São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Narrativa mostra atrocidades de regime

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Osama" está para o Afeganistão um pouco como "A História Oficial" (85) para a Argentina: existe ali a urgência de mostrar as atrocidades e a demência de um regime político.
É verdade que o filme de Siddiq Barmak aprende certas boas lições do Irã (sobretudo) e evita a dramaticidade e a retórica que caracterizam "A História Oficial" ao narrar a história da menina, órfã de pai, que a mãe força a se disfarçar de menino para trabalhar.
O que está em questão é o Taleban, suas milícias, seus mulás, seu fanatismo. Diga-se, grosso modo, que na visão dele o Taleban não é tão diferente de outras ditaduras.
O que o torna ainda mais atroz é o fanatismo religioso, que vincula a repressão policial a uma ordem extraterrena. Tudo isso soubemos pelos noticiários vindos do Afeganistão. Pergunta-se: daqui a alguns anos o espectador menos informado tomará "Osama" por uma simpática ficção ou pela expressão da realidade no país?
Essa é a questão. Quando surgiu, o cinema iraniano virou de ponta-cabeça a idéia que a imprensa ocidental cultivara daquele país, não por suas reivindicações políticas, mas por mostrar o quanto nossa visão era fundada sobre estereótipos e distorcida.
"Osama" não pretende senão reiterar a imagem que temos do Taleban, e é provável que Barmak esteja certo quanto à barbárie a que submeteu o país. Ainda assim, se o alcance informativo do filme pode ter sido atingido, do ponto de vista do cinema, essa postura logo mostra seus limites.
Os personagens parecem submetidos a um tempo estritamente útil, classicizante. Diga-se, em todo caso, que informa de maneira límpida. É bem mais que nada.


Osama
Osama
   
Direção: Siddiq Barmak
Produção: Afeganistão/Japão/Irlanda, 2003
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Unibanco Arteplex



Texto Anterior: Comentário: Na pobreza, diretor vive exilado em favela
Próximo Texto: "De Passagem": Diretor estréia com odisséia urbana e lírica
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.