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TELEVISÃO
Acervo da emissora, que completa 50 anos em setembro, é recuperado e deve se transformar em fonte de lucro
Record transforma história em negócio
DA REPORTAGEM LOCAL
Doze anos depois de assumir o
controle da Record, a Igreja Universal descobre que o acervo da
emissora, que completa meio século em setembro, pode ser uma
importante fonte de renda.
A recuperação e organização
dos arquivos, que incluem imagens raras dos anos 50, deverão
consumir cerca de R$ 2 milhões.
A emissora, no entanto, diz
acreditar que em pouco tempo irá
recuperar o investimento. Com
um mínimo de planejamento, a
venda de imagens já rende algo
em torno de R$ 25 mil por mês.
A restauração já atrai até estrangeiros. O canal Discovery e a rede
britânica ITV, por exemplo, estão
comprando imagens de Caetano
Veloso, em especial dos "Festivais
de MPB", para produzir documentários sobre o cantor.
A "profissionalização" do acervo deverá contar com alguns ajustes na relação com a concorrência. Antes desestruturado e sem
controle, o arquivo não era vendido e chegava a ser usado por outros canais até sem autorização da
direção da emissora.
Nessa nova fase, o mais delicado
dos acertos deverá ser com Silvio
Santos, que foi sócio e apresentador da emissora nos anos 70 e 80.
Na semana passada, a Record
estudou a possibilidade de notificar o SBT pela exibição de um trecho de "Quem Tem Medo da Verdade?", dos anos 60. No programa, Roberto Carlos enfrentava
um "julgamento", em que era
acusado de desvirtuar os jovens.
Silvio Santos foi seu "advogado de
defesa", e o cantor foi absolvido.
"Temos que ver como lidar com
essa situação, porque o Silvio deve
ter imagens da época em que esteve aqui, mas elas pertencem à Record", disse à Folha Hélio Vargas,
diretor de programação.
A saia justa só não foi adiante
porque a Record está negociando
a participação de artistas do SBT,
Silvio Santos inclusive, em cinco
especiais sobre seus 50 anos.
Incêndios e raridades
Grande parte da memória da
Record foi perdida nos seis incêndios que a emissora enfrentou ao
longo de sua história. Além disso,
nos primeiros anos, sem videoteipe, a maior parte da programação
era ao vivo. Fora isso, sem noção
da importância da memória, produtores costumavam reutilizar os
rolos de película, muitas vezes
apagando programas históricos.
Parte do trabalho de reparação
do arquivo está sendo desenvolvida pelo Estúdio Mega, que, entre
outras coisas, atenua o chiado do
som e os chuviscos das imagens
mais antigas que sobraram.
Nesse garimpo, já foram encontradas cerca de 6.000 caixinhas
com reportagens filmadas em película 16mm, dos anos 50 e 60.
Há cenas importantes, uma vez
que filmar algo exigia um grande
investimento por parte da emissora. Dentre as raridades, estão o
registro da construção da ponte
Rio-Niterói e da avenida 23 de
maio, o enterro do presidente
Castello Branco, em 1967, e a reforma do Palácio dos Bandeirantes, no mesmo ano.
Há também muito material de
jornalismo internacional, desde
importantes batalhas da Guerra
do Vietnã até Jacqueline Kennedy
assistindo a um desfile de moda
na Índia, em 1962.
Especiais
A recuperação da memória
acontece no momento em que a
emissora completa meio século. A
Record, terceira emissora a entrar
no ar no país, estreou às 20h do
dia 27 de setembro de 1953. Foi a
"Globo" dos anos 60, quando viveu o "glamour" dos "Festivais de
MPB".
Cenas batidas, como Caetano
cantando "Alegria, Alegria" e Gil e
os Mutantes com "Domingo no
Parque", serão exibidas, agora
com mais qualidade, ao longo dos
cinco episódios do especial "Record 50 anos".
Wagner Matrone, diretor do
projeto, deixa claro que o objetivo
é homenagear a Record, mostrando "o melhor da emissora". O famoso chute que um bispo da Universal deu ao vivo numa imagem
de Nossa Senhora Aparecida, em
1985, claro, ficará de fora.
(LAURA MATTOS)
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