São Paulo, sábado, 30 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Montagem se fundamenta em Artaud

especial para a Folha

Na descida aos infernos que "Cabaret Rimbaud" propõe, a atriz e diretora Helena Ignez conduz pela mão a filha Djin Sganzerla, atriz com formação no CPT -Centro de Pesquisas Teatrais, de Antunes Filho-, e que se parece bastante com a Helena de 30 anos atrás.
Além da "desorientação dos sentidos" proposta pelo poeta Arthur Rimbaud em "Uma Temporada no Inferno" e "Iluminações", Helena Ignez evoca também o teatro ritual de Artaud.
Nessa "viagem", dez atores, quatro músicos e três bailarinos personificam os vários aspectos da multifacetada personalidade de Rimbaud: o jovem "de pés no chão e cabeça roçando as nuvens", o amante de Verlaine, o servidor de Deus etc.
Segundo Helena, "todos, no elenco, têm uma qualidade especial, intensa: a beleza e graça de Sandro Karnas, o canto tuareg da marroquina Keltun Carrilho, que passou da diplomacia ao teatro, e Beto Rochenzel, ator da montagem histórica de "Macunaíma".
Essa "celebração, ou teatro experimental, cujo objetivo é o êxtase, mas que se ancora firmemente no texto do poeta", como explica Helena, teve uma primeira versão.
Chamava-se "Tai Show nº 1 - Todo Mundo Rouba Rimbaud". Na estréia em Salvador (97), as invocações a Satã provocaram "reações fortíssimas", principalmente de intelectuais: "O povão não, esse gostou, o negão de polegar para cima, e o turista italiano também". Em Barcelona, ainda em 97, repetiu-se a acusação de "espetáculo demoníaco".
Inflamada com a proibição do uso de fogos de artifício, "fundamental na montagem", Helena explodiu "um discurso anticolonialista, antifascista, inspirado no assassinato de Lorca: foi uma vingança por ele e por Glauber".
Parte do público se levantou e arrancou os cartazes da porta do teatro, que no dia seguinte não permitiu a encenação. O elenco foi para as ruas (as Ramblas): "Foi muito melhor, com o público jovem que é o nosso", lembra a triz.
Em outubro, eles voltam à Espanha, atendendo a convite do Festival de Teatro de Cádiz. (AM)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.