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LITERATURA
Poeta e narrador, o colombiano Álvaro Mutis receberá em abril o maior prêmio das letras em língua espanhola
Vencedor do Cervantes é aventureiro como Maqroll
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele nasceu em Bogotá, em 25 de
agosto de 1923 -dia que, gosta de
dizer, lhe rendeu a influência de
seu patrono, são Luís, rei da França. Cresceu entre a capital belga,
Bruxelas, e a fazenda de café de
seu avô, em Tolima, na Colômbia.
Desde 1956, mora no México.
Em poucas linhas, transparece o
passado aventuroso de Álvaro
Mutis, escolhido, no último dia
12, como vencedor do Prêmio
Cervantes. Os 15 milhões de pesetas (cerca de US$ 79 mil) correspondentes à honraria maior da literatura em língua hispânica serão entregues em abril, na cidade
de Alcalá de Henares, a 30 km de
Madri, onde nasceu Miguel de
Cervantes.
Autor de 20 títulos em prosa e
poesia, conhecido por ser amigo e
influenciador de Gabriel García
Márquez, Mutis cravou o espírito
viajante em seu personagem mais
famoso: o marinheiro Maqroll,
que ocupa sete de seus livros.
Além de uma antologia poética
bilíngue editada pela Record, são
dois romances do septeto de Maqroll o total da obra de Mutis publicada no Brasil: o esgotado "A
Neve do Almirante", de 86, e "Ilona Chega com a Chuva", de 98,
ambos pela Companhia das Letras (os sete se encontram, em espanhol, reunidos no volume
"Empresas y Tribulaciones de
Maqroll el Gaviero", lançado recentemente pela Alfaguara).
"Gaviero" -gaveiro, em português- é a alcunha do marinheiro
de Mutis. É da gávea (posto de observação do navio, de onde se solta o clássico "terra à vista") que
Maqroll prefere mirar o mundo.
Pouco afeito a entrevistas, no site
de sua editora, Mutis define a relação com o personagem.
"Maqroll, o Gaveiro, aparece
nos primeiros poemas que escrevi, com intenção de publicar, aos
19 anos. (...) O segundo poema
que escrevi, para o suplemento
dominical do "El Espectador", se
chama "Oración de Maqroll el Gaviero". Desde então, ele me acompanha de forma explícita ou tácita
em cada linha que escrevo."
Talvez Maqroll tenha acompanhado, em simbiose, mais do que
a literatura do romântico Mutis.
Como nos diz a introdução de
"Ilona", para o Gaveiro a moral
era "matéria singularmente maleável, que ele costumava moldar
às circunstâncias do presente".
Pode ter sido movido por essa
singular flexibilidade que Mutis se
encaminhou para o México. Explica-se: não foi por vontade própria que o escritor emigrou, mas
para evitar complicações com a
Esso, empresa petroleira de que
foi relações-públicas em 1954 e
que o processava por malversar
dinheiro de seus caixas.
Não adiantou. O colombiano
amargou 15 meses no cárcere de
Lecumberri, na Cidade do México, por causa dos tais "fundos designados pela multinacional a
obras de caridade, que Mutis usou
como se fossem seus, em quixotadas da cultura" -como define
sua biografia no site da Biblioteca
Luis Angel Arango, de Bogotá
(www.banrep.gov.co).
Durante o período, foi visitado
semanalmente pela jornalista e
escritora Elena Poniatowska
-ela mesma outra personagem
romanesca, de origem nobre polonesa, nascida na França e naturalizada mexicana.
Poni, como a chamava Carlos
Fuentes, era então uma moça
charmosa em busca de material
para seus textos jornalísticos.
Acabou desenvolvendo uma
grande amizade com o colombiano, que conhecera em festas da intelectualidade mexicana e a quem
levava livros na prisão. Do encarceramento, nasceram dois livros:
"Diário de Lecumberri", escrito
por Mutis em 1960, e "Cartas de
Álvaro Mutis a Elena Poniatowska", reunidas pela escritora, com
o aval do amigo, em 98.
(FA)
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