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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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INSTANTÂNEOS POP

Entre as 56 obras em exposição, estão trabalhos que o artista americano fez na Bahia, onde descansava

Haring desenha contornos brasileiros

DA REPORTAGEM LOCAL

Entre 1984 e 1987, Keith Haring esteve quatro vezes no Brasil. Era o período em que o artista alcançava o auge de sua popularidade e ele vinha para a Bahia, na casa de seu amigo Kenny Scharf, em Ilhéus, para relaxar. Homossexual assumido, Haring flertava com os baianos e desenhava seus corpos, de forma realista, um trabalho pouco conhecido do artista, cuja marca são as imagens que incorporam os grafites de rua de Nova York, nos anos 80.
Alguns desses desenhos estão na mostra que será aberta na próxima segunda, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Há uma razão bastante óbvia para mostrá-los aqui, afinal são trabalhos realizados no Brasil. "Mas trata-se de um conjunto feito com o coração, que mostra um lado pessoal e sensitivo diferente de outras partes, mais importantes, de sua obra", diz Julia Gruen, diretora da Fundação Keith Haring e curadora da mostra brasileira.
Gruen trabalhou diretamente com Haring de 1984 a 1990, ano da morte do artista. Desde então, dedica-se ao trabalho de difusão de sua obra e às causas humanitárias da fundação, criada pelo artista ainda em vida, de suporte a crianças carentes e no combate à Aids.
Apesar de sua morte prematura, Haring deixou para a entidade grande parte de seus trabalhos, cerca de 25% do conjunto de sua obra. "Muitas vezes ele se recusou a vender obras em galerias pois queria ter um amplo espectro de seus desenhos e pinturas, e isso não estava diretamente relacionado com a Aids. Ele queria ter uma boa coleção de suas obras", conta Gruen.
Os desenhos de corpos brasileiros são uma parcela pequena das 56 obras expostas. Dois andares do local são dedicados ao artista, mas os limites físicos do prédio, com suas salas expositivas estreitas, dificultam a correta fruição das obras de Haring, algumas de grandes tamanhos, com mais de seis metros de comprimento.
"Quando Keith começou a expor, ele também gostava de amontoar suas obras e, quando havia espaço de sobra, ele desenhava nas paredes. Era uma forma de manter o caos de suas obras no local da exposição. Apenas no fim de sua vida ele mudou esse procedimento. Creio que, da maneira que montamos a mostra aqui, seu trabalho ganha mais força", afirma a curadora.

Bienal
Apenas em 1983 obras de Haring foram vistas na cidade, na 17ª Bienal de São Paulo, quando o artista grafitou as paredes do prédio projetado por Oscar Niemeyer. "Como essa é de fato a primeira exposição grande de Keith no Brasil, decidimos trazer desenhos fortes e importantes, além de algumas pinturas. Entretanto não podemos chamá-la de retrospectiva, pois há parcela importante de sua obra com colecionadores privados, e organizamos essa mostra apenas a partir do acervo da fundação", diz Gruen.
Os desenhos estão na sala do segundo andar do CCBB, em sua maioria feitos com a tinta sumi, utilizada para a caligrafia japonesa. Entre os motivos, além dos corpos brasileiros, há desenhos sobre o belicismo norte-americano e cenas complexas. "Keith nunca explicava suas obras. Para ele, elas devem dialogar diretamente com o observador", afirma a curadora. No mesmo piso, há ainda documentos e um vídeo sobre o artista. Já as pinturas estão no terceiro andar. Para Gruen, mesmo com as dificuldades expositivas do CCBB, "o trabalho de Keith ainda canta, mas em cada lugar é uma música diferente". (FCY)


KEITH HARING. Mostra com 56 obras do artista norte-americano. Curadoria: Julia Gruen. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, Centro, SP, tel. 0/xx/11/3113-3552). Quando: abertura segunda, dia 2, às 20h; de ter. a dom., das 12h às 20h. Até 20/7. Quanto: entrada franca.


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