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MÚSICA
Grandes gravadoras perdem mais espaço em 2005; enquanto as vendas de discos caem, uso do iTunes cresce 150%
Com internet, selos independentes crescem nos EUA
JEFF LEEDS
DO "NEW YORK TIMES"
Enquanto a indústria fonográfica cambaleia por mais um ano de
declínio geral de vendas, surgem
novos sinais de que a democratização da música que a internet
tornou possível está alterando o
equilíbrio de poder no setor.
Aproveitando as possibilidades
de fóruns de mensagens, blogs de
música e serviços de contatos on-line, os selos independentes de
música estão conseguindo grandes avanços, em detrimento dos
quatro grandes conglomerados
musicais mundiais, cujo modelo,
baseado em grandes sucessos
promovidos basicamente por
meio da execução em rádio, parece cada dia mais desatualizado.
As vendas de CDs e álbuns em
formato digital caíram 8% até
agora neste ano, ante o período
em 2004, segundo dados da Nielsen SoundScan. E, embora as vendas de faixas em formato digital
por meio de serviços on-line como o iTunes tenham crescido
150%, para bem mais de 320 milhões de unidades até novembro
de 2005, essa ascensão não basta
para compensar a queda na venda
de álbuns. No geral, as vendas de
música caíram pouco menos de
5%, se as faixas individuais em
formato digital forem reunidas
em grupos de dez, cada qual contado como um álbum, segundo
estimativas da revista "Billboard".
Mas, a despeito da queda, dezenas de gravadoras independentes
vêm se saindo bem, com lançamentos que registram vendas significativas por artistas como o
rapper Pitbull e bandas indie como Interpol e Arcade Fire. As independentes responderam por
mais de 18% dos álbuns vendidos
neste ano -sua maior participação de mercado em pelo menos
cinco anos, segundo dados da
Nielsen SoundScan. (Se diversas
grandes gravadoras independentes cuja música é vendida pelas divisões de distribuição dos grandes
conglomerados fossem incluídas
nesse cômputo, a participação das
independentes superaria os 27%.)
A ascensão das independentes
surge no momento em que os
quatro conglomerados dominantes -Universal Music Group,
Sony BMG Music Entertainment,
Warner Music Group e EMI
Group- encontram problemas
para continuar operando à sua
maneira tradicional, devido a
uma série de fatores, entre os
quais a repressão ao jabaculê (pagamentos feitos às rádios pela
execução de canções).
Em um mundo de conexões em
banda larga, repleto de players de
MP3 com 60 gigabytes de memória, os consumidores talvez tenham mais poder que em qualquer momento do passado para
saciar sua curiosidade quanto a
músicas que não se enquadram
nos veículos tradicionais da indústria fonográfica, primordialmente estações de rádio e a MTV.
"Os fãs ditam as normas agora",
diz John Janick, co-fundador da
Fueled by Ramen, gravadora independente de Tampa, Flórida,
cujo elenco inclui bandas underground como Panic! At the Disco
e Cute is What We Aim For. "Não
é mais tão fácil empurrar material
goela abaixo. Não quer dizer que
os consumidores se tenham tornado mais espertos, mas agora tudo está ao alcance de suas mãos.
Eles podem encontrar facilmente
alguma coisa diferente, nova.
Contam aos amigos, e a coisa começa a se espalhar."
O setor independente, combinado, já supera em vendas dois
dos quatro grandes conglomerados, Warner e EMI. E os executivos das independentes mais ambiciosas têm por objetivo capturar ainda mais terreno. Neste ano,
formaram uma associação setorial cujo objetivo é estabelecer
uma frente unida para negociar
acordos com serviços on-line de
música, entre outras prioridades.
Nas grandes gravadoras, muitos
executivos preferem considerar a
rápida expansão das independentes como um fenômeno passageiro que tem mais a ver com a consolidação das grandes empresas
-Sony e Bertelsmann fundiram
suas divisões de música no ano
passado- do que com a adoção
de técnicas de marketing mais inteligentes por parte das pequenas.
Na verdade, as gravadoras independentes também estão vendendo menos álbuns do que há cinco
anos -mas a queda não é tão rápida quanto a das rivais maiores.
Mas as grandes empresas também começaram a empregar
muitos dos veículos que anteriormente se dedicavam basicamente
a material independente. Muitas
adquirem espaço publicitário em
blogs que oferecem arquivos musicais gratuitos, e neste ano a Interscope Records, divisão da Universal, fechou acordo para distribuir música por meio de um rótulo criado em parceria com o
MySpace, serviço de contatos que
alega ter 40 milhões de membros.
Mesmo assim, os ganhos das independentes parecem representar mais do que simples rumores
divulgados on-line. As independentes também ganharam prestígio entre supervisores de produção de cinema e TV que estão à
procura de sons que escapem ao
convencional e estão colocando
seus discos em cadeias de varejo
de grande porte, muitas vezes
com o apoio de uma distribuidora
controlada por um dos grandes
conglomerados, como a Warner.
Mas não existe fator mais significativo do que a internet, que alterou os padrões de venda do setor e, mais importante, virou de
cabeça para baixo a hierarquia
tradicional na promoção de música. A conversa sobre uma banda
underground pode se espalhar
como um vírus, permitindo que o
grupo conquiste atenção nacional
antes mesmo de assinar um contrato de gravação, como aconteceu neste ano com o grupo indie
Clap Your Hands Say Yeah.
Tradução Paulo Migliacci
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