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Cópia restaurada da comédia "Quanto Mais Quente Melhor", clássico de Billy Wilder, estréia hoje em São Paulo como homenagem ao diretor
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Ainda mais quente
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
Tony Curtis, que completa 77
anos na próxima segunda-feira,
estava com a corda toda quando
falou à Folha sobre sua carreira. O
ator norte-americano espezinhou
a ex-mulher Janet Leigh, declarou
sua apreciação pelo cult "Matrix"
e insinuou ter dividido os lençóis
com Marilyn Monroe (1926-62).
Agora, chega ao Cinesesc, em
São Paulo, o clássico de Billy Wilder "Quanto Mais Quente Melhor", eleito pelo American Film
Institute como a melhor comédia
do século. Curtis, que teve uma
infância pobre no bairro do
Bronx, em Nova York, e começou
como dublê em filmes de ação,
deu duro em Hollywood. Rodou
mais de 60 filmes, alguns deles
com grandes cineastas, como Stanley Kubrick ("Spartacus"), Roman Polanski ("O Bebê de Rosemary") e, é claro, Billy Wilder,
morto em março deste ano.
"Wilder era divertidíssimo.
Costumava contar piadas, mas,
quando filmava, seguia o roteiro à
risca. Era o oposto de Kubrick,
uma figura mais introvertida, mas
que gostava de improvisar no
set." Nenhum dos dois, porém,
fez os filmes em que julga ter dado
o melhor de si. "Carol Reed, que
me dirigiu em "Trapézio", é meu
favorito. Mas meu melhor papel
foi em "O Homem que Odiava as
Mulheres", de Richard Fleischer."
Curtis protagonizou a cena de
"Spartacus" censurada por causa
do subtexto gay. "Eu era o escravo
de Laurence Olivier e estava lhe
dando banho. O texto falava de
preferências por ostras ou caracóis. Olivier gostava de ambos. A
censura cortou. Hoje passa como
algo inocente. Achei estúpido o
corte. A quem cabe julgar?"
E a quem cabe julgar Marilyn?
"Quando rodou "Quanto Mais
Quente Melhor", ela estava muito
fragilizada, destruída. O estúdio
queria despedi-la. Precisávamos
ser muito pacientes com ela."
Teria havido um caso entre os
dois? Existe uma frase muitas vezes repetida e atribuída ao ator na
qual ele teria dito que beijar Marilyn seria como beijar Hitler.
Curtis afirma que nunca falou isso. "Eu disse que beijá-la era como transar com ela", ele corrige.
Para o ator, na Hollywood atual,
quase nada se salva, com provável
exceção da filha que teve com Janet Leigh, a hoje famosa Jamie Lee
Curtis, e de "Matrix". "Os filmes
de hoje não fazem os espectadores pensar. Gostei de "Matrix", que
tem uma história quase mística
sobre a condição humana", acrescenta o ator, que não estrela nada
digno de nota há vários anos.
Não teria medo de ficar conhecido como o pai de Jamie Lee Curtis? "Não, tenho muito orgulho de
minha filha. Mas isso me recorda
algo que falei para um amigo. Ele
havia acabado de conhecer Jamie
e ficou encantado com ela. "Puxa,
Tony", ele disse, "ela é bonita, inteligente e tem um tremendo senso
de humor!". E eu respondi: "É, sorte dela não ter puxado a mãe"."
"Quanto Mais Quente Melhor"
não está fora dos planos do ator.
Curtis planeja estrear em Las Vegas um musical baseado no clássico. Seu papel? O do velho milionário que se apaixona por Jack Lemmon ao vê-lo travestido e que, ao descobrir que ele não é mulher,
retruca: "Ninguém é perfeito!".
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