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CRÍTICA
Narrativa mostra atrocidades de regime
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Osama" está para o Afeganistão um pouco como
"A História Oficial" (85) para a
Argentina: existe ali a urgência de
mostrar as atrocidades e a demência de um regime político.
É verdade que o filme de Siddiq
Barmak aprende certas boas lições do Irã (sobretudo) e evita a
dramaticidade e a retórica que caracterizam "A História Oficial" ao
narrar a história da menina, órfã
de pai, que a mãe força a se disfarçar de menino para trabalhar.
O que está em questão é o Taleban, suas milícias, seus mulás, seu
fanatismo. Diga-se, grosso modo,
que na visão dele o Taleban não é
tão diferente de outras ditaduras.
O que o torna ainda mais atroz é
o fanatismo religioso, que vincula
a repressão policial a uma ordem
extraterrena. Tudo isso soubemos
pelos noticiários vindos do Afeganistão. Pergunta-se: daqui a alguns anos o espectador menos informado tomará "Osama" por
uma simpática ficção ou pela expressão da realidade no país?
Essa é a questão. Quando surgiu, o cinema iraniano virou de
ponta-cabeça a idéia que a imprensa ocidental cultivara daquele país, não por suas reivindicações políticas, mas por mostrar o
quanto nossa visão era fundada
sobre estereótipos e distorcida.
"Osama" não pretende senão
reiterar a imagem que temos do
Taleban, e é provável que Barmak
esteja certo quanto à barbárie a
que submeteu o país. Ainda assim, se o alcance informativo do
filme pode ter sido atingido, do
ponto de vista do cinema, essa
postura logo mostra seus limites.
Os personagens parecem submetidos a um tempo estritamente
útil, classicizante. Diga-se, em todo caso, que informa de maneira
límpida. É bem mais que nada.
Osama
Osama
Direção: Siddiq Barmak
Produção: Afeganistão/Japão/Irlanda,
2003
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca
Unibanco Arteplex
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