São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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"A CARTOMANTE"

Popular submete-se ao preconceito

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Pobre Machado de Assis. "A Cartomante" é a segunda apropriação recente de um texto seu que não dá certo no cinema (a outra é "Dom", de Moacyr Góes). Mas neste caso o estrago foi bem mais grave. Não se trata sequer de uma interpretação malsucedida. "A Cartomante" é uma esculhambação em que nada faz sentido.
Pouco restou do conto, como o material de divulgação do filme ressalta. A trama da curta história de Machado era baseada numa reversão de expectativas. Na ironia do autor, a previsão da cartomante, ao dizer aquilo que uma mulher queria ouvir, torna-se uma armadilha mortal. No filme, não há nada disso. O roteiro mais parece ter sido construído a partir de categorias pré-definidas em um manual, atualizando a época e aproveitando personagens.
Há viradas na trama, doses de romance seguidas de suspense e um final que deveria ser impressionante, mas é apenas ridículo. Na colagem dessas categorias, a história ficou sem pé nem cabeça.
O dilema do filme se apresenta de forma folhetinesca: a protagonista Rita (Deborah Secco) se apaixona pelo melhor amigo do noivo. Ela não sabe se ouve a psicanalista (Silvia Pfeiffer) ou a cartomante. Enquanto isso, divide-se entre a vida ao lado de um médico (Ilya São Paulo) e um um bad boy (Luigi Baricelli). A psicanalista revela-se a personagem mais divertida porque é incongruente.
A intenção de "A Cartomante" parece ser a realização de uma obra que dialogue com o público. Daí a escolha do elenco, a introdução de elementos forçados, a direção em tom cafona. O que era para ser um projeto de apelo popular, tornou-se um filme submisso a preconceitos do que se supõe ser o "gosto do público".


A Cartomante
 
Produção: Brasil, 2004
Direção: Wagner Assis e Pablo Uranga
Com: Deborah Secco e Luigi Baricelli
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Bristol, Tamboré e circuito



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