São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

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MÚSICA

Grandes gravadoras perdem mais espaço em 2005; enquanto as vendas de discos caem, uso do iTunes cresce 150%

Com internet, selos independentes crescem nos EUA

JEFF LEEDS
DO "NEW YORK TIMES"

Enquanto a indústria fonográfica cambaleia por mais um ano de declínio geral de vendas, surgem novos sinais de que a democratização da música que a internet tornou possível está alterando o equilíbrio de poder no setor. Aproveitando as possibilidades de fóruns de mensagens, blogs de música e serviços de contatos on-line, os selos independentes de música estão conseguindo grandes avanços, em detrimento dos quatro grandes conglomerados musicais mundiais, cujo modelo, baseado em grandes sucessos promovidos basicamente por meio da execução em rádio, parece cada dia mais desatualizado.
As vendas de CDs e álbuns em formato digital caíram 8% até agora neste ano, ante o período em 2004, segundo dados da Nielsen SoundScan. E, embora as vendas de faixas em formato digital por meio de serviços on-line como o iTunes tenham crescido 150%, para bem mais de 320 milhões de unidades até novembro de 2005, essa ascensão não basta para compensar a queda na venda de álbuns. No geral, as vendas de música caíram pouco menos de 5%, se as faixas individuais em formato digital forem reunidas em grupos de dez, cada qual contado como um álbum, segundo estimativas da revista "Billboard".
Mas, a despeito da queda, dezenas de gravadoras independentes vêm se saindo bem, com lançamentos que registram vendas significativas por artistas como o rapper Pitbull e bandas indie como Interpol e Arcade Fire. As independentes responderam por mais de 18% dos álbuns vendidos neste ano -sua maior participação de mercado em pelo menos cinco anos, segundo dados da Nielsen SoundScan. (Se diversas grandes gravadoras independentes cuja música é vendida pelas divisões de distribuição dos grandes conglomerados fossem incluídas nesse cômputo, a participação das independentes superaria os 27%.)
A ascensão das independentes surge no momento em que os quatro conglomerados dominantes -Universal Music Group, Sony BMG Music Entertainment, Warner Music Group e EMI Group- encontram problemas para continuar operando à sua maneira tradicional, devido a uma série de fatores, entre os quais a repressão ao jabaculê (pagamentos feitos às rádios pela execução de canções).
Em um mundo de conexões em banda larga, repleto de players de MP3 com 60 gigabytes de memória, os consumidores talvez tenham mais poder que em qualquer momento do passado para saciar sua curiosidade quanto a músicas que não se enquadram nos veículos tradicionais da indústria fonográfica, primordialmente estações de rádio e a MTV.
"Os fãs ditam as normas agora", diz John Janick, co-fundador da Fueled by Ramen, gravadora independente de Tampa, Flórida, cujo elenco inclui bandas underground como Panic! At the Disco e Cute is What We Aim For. "Não é mais tão fácil empurrar material goela abaixo. Não quer dizer que os consumidores se tenham tornado mais espertos, mas agora tudo está ao alcance de suas mãos. Eles podem encontrar facilmente alguma coisa diferente, nova. Contam aos amigos, e a coisa começa a se espalhar."
O setor independente, combinado, já supera em vendas dois dos quatro grandes conglomerados, Warner e EMI. E os executivos das independentes mais ambiciosas têm por objetivo capturar ainda mais terreno. Neste ano, formaram uma associação setorial cujo objetivo é estabelecer uma frente unida para negociar acordos com serviços on-line de música, entre outras prioridades.
Nas grandes gravadoras, muitos executivos preferem considerar a rápida expansão das independentes como um fenômeno passageiro que tem mais a ver com a consolidação das grandes empresas -Sony e Bertelsmann fundiram suas divisões de música no ano passado- do que com a adoção de técnicas de marketing mais inteligentes por parte das pequenas. Na verdade, as gravadoras independentes também estão vendendo menos álbuns do que há cinco anos -mas a queda não é tão rápida quanto a das rivais maiores.
Mas as grandes empresas também começaram a empregar muitos dos veículos que anteriormente se dedicavam basicamente a material independente. Muitas adquirem espaço publicitário em blogs que oferecem arquivos musicais gratuitos, e neste ano a Interscope Records, divisão da Universal, fechou acordo para distribuir música por meio de um rótulo criado em parceria com o MySpace, serviço de contatos que alega ter 40 milhões de membros.
Mesmo assim, os ganhos das independentes parecem representar mais do que simples rumores divulgados on-line. As independentes também ganharam prestígio entre supervisores de produção de cinema e TV que estão à procura de sons que escapem ao convencional e estão colocando seus discos em cadeias de varejo de grande porte, muitas vezes com o apoio de uma distribuidora controlada por um dos grandes conglomerados, como a Warner.
Mas não existe fator mais significativo do que a internet, que alterou os padrões de venda do setor e, mais importante, virou de cabeça para baixo a hierarquia tradicional na promoção de música. A conversa sobre uma banda underground pode se espalhar como um vírus, permitindo que o grupo conquiste atenção nacional antes mesmo de assinar um contrato de gravação, como aconteceu neste ano com o grupo indie Clap Your Hands Say Yeah.


Tradução Paulo Migliacci


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