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Malraux
Escritor foi o primeiro ministro
da Cultura francês, nomeado por De Gaulle, cargo que ocupou por 11 anos
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CLAUDIA ASSEF
DE PARIS
O escritor André Malraux
(1901-1976) ficaria feliz se fosse
usuário do metrô de Paris, cidade
onde a popularidade de um autor
pode ser medida pelos livros que
os habitantes devoram nos trens.
André Malraux é hit no transporte público.
Para Pierre Coureux, fundador
e atual presidente da Associação
Amizades Internacionais André
Malraux (AAIAM), a razão disso
é que a obra do escritor é libertária, não segrega ninguém.
Criada oficialmente em 98, a entidade reúne cerca de 150 estudiosos da obra do escritor espalhados
pelo mundo.
Em 2001, quando se comemoram os cem anos do nascimento
de Malraux -ele nasceu em 3 de
novembro de 1901 e morreu em
23 de novembro de 1976-, Coureux não está dando conta de responder às centenas de cartas e e-mails que chegam toda semana
dos quatro cantos do mundo.
"As pessoas querem saber das
celebrações do centenário de Malraux. Recebo muitos e-mails e
cartas, inclusive do Brasil", diz
Coureux, que, antes de ter Malraux como "profissão", era professor de inglês.
Mas, afinal, o que fez de André
Malraux, autor de "A Condição
Humana", entre outras obras-primas, um sujeito tão especial?
"Além de sua importância literária, Malraux foi o primeiro ministro da Cultura francês, cargo
que exerceu por 11 anos. Durante
esse tempo, ele criou leis que até
hoje garantem a dignidade de
monumentos e prédios históricos
da França", diz o presidente da
AAIAM.
Na entrevista abaixo, Pierre
Coureux explica à Folha por que
o centenário de André Malraux
será celebrado com tanto fervor
no país.
Folha - Qual foi a importância de
André Malraux para a cultura da
França?
Pierre Coureux - O general Charles de Gaulle o nomeou ministro
de Estado e confiou a ele o primeiro Ministério de Assuntos Culturais da França. A pedido do governo, Malraux criou as hoje famosas Maisons de la Culture. Foi
ele também quem resolveu levar
grandes obras francesas para serem exibidas em outros países. E
foi ainda graças à Lei Malraux, de
1962, que imóveis localizados em
bairros históricos puderam ser
restaurados.
Ele também foi responsável pela
criação de um inventário do patrimônio nacional. E, além de tudo
isso, André Malraux foi um escritor genial.
Folha - Como foi o convívio dele
com outros pintores e escritores da
época?
Coureux - Ele foi amigo de Picasso, Chagall, Braque e todos os outros pintores.
Acima de tudo, ele era muito
respeitado por suas idéias. Era um
homem que pregava a liberdade,
não tinha dogmas. Desde 1919,
Malraux frequentou o bairro de
Montmartre, onde os grandes
pintores, poetas e escritores se
reuniam.
Seu primeiro artigo foi publicado na revista "La Connaissance",
quando André Malraux tinha
apenas 18 anos. Dois anos mais
tarde, ele se tornaria diretor da
editora Sagittaire.
A partir daí, ele nunca mais se
afastou da literatura. Durante
meio século, André Malraux foi a
figura mais atuante da literatura
francesa.
Folha - Como era a relação entre
André Malraux e o general Charles
de Gaulle?
Coureux - Eles eram fascinados
um pelo outro. De Gaulle era um
fã da obra de Malraux. Por isso,
ele se tornou ministro do general
durante 11 anos. E, quando De
Gaulle se retirou do poder, em
1969, Malraux deixou o ministério no mesmo instante, em consideração ao general.
Folha - Quais são as obras mais
significativas de Malraux?
Coureux - Certamente, "A Condição Humana" (1933) e "A Esperança" (1937) são dois livros-chave na obra do escritor. O próprio
Malraux se dizia muito orgulhoso
de tê-los escrito.
Eles contêm toda a sua reflexão
sobre o futuro, bem como as
questões sobre metafísica que o
acompanharam até o fim da vida.
Há também um bom exemplo de
sua reflexão sobre a arte. O artista
como rival de Deus, que é tema
central nas reflexões de Malraux
sobre a criação artística, está presente nessas obras.
Folha - O que o atrai mais na obra
de Malraux?
Coureux - Acho que o personagem Tchen, de "A Condição Humana", resume bem por que a
obra de Malraux é tão fascinante.
Ele se pergunta o que fazer da alma quando não se tem um Deus.
Malraux quis restituir ao indivíduo a sua fertilidade, presenteando-o com "a possibilidade infinita
do destino".
Antes de ser um homem de ação
ou um escritor, Malraux foi um
homem de reflexão.
Mais informações em www.andremalraux.com
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