São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Malraux



Escritor foi o primeiro ministro da Cultura francês, nomeado por De Gaulle, cargo que ocupou por 11 anos


CLAUDIA ASSEF
DE PARIS

O escritor André Malraux (1901-1976) ficaria feliz se fosse usuário do metrô de Paris, cidade onde a popularidade de um autor pode ser medida pelos livros que os habitantes devoram nos trens. André Malraux é hit no transporte público.
Para Pierre Coureux, fundador e atual presidente da Associação Amizades Internacionais André Malraux (AAIAM), a razão disso é que a obra do escritor é libertária, não segrega ninguém.
Criada oficialmente em 98, a entidade reúne cerca de 150 estudiosos da obra do escritor espalhados pelo mundo.
Em 2001, quando se comemoram os cem anos do nascimento de Malraux -ele nasceu em 3 de novembro de 1901 e morreu em 23 de novembro de 1976-, Coureux não está dando conta de responder às centenas de cartas e e-mails que chegam toda semana dos quatro cantos do mundo.
"As pessoas querem saber das celebrações do centenário de Malraux. Recebo muitos e-mails e cartas, inclusive do Brasil", diz Coureux, que, antes de ter Malraux como "profissão", era professor de inglês.
Mas, afinal, o que fez de André Malraux, autor de "A Condição Humana", entre outras obras-primas, um sujeito tão especial?
"Além de sua importância literária, Malraux foi o primeiro ministro da Cultura francês, cargo que exerceu por 11 anos. Durante esse tempo, ele criou leis que até hoje garantem a dignidade de monumentos e prédios históricos da França", diz o presidente da AAIAM.
Na entrevista abaixo, Pierre Coureux explica à Folha por que o centenário de André Malraux será celebrado com tanto fervor no país.

Folha - Qual foi a importância de André Malraux para a cultura da França?
Pierre Coureux -
O general Charles de Gaulle o nomeou ministro de Estado e confiou a ele o primeiro Ministério de Assuntos Culturais da França. A pedido do governo, Malraux criou as hoje famosas Maisons de la Culture. Foi ele também quem resolveu levar grandes obras francesas para serem exibidas em outros países. E foi ainda graças à Lei Malraux, de 1962, que imóveis localizados em bairros históricos puderam ser restaurados.
Ele também foi responsável pela criação de um inventário do patrimônio nacional. E, além de tudo isso, André Malraux foi um escritor genial.

Folha - Como foi o convívio dele com outros pintores e escritores da época?
Coureux -
Ele foi amigo de Picasso, Chagall, Braque e todos os outros pintores.
Acima de tudo, ele era muito respeitado por suas idéias. Era um homem que pregava a liberdade, não tinha dogmas. Desde 1919, Malraux frequentou o bairro de Montmartre, onde os grandes pintores, poetas e escritores se reuniam.
Seu primeiro artigo foi publicado na revista "La Connaissance", quando André Malraux tinha apenas 18 anos. Dois anos mais tarde, ele se tornaria diretor da editora Sagittaire.
A partir daí, ele nunca mais se afastou da literatura. Durante meio século, André Malraux foi a figura mais atuante da literatura francesa.

Folha - Como era a relação entre André Malraux e o general Charles de Gaulle?
Coureux -
Eles eram fascinados um pelo outro. De Gaulle era um fã da obra de Malraux. Por isso, ele se tornou ministro do general durante 11 anos. E, quando De Gaulle se retirou do poder, em 1969, Malraux deixou o ministério no mesmo instante, em consideração ao general.

Folha - Quais são as obras mais significativas de Malraux?
Coureux -
Certamente, "A Condição Humana" (1933) e "A Esperança" (1937) são dois livros-chave na obra do escritor. O próprio Malraux se dizia muito orgulhoso de tê-los escrito.
Eles contêm toda a sua reflexão sobre o futuro, bem como as questões sobre metafísica que o acompanharam até o fim da vida. Há também um bom exemplo de sua reflexão sobre a arte. O artista como rival de Deus, que é tema central nas reflexões de Malraux sobre a criação artística, está presente nessas obras.

Folha - O que o atrai mais na obra de Malraux?
Coureux -
Acho que o personagem Tchen, de "A Condição Humana", resume bem por que a obra de Malraux é tão fascinante. Ele se pergunta o que fazer da alma quando não se tem um Deus. Malraux quis restituir ao indivíduo a sua fertilidade, presenteando-o com "a possibilidade infinita do destino".
Antes de ser um homem de ação ou um escritor, Malraux foi um homem de reflexão.


Mais informações em www.andremalraux.com


Texto Anterior: Show: Festival em SC devolve dinheiro após vendaval
Próximo Texto: Brasil realiza celebrações em junho, no Rio
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.