São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

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THIAGO NEY

Opostos


Pharrell Williams e Timbaland; Jay-Z e Ghostface Killa; Bret Easton Ellis e Santiago Nazarian


ATÉ UNS dois anos atrás, Pharrell Williams tinha tudo. Como metade do Neptunes, produziu das mais brilhantes faixas do rap e r&b contemporâneos, como "I'm a Slave 4 U" (Britney), "Rock Your Body" (Justin Timberlake), "Milkshake" (Kelis), "Drop It Like It's Hot" (Snoop Dogg); como parte do N.E.R.D., lançou o elogiado "In Search Of..." (2001). Tornou-se o produtor mais procurado dos EUA e... perdeu a mão. Suas produções recentes são frouxas, seu disco solo flopou e ele parece sem rumo.
Timbaland sabe exatamente onde quer chegar. Com currículo abastado ("Get Your Freak On", com Missy Elliott; "Promiscuous", Nelly Furtado; "My Love", Justin), ele prepara sua estréia em disco como artista. O disco, "Timbaland Presents Shock Value", deve sair em março e terá participações de Nelly Furtado, Dr. Dre, She Wants Revenge, Fall Out Boy, Elton John e... Bjork.
Jay-Z tinha dinheiro, tinha reputação, tinha a garota (Beyoncé) e, mais importante, tinha tempo para aproveitar tudo isso. Resolveu abortar a aposentadoria. Conserva a garota e o dinheiro, mas a reputação foi para o ralo com "Kingdom Come", mais recente e dos menos inspirados discos do ano. Ghostface Killah faz parte do Wu-Tang Clan, coletivo rapper que esfacelou-se enquanto seus membros vão para o cinema (RZA, Method Man) ou para a cadeia (Ol" Dirty Bastard, já morto). Neste ano, lançou "Fishscale", álbum cheio de idéias frescas e novas que foi descrito pelo crítico da "New Yorker" como "o mais empolgante disco que eu ouvi em 2006".
Bret Easton Ellis é dos meus escritores favoritos. Famoso por retratar com detalhismo agudo e incisivo tanto jovens niilistas ("Regras da Atração") como yuppies cínicos ("Psicopata Americano"), lançou neste ano "Lunar Park". Chegar à sua metade foi uma luta. Sem ter sobre o que escrever, Ellis escreve sobre ele mesmo. Uma viagem pretensiosa que vai a lugar nenhum. Já "Mastigando Humanos", de Santiago Nazarian, faz uso de um jacaré para nos dar uma carona por um submundo habitado por ratos e sapos falantes. Divertido, com boas sacadas e temperado por um existencialismo bem-humorado, é digerido de uma abocanhada só.

thiago@folhasp.com.br


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