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São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

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DANÇA

Nova montagem do coreógrafo paulista Mário Nascimento, radicado em Minas Gerais, virá a São Paulo em março

Cia. MN desenha passos a partir de trocas

Divulgação
Cena da coreografia "Escambo", de Mário Nascimento


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

"Escambo", a nova coreografia da Cia. MN vem a São Paulo em março, no Itaú Cultural. Para Mário Nascimento, "temos que fazer trocas constantemente. É uma saída, que acontece nas relações humanas". O coreógrafo paulista, hoje morando em Belo Horizonte, joga em cena com as possibilidades de troca entre as artes, numa dança arrojada e sensual.
A companhia foi fundada em 2001 (com "Trovador"). Conta com quatro intérpretes (Cristiano Bacelar, Rosa Antuña, Thaïs França e Nascimento) e trabalha em conjunto com o músico Fábio Cardia. "Eu penso a dança via música, simultaneamente", diz Nascimento. "Às vezes penso na música antes e só depois no movimento. Meu trabalho com Cardia é uma parceria: se sou eu que faço o ritmo, ele cria em cima."
As trocas têm de ser mútuas. No espetáculo os bailarinos tocam, cantam e dançam. Com formações muito diferenciadas, os intérpretes improvisam dentro do universo de gestos proposto por Nascimento. Descobrir o movimento que está no corpo, com coerência de linguagem, é a meta declarada do coreógrafo.
A dança explora a fragmentação e isolamento das partes do corpo, com dinâmicas diferentes e ritmos distintos, para que o movimento saia do centro e reverbere nas extremidades.

Virilidade
"Levar virilidade aos corpos femininos, sem perder a suavidade. É uma característica de meu trabalho não ter mulheres, mas desta vez elas vieram naturalmente. A presença delas me obrigou a procurar outros caminhos. Continuei fazendo coisa para homens com corpos femininos. Tanto é que no espetáculo a parte viril é delas."
Nascimento é hoje um dos jovens coreógrafos de destaque na cena contemporânea. Sua entrada na dança modificou sua vida: "Fui delinquente juvenil. Tive uma infância bem difícil prisão, droga. Acredito na dança, na arte como forma de reintegração de jovens".
"Vivo de dança, desde que comecei sobrevivo de dança. Hoje as coisas melhoraram muito. Este trabalho tem verba para produção do Projeto Rumos Dança [do Itaú Cultural]: R$ 20 mil. Temos de trabalhar duramente para fazer uma arte em série e com qualidade. Dou aulas, coordeno o setor de Dança Contemporânea do centro de Formação Artística da Fundação Clovis Salgado, no Palácio das Artes (em BH). Faço cenários, luz e direção, pois não temos dinheiro para pagar cada profissional."
"O ponto de partida são as idéias, que chegam aos poucos e ficam acumuladas. Faço roteiro, penso os deslocamentos, a música e então vem o movimento, que crio na hora, com os bailarinos. Vejo a dança como um filme, uma tela, uma fita que vai rodando, como algo que vai acontecendo."


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