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SUNDANCE
Documentários dominam o festival americano
AMIR LABAKI
enviado especial a Park City
Cumpriu-se a promessa do co-diretor Geoffrey Gilmore. Como
nunca antes, o documentário reinou no Sundance Festival. Os premiados serão conhecidos hoje.
Nem o sisudo "The New York Times" resistiu. O enviado especial
Bernard Weinraub foi seco e direto
no parágrafo de abertura de seu artigo de capa do caderno cultural da
última terça: "Esqueça filmes de
ficção. O 15º Sundance Film Festival, a principal vitrine do cinema
independente americano, está sendo desta vez dominada por uma
avalanche de documentários de
primeira classe".
Que filmes são esses, afinal? A safra 99 do Sundance deixa para trás
a dominante tendência egocêntrica desta década. Em vez de rodar
em torno do umbigo dos cineastas,
a câmera voltou a se aproximar das
grandes histórias -mesmo de pequenos personagens- da cultura
americana.
Dois títulos lideram as apostas
com vistas ao prêmio principal.
"American Movie" (Filme Americano) é quase um manifesto em
defesa da produção radicalmente
independente marginalizada com
o crescimento do festival. Chris
Smith retrata um jovem cineasta
"no budget", Mark Borchardt.
O outro favorito é "Regret to Inform" (Sinto Informar). Barbara
Sonneborn, a diretora, perdeu o
marido na guerra do Vietnã. Purga
a dor entrevistando outras viúvas,
dos dois lados do conflito. É um raríssimo olhar sobre uma guerra já
exaustivamente debatida nas telas.
"Return with Honour" (Volta
com Honra) parece até uma espécie de resposta ao pacifismo internacionalista de Sonneborn. Exibido fora da competição, homenageia os pilotos americanos prisioneiros no Vietnã. Traz a assinatura
de uma dupla premiada com o Oscar (Maya Lin), Freida Lee Mock e
Terry Sanders. Gilmore é certeiro
ao dizer que o Vietnã parece "uma
guerra sobre a qual jamais todos
vamos ter a mesma opinião".
O formato clássico não posiciona
para prêmios três dos mais envolventes títulos da competição. Em
"The Black Press: Soldiers without
Swords" (Imprensa Negra: Soldados sem Espadas), Stanley Nelson
resume um século de história do
jornalismo afro-americano.
Os momentos mais reveladores
tratam da distribuição clandestina
de jornais voltados à comunidade
negra nos discricionários Estados
sulistas no início do século e da
campanha pela igualdade de direitos a partir da crítica à segregação
dos soldados na Segunda Guerra.
"Hitchcock, Selznick and the
End of Hollywood", de Michael
Epstein, mostra como a afirmação
do diretor nos EUA coincidiu com
o fim da hegemonia dos produtores e a derrocada do sistema dos
grandes estúdios. Por fim, Chuck
Workman sintetiza 50 anos de cultura beat nos 90 minutos de "The
Source" (A Fonte). Não é para
qualquer um.
"American Pimp" (Cafetão
Americano) e "Sex: The Annabel
Chong Story" (Sexo: A História de
Annabel Chong) trataram dos temas mais apimentados. O estilo
clipado do primeiro não surpreende ao se tratar da estréia no gênero
dos irmãos Allen e Albert Hughes
("Menace 2 Society").
O segundo aposta no escândalo.
Alterna a história da protagonista,
uma pós-graduanda que decide
bater o recorde mundial de relações sexuais num mesmo dia, com
cenas da própria ciranda de parceiros -251 em dez horas.
²
O jornalista
Amir Labaki está em Park City como jurado da competição latino-americana
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