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HIP HOP
Marcelo D2 critica o sucesso fácil e reverencia o samba
O pesadelo do pop
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Está no ar o primeiro CD brasileiro oficialmente numerado pela
indústria fonográfica. Coincidência ou não, é o segundo disco solo
do rebelde rapper carioca Marcelo D2, 35, do Planet Hemp.
"À Procura da Batida Perfeita"
expande o interesse de D2 em utilizar bossa nova e samba como
matrizes fundadoras de sua música, ao lado dos habituais funk e
rap norte-americanos.
Brincando com a idéia de o hip
hop ser "o pesadelo do pop", ele já
abre o disco criticando os programas televisivos tipo "Fama",
Faustão, Hebe Camargo e a vitória da obsessão por sucesso e dinheiro sobre a "mera" música.
Para D2 o hip hop é, sim, o pesadelo do pop -usa o rapper branco americano Eminem para exemplificar. "Ele é o pesadelo do
pop, é tudo que podia dar errado
no pop, fala um monte de merda.
Ninguém gosta daquilo que ele
diz, mas nossos filhos compram."
Seu filho Stephan, 11, adora
Eminem, ele próprio nem tanto.
Mas acha que pode, sim, ser o pesadelo do pop no Brasil. "Sou um
cara na Sony Music falando mal
do Faustão e da Hebe e defendendo o uso de maconha..."
Mas, se nos EUA Eminem já é o
próprio pop, D2 admite que também procura isso no Brasil -ser
o pesadelo de si próprio. Por isso é
que tenta puxar para si o samba,
em referências e samples recorrentes durante o disco todo.
É algo que diz que rejeitou
quando era mais jovem e que não
poderia fazer no Planet Hemp,
que prioriza um hip hop mais ligado ao rock e ao punk. Mas sabe
que sua identidade passa por ali.
Por isso em "A Maldição do Samba" ele bole zombeteiramente com a sina sambista brasileira, mas termina com sample de pito
de Paulinho da Viola: "Tá legal, eu
aceito o argumento/ mas não me
altere o samba tanto assim...".
D2 conta que suou frio ao pedir
autorização a Paulinho. "No outro disco a mulher do Tom Jobim
negou uma autorização e ainda
achou que era uma afronta, um
desrespeito. Quando Paulinho
pediu para ler a letra, pensei: "Fodeu'". Mas não. Ele autorizou.
D2 admite uma relação ambígua com os sambistas, que em geral renegam americanizações e fusões pop. "Sinto que Beth Carvalho me vê com olhos de "o que está acontecendo?". Mas é outra época,
outra favela, outro asfalto, outra
guerra", afirma, dizendo entender que não exista muita gente fazendo samba de raiz.
Cria-se o paradoxo: o samba rejeita D2, que rejeita samplear, por
exemplo, a tropicália, bastião da
"impureza" na MPB. "Os conflitos não precisam ser inaceitáveis,
a gente tem que conviver com os
diferentes", ensina.
O assunto pula para a violência
no Rio de Janeiro e a média de três
vezes por semana em que D2 diz
ser parado e revistado pela polícia. Conta, algo sorridente, que
chegou a ter de descer do carro, filha pequena no colo, diante de
policiais armados de fuzis.
"Convivo com isso há muito
tempo, às vezes até luto para falar
que acho isso meio natural. Mas é
claro que é uma puta agressão",
reconhece, remetendo à letra de
"Vai Vendo". Ali, cita em tom crítico os personagens marginais do
filme "Cidade de Deus". "Quis dizer algo como "Zé Pequeno é o caralho, existe também o D2'".
Nem tudo tem funcionado pela
ótica da violência. Há poucos
dias, o Planet Hemp enfrentou em
Linhares (ES) uma passeata contra sua presença na cidade.
Ainda sim, fez show lotado, sem
qualquer confronto com a polícia.
D2 foi a um programa evangélico
de rádio se defender em pessoa.
"Pelo menos já rola conversa, não
é mais aquela parada da polícia
entrando e prendendo."
Sobre a possível lei de criminalização do jabá (dinheiro pago por
gravadoras para executar músicas
em rádio e TV), é sua vez de subir
em cima do muro: "Não quero
me meter nisso. Acho bom que
minha música toque, não quero
saber se com jabá ou não".
O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora Sony.
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