São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

"Ninho" repete clichês da crise de meia-idade

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Num jantar, em torno de uma mesa um grupo de cinquentões conversa, se observa e por vezes flerta. De um modo descompromissado, "Ninho Vazio" nos coloca em meio à situação e nos permite descobrir aos poucos quem é quem, o que sente e que importância terá na história. Com esse estilo entre atento e descompromissado, o diretor argentino atraiu o interesse desde "Esperando o Messias" (2000), segundo título de uma filmografia que se tornou regular no Brasil.
"O Abraço Partido" (2004) e "As Leis de Família" (2006) confirmaram um talento e uma habilidade em se apropriar de situações banais e por meio delas dizer um tanto das angústias de cada um, além de mapear discretamente o estado das relações familiares como se fosse uma conversa entre amigos.
A família continua como eixo central em "Ninho Vazio", mas a transição do foco para um personagem mais velho parece mais um esforço de Burman para não se repetir, como se, aos 35, projetasse seus fantasmas adiante. O que deixa de funcionar é que a angústia, tratada com aparente ligeireza e autoironia nos filmes anteriores, neste tende a reproduzir todos os clichês associados ao homem de meia-idade.
A ausência dos filhos, indicada no título, deveria funcionar como o estopim da saturação existencial vivida pelo personagem, mas deste contraste o filme não arranca quase nada, limitando-se a constatar a crise.
Com seu modo esvaziado de filmar esses vazios, Burman antes os preenchia de sentido. Neste filme, sua habilidade ficou bloqueada nos limites da fórmula.


NINHO VAZIO
Produção: Argentina/Espanha/ França/Itália, 2008
Direção: Daniel Burman
Com: Cecilia Roth, Oscar Martínez
Onde: estreia hoje no Espaço Unibanco Augusta, Reserva Cultural e circuito
Classificação: não indicado a menores de 12 anos
Avaliação: regular




Texto Anterior: "Queria filmar a decadência", diz Burman
Próximo Texto: Crítica/"Sim Senhor": Sentimentalismo estraga volta de Carrey à comédia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.