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LIVRO - LANÇAMENTOS
"Esquizofrenia' inspira romance de Block
EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos
Um esquizofrênico. Assim se define Lawrence Block, o mais rápido, prolífico e cativante escritor
norte-americano de romances policiais da atualidade.
A Companhia das Letras está
lançando "O Ladrão Que Pintava
como Mondrian", quinto volume
da série protagonizada pelo personagem Bernie Rhodenbarr, criado
por Block em 1977.
Nova-iorquino, brincalhão e esperto, Rhodenbarr dirige uma loja
de livros usados durante o dia. À
noite, ele assalta residências. Entre
uma e outra atividade, ele ajuda a
polícia a solucionar crimes.
Além desse personagem, Block
escreveu séries de livros com as
aventuras de Matt Scudder, Chip
Harrison e Evan Tanner, "detetives" com características bem distintas das de Rhodenbarr. E o talento para criar essas personalidades é o que motiva o autor a se definir como esquizofrênico.
Nascido em Buffalo, no Estado
de Nova York, em 24 de junho de
1938, Block graduou-se no Antioch
College, em Ohio. Descobriu seu
talento para escrever ainda na adolescência e começou a publicar pequenas histórias a partir de 1957.
Via Internet, Block falou à Folha
sobre sua obra, seus personagens e
a respeito do ofício de escritor. A
seguir, trechos da entrevista.
Folha - Os leitores brasileiros estão sendo apresentados a Bernie
Rhodenbarr por meio de "O Ladrão
Que Pintava como Mondrian"
-quinto livro com o personagem,
lançado nos EUA em 1983. Você
acha que é um bom começo?
Lawrence Block - Eu acredito que
esse é um bom ponto de partida.
Muitas pessoas disseram que esse
livro é seu predileto. E eu estou
contente por ele estar sendo lançado no Brasil.
Folha - Como surgiu a idéia de
criar um personagem que, em poucas palavras, pode ser definido como um livreiro cleptomaníaco com
talento para detetive?
Block - Estava tudo ali. Quando
eu estava escrevendo o primeiro livro da série, "Burglars Can't Be
Choosers" -Ladrões não Podem
Ser Escolhedores, de 1977-, eu
não sabia que o personagem seria
leve e engraçado. Mas a personalidade de Bernie emergiu desde a
primeira página.
Folha - Há elementos autobiográficos nas personalidades de
Bernie Rhodenbarr, Matt Scudder,
Chip Harrison e Evan Tanner?
Block - Provavelmente sim. E, como eles são tão diferentes entre si,
só posso concluir uma coisa: eu
sou esquizofrênico.
Folha - Um dos aspectos mais
marcantes da sua obra é o detalhamento histórico e geográfico. Como é o seu trabalho de pesquisa?
Block - É interessante que você
tenha notado isso, mas, para os leitores médios, meus livros têm menos pesquisa do que eles conseguem captar.
Folha - Dois bancos no Bryant
Park, em Nova York, foram dedicados a Bernie Rhodenbarr e Matt
Scudder. Seria possível você ou
seus personagens viverem em outra cidade?
Block - Bem, eu morei em outros
lugares. Além disso, eu e minha
mulher adoramos viajar, mas eu
sempre volto para Nova York.
Meus personagens são tipicamente nova-iorquinos. Eu não acho
que eles poderiam florescer em
qualquer outro lugar do mundo.
Folha - No ano passado, você estava para concluir um livro com
Evan Tanner, sobre quem você não
escrevia desde o final dos anos 60.
Foi difícil trazer o personagem de
volta à vida?
Block - O livro já está pronto e
sendo impresso. O nome é "Tanner on Ice" -Tanner no Gelo. Não
foi nada complicado ressuscitar
Tanner. Eu achei muito fácil recapturar a sua voz e personalidade.
Folha - Além dos seus romances
policiais, você publicou alguns livros sobre o ofício de escritor.
Quais foram as motivações que o
levaram a escrevê-los?
Block - Já escrevi quatro livros sobre o assunto. Eles nasceram de
uma coluna que eu mantenho numa revista para escritores. Minha
coluna existe há 14 anos.
Folha - Você acredita que, com
algum treino, qualquer um pode se
tornar um escritor razoável, ou é
necessário ter nascido com a habilidade necessária?
Block - Ainda outro dia eu estava
discutindo esse assunto com o Stephen King. Em pelo menos uma
coisa nós concordamos: algumas
pessoas têm talento, outras não. É
claro que o talento pode ser desenvolvido, mas só se ele já existir no
potencial escritor.
Folha - Sua mulher, Lynne, colaborou com você na coleção de pequenas histórias "Till Death Do Us
Apart" -Até Que a Morte Nos Separe. Ela também é escritora? Que
parte coube a ela no livro?
Block - Ela não é escritora. A parte dela na colaboração consistiu
em chegar com a idéia inicial para
que, a partir dela, eu desenvolvesse
a trama. Além disso, Lynne fez todas as pesquisas necessárias.
Folha - É interessante como você
constrói e resolve os quebra-cabeças no final dos seus romances. Ao
escrevê-los, você tem o quadro todo na cabeça ou deixa algum espaço para que a trama siga seu próprio caminho?
Block - Em geral, eu vou desenvolvendo a trama no decorrer dos
capítulos. Eu apenas preciso de um
bom "plot" original.
Folha - Quantos dos seus romances já viraram filmes? Você gostou
dos resultados?
Block - Três filmes já foram baseados em livros meus: "Nightmare Honeymoon" -dirigido por
Elliot Silverstein-, "Burglar"
-"A Ladrona", dirigido por Hugh
Wilson e estrelado por Whoopi
Goldberg e John Goodman- e
"Eight Million Ways to Die"
-"Morrer Mil Vezes", dirigido
por Hal Ashby e estrelado por Jeff
Bridges, Rosanna Arquette e Andy
Garcia. Todos eles me deixaram
desapontado. Agora, estão filmando "Hit Man" e "A Walk among
the Tombstones". Eu tenho a esperança de que algo bom esteja sendo
feito deles.
Folha - Se você pudesse escolher
um ator para desempenhar no cinema o papel de Bernie Rhodenbarr, quem seria?
Block - Anthony Edwards.
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