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LANÇAMENTO/DVD
Caixa de D.W. Griffith constrói a gramática elementar do cinema
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Na história do cinema, como
diria Glauber Rocha, "O
Nascimento de uma Nação"
(1913) é o Antigo Testamento, e
"Intolerância" (1915), o Novo. Daí
já se mede a importância de D.W.
Griffith, o autor dos testamentos e
de outras obras-primas incluídas
no pacote da Continental.
Foi Griffith quem criou o bê-á-bá da gramática cinematográfica
clássica: a montagem paralela e
seu suspense, o close e suas afecções, a alternância entre planos fechados e abertos. Foi ele o pai fundador de Hollywood: por sua megalomania e fúria historicista,
mas também por ter adaptado ao
cinema a tradição teatral de representação burguesa, o melodrama
oitocentista. Um século depois, o
cinema americano ainda gira em
torno dos testamentos griffithianos -"Titanic", de James Cameron, é uma bela prova.
O Novo Testamento de Griffith,
libelo épico contra a intolerância
social e religiosa, foi uma retratação em relação ao Antigo, o clássico mais reacionário e racista do
cinema. O fato de Griffith ser filho
de um sulista arruinado pela
Guerra Civil Americana (1861-5)
não justifica, mas explica um pouco "O Nascimento de uma Nação", em que a Ku Klux Klan faz o
papel da cavalaria a salvar a mocinha das "hordas de negros".
Constitui um dos grandes paradoxos da história do cinema que
Griffith, o reacionário, tenha inspirado Sergei Eisenstein, o russo
vanguardista e revolucionário. Eisenstein -que defendia que Griffith fora influenciado pelas estruturas narrativas dos romances de
Dickens- fez uma releitura dialética do paralelismo griffithiano,
acentuando-lhes as oposições.
Ele achava que Griffith só tinha
compreendido a oposição de forma acidental, não como verdadeira força motriz do organismo social. É assim que o russo acaba por
potencializar o antagonismo e o
choque do esquema "opulência
da aristocracia + fome do povo =
revolução", esboçado por Griffith
no filme sobre a Revolução Francesa, "Órfãs da Tempestade"
(1921), obra-prima do pacote.
Mas, como tratamos aqui da
tradição hollywoodiana em seu
nascedouro, a visão (esquemática) da grande história serve antes
de pano de fundo para um (melo)drama individual: o das irmãs
que se reencontram em "Órfãs", o
do casal que se une em "América". Griffith não tira o seu pé do
melodrama nem quando lida
com um registro e ritmo tão diferentes como os da comédia, em
"Guerra dos Sexos" (1928).
Coleção D.W. Griffith
Distribuidora: Continental; R$ 250
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