CRÍTICO DA FOLHA

O escocês Danny Wallace afirma que trabalhava em Londres como produtor para a BBC quando ouviu, no ônibus, um passageiro recomendar a outro que dissesse mais a palavra "sim". Por um ano, resolveu adotar essa atitude: dizer "sim" a todas as abordagens e todos os convites, comerciais e pessoais.
O livro de humor que Wallace escreveu com base na suposta experiência se tornou um best-seller e deu origem a "Sim Senhor", com Jim Carrey no papel de um bancário de vida aborrecida porque diz "não" a tudo. O cenário muda radicalmente, no entanto, quando ele assiste a uma palestra de autoajuda e se converte ao "sim". Não se deve esperar o Carrey mais dramático de "O Show de Truman" (1998), "Cine Majestic" (2001) e "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" (2004). Aqui, reaparece o comediante puro-sangue de "Ace Ventura" (1994), "O Máskara" (1994) e "Todo Poderoso" (2003), fazendo as caras e bocas habituais. O ator e o humor do filme rendem mais quando o diretor Peyton Reed ("Abaixo o Amor", "Separados pelo Casamento") resolve fazer uma comédia de verdade, carregando na sátira aos profetas da autoajuda (o inglês Terence Stamp faz ótima participação como o mago do "sim") e na inadequação social do protagonista.
A certa altura, no entanto, o sentimentalismo começa a vencer a batalha, e a própria trama se torna aderente aos princípios que ridicularizava. A passagem se dá principalmente graças a uma história de amor entre o bancário e uma jovem também à margem das convenções (Zooey Deschanel, de "Fim dos Tempos").
Como em boa parte das comédias que se aventuram a ironizar um certo modo de vida tipicamente norte-americano, prevalece a política do "bate e assopra". "Sim Senhor" diverte quando bate e perde a força quando assopra. (SÉRGIO RIZZO)