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MÚSICA/LANÇAMENTO
Robopop
Dupla francesa Daft Punk lança "Discovery", quatro anos depois do aclamado "Homework"; o CD inclui cartão com um número de acesso a faixas disponíveis só na Internet
LEANDRO FORTINO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Após uma impecável "lição de
casa" (em inglês "Homework", álbum de 1996), a sensação da música eletrônica francesa, o duo
Daft Punk, volta à ativa com "Discovery" (Descoberta). Ou seria
"very disco" (muito disco music)?
Talvez sejam as duas coisas.
A dupla Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter faz agora o grande exame pelo
qual todo artista passa quando
lança o segundo disco após um
aclamado álbum de estréia: superar as expectativas e provar que o
novo trabalho mantém, no mínimo, o mesmo padrão do anterior.
O primeiro exame dessa prova
foi bem-sucedido. O single "One
More Time", lançado no final do
ano passado, estourou no mundo
todo e armou a cama para o lançamento de "Discovery".
É um trabalho diferente de "Homework". A simplicidade e crueza continuam, as batidas e pequenos samples de vocais se mantêm
repetitivos ao extremo e a criatividade permanece intocável.
Mas, desta vez, entram em ação
letras e vocais, ora falados por
uma voz robotizada, ora cantados
por vocalistas de house music.
E não é só isso. "Discovery" inclui um cartão, o Daft Club, com
um número, com o qual o proprietário do CD descarrega, via
Internet, o Daft Player (programa
para pegar e executar músicas no
computador), que tornará possível, a cada semana pelos próximos três anos, "puxar" uma música nova do Daft Punk.
O sistema é na verdade uma resposta ao Napster, que, durante o
hype em torno do lançamento de
"Discovery", fez pipocar músicas
falsas da dupla. Sobre isso e sobre
passar a usar máscaras e luvas de
robô em todo o trabalho promocional de "Discovery", Guy-Manuel de Homem-Christo, uma
das metades da dupla que influenciou abertamente a popstar
Madonna em seu último álbum,
deu à Folha a seguinte entrevista.
Folha - Você acha que o Daft Punk
deu identidade à música francesa?
Guy-Manuel de Homem-Christo -
Não. Somos da França e é verdade
que nada de bom estava sendo feito por lá nos últimos anos. A
França não é muito conhecida
por seus músicos. Só alguns, como (Serge) Gainsbourg. Não acho
que a nossa música é típica da
França. Não dá para comparar
com a música feita na Inglaterra
ou nos EUA. Mas estamos falando
de música eletrônica, de house
music, que é internacional e pode
ser feita em qualquer lugar.
Folha - Então você acha que o
chamado "french touch" é mais um
rótulo inventado pela imprensa?
Homem-Christo - Exatamente.
Não sei se é bom ou ruim, mas foi
criado pela imprensa, e não pelos
franceses. Rótulos dividem a música em categorias e limitam demais o trabalho do músico. A nossa música não tem limites. Tem
mais a ver com liberdade.
Folha - Por que vocês decidiram
usar luvas e máscaras de robôs?
Homem-Christo - Nosso principal interesse é criar coisas novas.
Criar música, que é a razão de
nosso trabalho, e coisas que rodeiam a música, como vídeos.
Usar máscaras é parte do processo de criação. É mais interessante
para nós fazer isso do que sermos
popstars, fazendo poses para fotos. Não estamos nessa de virarmos ídolos. Gostamos da idéia de
estar no mesmo nível das pessoas
que gostam das nossas músicas.
Folha - Vocês planejam levar
"Discovery" para o palco?
Homem-Christo - Ainda não temos planos para uma turnê. Criamos o Daft Club e este ano trabalharemos apenas nesse projeto.
Vamos disponibilizar novas músicas toda semana.
Folha - Mas, por enquanto, há
apenas uma faixa disponível.
Homem-Christo - É porque estamos no começo, que é muito difícil. Mas, nesta semana, haverá
mais uma faixa e, depois, colocaremos uma música nova por semana ou remixes. Será o nosso
trabalho neste ano: colocar à disposição músicas novas para
quem tem acesso ao Daft Club.
Folha - É verdade que algumas
faixas do Daft Punk que estão no
Napster não são suas?
Homem-Christo - Sim.
Folha - E o que você acha da polêmica criada em torno do Napster?
Homem-Christo - O bom do
Napster é que levantou questões.
Alguns tinham medo, outros ficaram muito felizes. Nossa resposta
ao Napster é o Daft Club. É uma
idéia nova e um jeito de driblar o
Napster sem atacá-lo. Nós também usávamos o Napster, não vejo problema. Se alguém resolver
colocar "Discovery" no Napster,
não há problema nenhum. Apenas sugerimos que é melhor comprar o disco, ficar membro do
Daft Club e pegar as nossas músicas novas toda semana.
Folha - Madonna afirmou gostar
muito do Daft Punk e, em seu último disco, algumas faixas parecem
bastante com as músicas de vocês.
Homem-Christo - É um grande
estímulo. Amamos a Madonna,
ela tem o talento de sempre fazer
coisas novas. Acho que temos isso
em comum. É estimulante ouvir
isso, mas não damos importância. Só nos deixa lisonjeados.
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