que, de certo modo, provou ser profética.



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