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INSTANTÂNEOS POP
Entre as 56 obras em exposição, estão trabalhos que o artista americano fez na Bahia, onde descansava
Haring desenha contornos brasileiros
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre 1984 e 1987, Keith Haring
esteve quatro vezes no Brasil. Era
o período em que o artista alcançava o auge de sua popularidade e
ele vinha para a Bahia, na casa de
seu amigo Kenny Scharf, em
Ilhéus, para relaxar. Homossexual assumido, Haring flertava
com os baianos e desenhava seus
corpos, de forma realista, um trabalho pouco conhecido do artista,
cuja marca são as imagens que incorporam os grafites de rua de
Nova York, nos anos 80.
Alguns desses desenhos estão
na mostra que será aberta na próxima segunda, no Centro Cultural
Banco do Brasil (CCBB). Há uma
razão bastante óbvia para mostrá-los aqui, afinal são trabalhos realizados no Brasil. "Mas trata-se de
um conjunto feito com o coração,
que mostra um lado pessoal e sensitivo diferente de outras partes,
mais importantes, de sua obra",
diz Julia Gruen, diretora da Fundação Keith Haring e curadora da
mostra brasileira.
Gruen trabalhou diretamente
com Haring de 1984 a 1990, ano da
morte do artista. Desde então, dedica-se ao trabalho de difusão de
sua obra e às causas humanitárias
da fundação, criada pelo artista
ainda em vida, de suporte a crianças carentes e no combate à Aids.
Apesar de sua morte prematura, Haring deixou para a entidade
grande parte de seus trabalhos,
cerca de 25% do conjunto de sua
obra. "Muitas vezes ele se recusou
a vender obras em galerias pois
queria ter um amplo espectro de
seus desenhos e pinturas, e isso
não estava diretamente relacionado com a Aids. Ele queria ter uma
boa coleção de suas obras", conta
Gruen.
Os desenhos de corpos brasileiros são uma parcela pequena das
56 obras expostas. Dois andares
do local são dedicados ao artista,
mas os limites físicos do prédio,
com suas salas expositivas estreitas, dificultam a correta fruição
das obras de Haring, algumas de
grandes tamanhos, com mais de
seis metros de comprimento.
"Quando Keith começou a expor, ele também gostava de
amontoar suas obras e, quando
havia espaço de sobra, ele desenhava nas paredes. Era uma forma de manter o caos de suas
obras no local da exposição. Apenas no fim de sua vida ele mudou
esse procedimento. Creio que, da
maneira que montamos a mostra
aqui, seu trabalho ganha mais força", afirma a curadora.
Bienal
Apenas em 1983 obras de Haring foram vistas na cidade, na 17ª
Bienal de São Paulo, quando o artista grafitou as paredes do prédio
projetado por Oscar Niemeyer.
"Como essa é de fato a primeira
exposição grande de Keith no
Brasil, decidimos trazer desenhos
fortes e importantes, além de algumas pinturas. Entretanto não
podemos chamá-la de retrospectiva, pois há parcela importante
de sua obra com colecionadores
privados, e organizamos essa
mostra apenas a partir do acervo
da fundação", diz Gruen.
Os desenhos estão na sala do segundo andar do CCBB, em sua
maioria feitos com a tinta sumi,
utilizada para a caligrafia japonesa. Entre os motivos, além dos
corpos brasileiros, há desenhos
sobre o belicismo norte-americano e cenas complexas. "Keith
nunca explicava suas obras. Para
ele, elas devem dialogar diretamente com o observador", afirma
a curadora. No mesmo piso, há
ainda documentos e um vídeo sobre o artista. Já as pinturas estão
no terceiro andar. Para Gruen,
mesmo com as dificuldades expositivas do CCBB, "o trabalho de
Keith ainda canta, mas em cada
lugar é uma música diferente".
(FCY)
KEITH HARING. Mostra com 56 obras do
artista norte-americano. Curadoria: Julia
Gruen. Onde: Centro Cultural Banco do
Brasil (r. Álvares Penteado, 112, Centro,
SP, tel. 0/xx/11/3113-3552). Quando:
abertura segunda, dia 2, às 20h; de ter. a
dom., das 12h às 20h. Até 20/7. Quanto:
entrada franca.
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