São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 1999

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SUNDANCE
Documentários dominam o festival americano

AMIR LABAKI
enviado especial a Park City

Cumpriu-se a promessa do co-diretor Geoffrey Gilmore. Como nunca antes, o documentário reinou no Sundance Festival. Os premiados serão conhecidos hoje.
Nem o sisudo "The New York Times" resistiu. O enviado especial Bernard Weinraub foi seco e direto no parágrafo de abertura de seu artigo de capa do caderno cultural da última terça: "Esqueça filmes de ficção. O 15º Sundance Film Festival, a principal vitrine do cinema independente americano, está sendo desta vez dominada por uma avalanche de documentários de primeira classe".
Que filmes são esses, afinal? A safra 99 do Sundance deixa para trás a dominante tendência egocêntrica desta década. Em vez de rodar em torno do umbigo dos cineastas, a câmera voltou a se aproximar das grandes histórias -mesmo de pequenos personagens- da cultura americana.
Dois títulos lideram as apostas com vistas ao prêmio principal. "American Movie" (Filme Americano) é quase um manifesto em defesa da produção radicalmente independente marginalizada com o crescimento do festival. Chris Smith retrata um jovem cineasta "no budget", Mark Borchardt.
O outro favorito é "Regret to Inform" (Sinto Informar). Barbara Sonneborn, a diretora, perdeu o marido na guerra do Vietnã. Purga a dor entrevistando outras viúvas, dos dois lados do conflito. É um raríssimo olhar sobre uma guerra já exaustivamente debatida nas telas.
"Return with Honour" (Volta com Honra) parece até uma espécie de resposta ao pacifismo internacionalista de Sonneborn. Exibido fora da competição, homenageia os pilotos americanos prisioneiros no Vietnã. Traz a assinatura de uma dupla premiada com o Oscar (Maya Lin), Freida Lee Mock e Terry Sanders. Gilmore é certeiro ao dizer que o Vietnã parece "uma guerra sobre a qual jamais todos vamos ter a mesma opinião".
O formato clássico não posiciona para prêmios três dos mais envolventes títulos da competição. Em "The Black Press: Soldiers without Swords" (Imprensa Negra: Soldados sem Espadas), Stanley Nelson resume um século de história do jornalismo afro-americano.
Os momentos mais reveladores tratam da distribuição clandestina de jornais voltados à comunidade negra nos discricionários Estados sulistas no início do século e da campanha pela igualdade de direitos a partir da crítica à segregação dos soldados na Segunda Guerra.
"Hitchcock, Selznick and the End of Hollywood", de Michael Epstein, mostra como a afirmação do diretor nos EUA coincidiu com o fim da hegemonia dos produtores e a derrocada do sistema dos grandes estúdios. Por fim, Chuck Workman sintetiza 50 anos de cultura beat nos 90 minutos de "The Source" (A Fonte). Não é para qualquer um.
"American Pimp" (Cafetão Americano) e "Sex: The Annabel Chong Story" (Sexo: A História de Annabel Chong) trataram dos temas mais apimentados. O estilo clipado do primeiro não surpreende ao se tratar da estréia no gênero dos irmãos Allen e Albert Hughes ("Menace 2 Society").
O segundo aposta no escândalo. Alterna a história da protagonista, uma pós-graduanda que decide bater o recorde mundial de relações sexuais num mesmo dia, com cenas da própria ciranda de parceiros -251 em dez horas.
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O jornalista Amir Labaki está em Park City como jurado da competição latino-americana



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