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Jean Charles vira hit inglês
Banda Guillemots desponta no rock britânico com "Trains to Brazil", homenagem ao brasileiro morto no metrô de Londres
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LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
O prolífico rock inglês deixa
2005 para trás suspirando com
ares apaixonados por mais uma
banda de sua nova safra, o "diferente" quarteto de Londres chamado Guillemots, um dos mais
cintilantes nomes das listas de "fique de olho em 2006" que circulam neste final de ano.
O "diferente" diz respeito ao
Brasil: o guitarrista tem o improvável nome de Magrão, e o Guillemots já virou a grande aposta por
causa do recém-lançado single
"Trains to Brazil", homenagem
ao mineiro Jean Charles de Menezes, que foi morto em julho em
um trem do metrô de Londres pela polícia inglesa, fruto do "combate ao terrorismo". "Trains to
Brazil" foi lançado como single no
último dia 5 e se encontra em alta
rotação nas rádios inglesas. O vídeo da música está entre os mais
pedidos da MTV2 européia.
"Na verdade, "Trains to Brazil"
não foi composta para retratar o
incidente com o brasileiro", disse
Magrão, ou MC Lord Magrão, em
entrevista à Folha. "A gente estava gravando a música quando tudo aconteceu, e todo mundo ficou
mal por causa da história. Como a
música fala de bomba e tem uma
linha forte que diz "Quanto tempo
vai levar para que eles nos explodam", achei uma trilha sonora
perfeita para a merda que estava
acontecendo. A música foi composta pelo vocalista há três anos e
tinha outro nome. Pedi para ele
mudar, como uma homenagem, e
ele deixou", falou Magrão, que até
2000 vivia na zona leste de SP.
O Guillemots foi formado no
ano passado e surgiu forte na cena
neste ano, quando em setembro
lançou o EP "I Saw Such Things in
My Sleep", pelo pequeno selo
Fantastic Plastic. Aí começou a
correria de gravadoras atrás da
banda, querendo fechar contrato
com os responsáveis pela linda
música "Made Up Love Song #
43", que estava tocando bastante
nas rádios.
"Foi uma coisa sem noção. Até o
ano passado eu não conseguia
achar uma banda para tocar. Agora eu me vejo na TV, me ouço no
rádio, meus shows lotam e várias
gravadoras estão atrás de nós",
diz Magrão, que não quer dar seu
nome verdadeiro. "Não precisa."
Magrão conta que saiu da ZL
paulistana para Londres por volta
de 2000, para tentar viver de música na Inglaterra. "Mas não tinha
como. Meu estilo é mais experimental, ruídos. Nada pop. Aqui é
difícil. Então já estava com tudo
pronto para procurar a sorte em
Berlim. Aí resolvi responder um
último anúncio de um cara procurando banda, nos classificados
do "New Musical Express'", conta
o guitarrista. "Pedia alguém para
uma banda de rock, que não precisava tocar muito, mas ter estilo e
ser criativo. Respondi dizendo
que tirava som até de máquina de
escrever. Assim conheci o Fyfe."
O Guillemots é uma miscelânea.
Além do brasileiro MC Lord Magrão na guitarra, tem o fundador e
vocalista inglês Fyfe Dangerfield,
a contrabaixista canadense Aristazabal Hawkes e o baterista escocês Rica Caol. A banda acaba de
assinar contrato com a Polydor,
braço do gigante conglomerado
Universal Music. "Estamos assinados, mas com os pés no chão.
Temos que ir devagar."
No futuro próximo, a banda
tem shows marcados para EUA e
Japão, além de convites antecipados para participar de vários festivais de verão europeus. E as gravações do primeiro disco, que devem começar logo nos primeiros
meses de 2006.
No CD, além do "hit" "Trains to
Brazil", deve ter ainda uma linda
canção chamada "São Paulo", que
costuma fechar os já famosos
shows da banda na Inglaterra.
"Essa saiu de um improviso, depois de uma conversa nossa sobre
o dia-a-dia numa cidade grande,
cada um de um lugar, com sua experiência. Aí ela ficou com a cara
de São Paulo."
O ano de 2006 promete ser bom
para o grupo de Magrão. Para garantir, sua banda deve entrar no
ano novo segurando nas mãos
um exemplar da importante revista "Mojo", que diz: "Guillemots, a mais notável banda do
Reino Unido hoje".
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