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Trama anestesia desfecho
da Redação
Em "O Ladrão Que
Pintava como Mondrian", Law-
rence Block
produz um
daqueles romances policiais em que o fim
só serve para justificar os
meios. Traduzindo: a conclusão da trama pode abrir mão de
ser apocalíptica, porque a trama traz tantos elementos surpreendentes que anestesia o
potencial do último capítulo.
A começar pelo personagem
principal, Bernie Rhodenbarr.
Simpático e inteligente, ele toca
a sua loja de livros durante o
dia e furta residências à noite.
Em vez de se excluírem, essas
atividades se completam. O ladrão ensina o livreiro a lidar
com os cleptomaníacos que visitam sebos. O livreiro mostra o
que há de valioso nas residências alheias. Ambos emprestam
a Rhodenbarr a clareza de raciocínio para elucidar crimes.
Outros personagens curiosos
pululam no texto. Há a amiga
lésbica que pensa com os hormônios, o policial cuja ocupação é perturbar Rhodenbarr, o
pintor que defende a pureza da
arte, mas vive de falsificações.
Pano de fundo ideal, Nova
York fornece os parques onde
Rhodenbarr faz jogging, os bares onde sua amiga flerta com
garçonetes, os edifícios luxuosos e de segurança inexpugnável -exceto para o livreiro-,
os museus em que telas de
Mondrian são surrupiadas.
Por fim, há os corpos, como
não poderia deixar de ser, mas
eles perdem a aura de pontos
de referência e são arremessados à categoria de acessórios.
Ao usar como principal agente um ladrão, o autor inverte o
conceito de ética característico
dos romances policiais. Em vez
de ajudar a polícia movido por
causas nobres, Rhodenbarr age
para salvar a própria pele.
Acompanhar a maneira como o personagem transita nesse fio de navalha é o maior prazer proporcionado pelo livro.
Mais do que um quebra-cabeças bem costurado, "O Ladrão Que Pintava como Mondrian" é um dos melhores
exemplos do triunfo da imaginação sobre a lógica.
(EF)
˛
Livro: O Ladrão Que Pintava como
Mondrian
Autor: Lawrence Block
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 21 (274 págs.)
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