São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 1999

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LIVRO - LANÇAMENTOS
"Esquizofrenia' inspira romance de Block

EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos

Um esquizofrênico. Assim se define Lawrence Block, o mais rápido, prolífico e cativante escritor norte-americano de romances policiais da atualidade.
A Companhia das Letras está lançando "O Ladrão Que Pintava como Mondrian", quinto volume da série protagonizada pelo personagem Bernie Rhodenbarr, criado por Block em 1977.
Nova-iorquino, brincalhão e esperto, Rhodenbarr dirige uma loja de livros usados durante o dia. À noite, ele assalta residências. Entre uma e outra atividade, ele ajuda a polícia a solucionar crimes.
Além desse personagem, Block escreveu séries de livros com as aventuras de Matt Scudder, Chip Harrison e Evan Tanner, "detetives" com características bem distintas das de Rhodenbarr. E o talento para criar essas personalidades é o que motiva o autor a se definir como esquizofrênico.
Nascido em Buffalo, no Estado de Nova York, em 24 de junho de 1938, Block graduou-se no Antioch College, em Ohio. Descobriu seu talento para escrever ainda na adolescência e começou a publicar pequenas histórias a partir de 1957.
Via Internet, Block falou à Folha sobre sua obra, seus personagens e a respeito do ofício de escritor. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Os leitores brasileiros estão sendo apresentados a Bernie Rhodenbarr por meio de "O Ladrão Que Pintava como Mondrian" -quinto livro com o personagem, lançado nos EUA em 1983. Você acha que é um bom começo?
Lawrence Block - Eu acredito que esse é um bom ponto de partida. Muitas pessoas disseram que esse livro é seu predileto. E eu estou contente por ele estar sendo lançado no Brasil.
Folha - Como surgiu a idéia de criar um personagem que, em poucas palavras, pode ser definido como um livreiro cleptomaníaco com talento para detetive?
Block - Estava tudo ali. Quando eu estava escrevendo o primeiro livro da série, "Burglars Can't Be Choosers" -Ladrões não Podem Ser Escolhedores, de 1977-, eu não sabia que o personagem seria leve e engraçado. Mas a personalidade de Bernie emergiu desde a primeira página.
Folha - Há elementos autobiográficos nas personalidades de Bernie Rhodenbarr, Matt Scudder, Chip Harrison e Evan Tanner?
Block - Provavelmente sim. E, como eles são tão diferentes entre si, só posso concluir uma coisa: eu sou esquizofrênico.
Folha - Um dos aspectos mais marcantes da sua obra é o detalhamento histórico e geográfico. Como é o seu trabalho de pesquisa?
Block - É interessante que você tenha notado isso, mas, para os leitores médios, meus livros têm menos pesquisa do que eles conseguem captar.
Folha - Dois bancos no Bryant Park, em Nova York, foram dedicados a Bernie Rhodenbarr e Matt Scudder. Seria possível você ou seus personagens viverem em outra cidade?
Block - Bem, eu morei em outros lugares. Além disso, eu e minha mulher adoramos viajar, mas eu sempre volto para Nova York. Meus personagens são tipicamente nova-iorquinos. Eu não acho que eles poderiam florescer em qualquer outro lugar do mundo.
Folha - No ano passado, você estava para concluir um livro com Evan Tanner, sobre quem você não escrevia desde o final dos anos 60. Foi difícil trazer o personagem de volta à vida?
Block - O livro já está pronto e sendo impresso. O nome é "Tanner on Ice" -Tanner no Gelo. Não foi nada complicado ressuscitar Tanner. Eu achei muito fácil recapturar a sua voz e personalidade.
Folha - Além dos seus romances policiais, você publicou alguns livros sobre o ofício de escritor. Quais foram as motivações que o levaram a escrevê-los?
Block - Já escrevi quatro livros sobre o assunto. Eles nasceram de uma coluna que eu mantenho numa revista para escritores. Minha coluna existe há 14 anos.
Folha - Você acredita que, com algum treino, qualquer um pode se tornar um escritor razoável, ou é necessário ter nascido com a habilidade necessária?
Block - Ainda outro dia eu estava discutindo esse assunto com o Stephen King. Em pelo menos uma coisa nós concordamos: algumas pessoas têm talento, outras não. É claro que o talento pode ser desenvolvido, mas só se ele já existir no potencial escritor.
Folha - Sua mulher, Lynne, colaborou com você na coleção de pequenas histórias "Till Death Do Us Apart" -Até Que a Morte Nos Separe. Ela também é escritora? Que parte coube a ela no livro?
Block - Ela não é escritora. A parte dela na colaboração consistiu em chegar com a idéia inicial para que, a partir dela, eu desenvolvesse a trama. Além disso, Lynne fez todas as pesquisas necessárias.
Folha - É interessante como você constrói e resolve os quebra-cabeças no final dos seus romances. Ao escrevê-los, você tem o quadro todo na cabeça ou deixa algum espaço para que a trama siga seu próprio caminho?
Block - Em geral, eu vou desenvolvendo a trama no decorrer dos capítulos. Eu apenas preciso de um bom "plot" original.
Folha - Quantos dos seus romances já viraram filmes? Você gostou dos resultados?
Block - Três filmes já foram baseados em livros meus: "Nightmare Honeymoon" -dirigido por Elliot Silverstein-, "Burglar" -"A Ladrona", dirigido por Hugh Wilson e estrelado por Whoopi Goldberg e John Goodman- e "Eight Million Ways to Die" -"Morrer Mil Vezes", dirigido por Hal Ashby e estrelado por Jeff Bridges, Rosanna Arquette e Andy Garcia. Todos eles me deixaram desapontado. Agora, estão filmando "Hit Man" e "A Walk among the Tombstones". Eu tenho a esperança de que algo bom esteja sendo feito deles.
Folha - Se você pudesse escolher um ator para desempenhar no cinema o papel de Bernie Rhodenbarr, quem seria?
Block - Anthony Edwards.



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