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TELEVISÃO
Crítica
"Nossa Vida Não Cabe..." culpa pobre por ser pobre
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Se há um curta-metragem
que me divertiu na vida, ao menos na vida recente, foi "BMW
Vermelho", sobre um cara pobre, desempregado, que ganha
um BMW num concurso, se
bem me lembro de TV. O que
fazer com um carro daqueles se
você não tem nem como botar
gasolina nele; pagar o IPVA, então, nem pensar.
A situação de agonia do personagem e a maneira como resolve a questão tem humor, ironia, imaginação. Um tanto da
minha decepção com "Nossa
Vida Não Cabe num Opala"
(Canal Brasil, 23h; 18 anos) deriva, é certo, do prazer que tinha experimentado ao ver o curta de Reinaldo Pinheiro.
Sua estreia no longa não deixa de demonstrar talento, mas
parece que, para chegar a ela,
teve de ceder a essa tara do cinema brasileiro (paulista, em
particular) que consiste em
-em linhas gerais- culpar o
pobre por ser pobre. Ou antes:
em olhar nossas precariedades
a partir daquelas que seriam
suas vítimas.
Assim temos aqui: irmãos
que roubam carros, sendo um
deles idiota, um filho não menos, um garçom que limpa o
nariz para as câmeras etc. Tudo
isso existe ou deve existir. Que
interesse tem? Desculpe, é
muito pessoal: a mim interessa
saber, por exemplo, como algo
disfuncional como o morro
produz Cartola ou Nelson Cavaquinho, isto é, a nossa melhor literatura, nosso maior patrimônio. O resto é o resto.
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