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São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

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MODA

Alexandre Herchcovitch, Lino Villaventura e Caio Gobbi foram destaques de ontem da São Paulo Fashion Week

Escapismo fashion dá o tom do terceiro dia

João Wainer/Folha Imagem
Modelo desfila peça da coleção masculina de Caio Gobbi, na SP Fasion Week


ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

A moda escapa para um mundo distante, em que os estilistas conduzem o público para outras realidades, bem longe das dificuldades do dia-a-dia, das chuvas e trovoadas da vida real.
Na São Paulo Fashion Week, as passarelas são um universo de delírio e beleza, com as meninas-moças anos 50 de Alexandre Herchcovitch, as psicodélicas roqueiras de Lino Villaventura e as abusadas rainhas das trevas de Caio Gobbi. O evento prossegue até sábado, mostrando 40 desfiles para o inverno 2003.
Em tempos de crise, nada melhor do que sonhar. E não é pura lembrança de bons tempos, ainda que fictícios, a imagem romântica de Herchcovitch, em exercício de nostalgia e delicadeza? É mais uma virada do estilista, que se desafia mais uma vez.
Os melhores momentos são justamente aqueles em que a estética anos 50 aparece mais depurada, a partir da lingerie suave, com paetês, que pode ser usada também como roupa, em peças desconstruídas, com babadinhos.
Xadrezes também são recobertos de paetês, ganhando leitura grunge, na camisaria. No final, um lamê desfiado adquire nobreza, nos vestidos de noite, na melhor imagem da modelo Michelli Provensi em momento "bonequinha de luxo".
Villaventura abre bem, com grandes capas feitas em 1985, que preservam sua atualidade e servem de referência para o restante da coleção, que aponta um caminho de psicodelia hardcore para o inverno do estilista. A maquiagem reproduzia desenhos de flores das próprias roupas, emprestando atitude rock, bem colorida.
Depois dessa entrada, os melhores momentos ficaram mesmo com os cruzamentos orientais feitos com a moda do estilista, em túnicas e jaquetas de seda, em cores otimistas e intensas. Algumas peças e maneirismos de modelos já soam fora de lugar, repetitivos.
Em sua segunda coleção na São Paulo Fashion Week, Caio Gobbi traz uma imagem mais crescida e menos adolescente, inspirada no personagem cult Elvira. Densa e sexy, ela vem gostosa, na calça street de pernas com elásticos e muitas ciclistas, em vinil, sarja com paetê e militar. Gobbi é pop e assume seu gosto por um lado usável, com personalidade. Exatamente o que quer o mercado.
Na Patachou, Tereza Santos acompanha as vontades internacionais e exercita-se no tricô e na malha, mais criativa na primeira parte, nas saias volumosas e grandes pulls de lã. As parkas esportivas são pontos certos, superiores ao final, com vestidos que envolvem o corpo, em fragmentos geométricos coloridos.
Em sua segunda participação na São Paulo Fashion Week, a marca mineira Vide Bula propõe manifesto pacifista juvenil, que encontra sua melhor tradução na camiseta com estampa do rosto do presidente George W. Bush com nariz de palhaço, usada pela modelo Ana Bela, radicada em Nova York e filha de empregada doméstica de Interlagos (zona sul).
Antes, as Triton Girls, da segunda linha do estilista Tufi Duek, descem do salto para se exercitar numa coleção streetwear, misturando referências do folk rústico com a urbanidade vinda do grafite do cenário. Bem feminino e jovem, usável e comercial.
Entre os jornalistas estrangeiros presentes no evento, a enviada especial Karin Nelson, do site "Fashion Wire Daily", reclama do que ela diz ser "falta de originalidade" da moda brasileira. Em seu artigo na internet, ela cita que outros correspondentes internacionais estariam "decepcionados", e esperando ver "penas e cores", em lugar das tendências globais da moda. É o mesmo site que, na última estação, criticou duramente o estilista Reinaldo Lourenço. Neste inverno, no mesmo artigo, a jornalista elogia Maxime Peremulter e Lorenzo Merlino.

Veja mais fotos dos desfiles na Folha Online (www.folha.com.br/especial/2003/fashionweek/)


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