São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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TELEVISÃO

Crítica

"Nossa Vida Não Cabe..." culpa pobre por ser pobre

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Se há um curta-metragem que me divertiu na vida, ao menos na vida recente, foi "BMW Vermelho", sobre um cara pobre, desempregado, que ganha um BMW num concurso, se bem me lembro de TV. O que fazer com um carro daqueles se você não tem nem como botar gasolina nele; pagar o IPVA, então, nem pensar.
A situação de agonia do personagem e a maneira como resolve a questão tem humor, ironia, imaginação. Um tanto da minha decepção com "Nossa Vida Não Cabe num Opala" (Canal Brasil, 23h; 18 anos) deriva, é certo, do prazer que tinha experimentado ao ver o curta de Reinaldo Pinheiro.
Sua estreia no longa não deixa de demonstrar talento, mas parece que, para chegar a ela, teve de ceder a essa tara do cinema brasileiro (paulista, em particular) que consiste em -em linhas gerais- culpar o pobre por ser pobre. Ou antes: em olhar nossas precariedades a partir daquelas que seriam suas vítimas.
Assim temos aqui: irmãos que roubam carros, sendo um deles idiota, um filho não menos, um garçom que limpa o nariz para as câmeras etc. Tudo isso existe ou deve existir. Que interesse tem? Desculpe, é muito pessoal: a mim interessa saber, por exemplo, como algo disfuncional como o morro produz Cartola ou Nelson Cavaquinho, isto é, a nossa melhor literatura, nosso maior patrimônio. O resto é o resto.


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