São Paulo, sábado, 30 de maio de 1998

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SEM CARTAZ
'Boogie Nights' e Godard saem logo das salas
"Titanic" naufraga bilheterias alheias

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

Você assistiu a "Boogie Nights - Prazer sem Limites"? E "Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal"?
Se não, saiba que perdeu a chance. E a culpa não foi exatamente sua. "Boogie Nights", o filme que permitiu a Burt Reynolds concorrer ao Oscar de melhor ator, e "Meia-Noite", filme-exceção de Clint Eastwood, ficaram pouco tempo em cartaz.
Isso significa dizer que os dois filmes estiveram em cartaz, respectivamente, por uma e duas semanas. Sim, "Boogie Nights" conseguiu a "proeza" de ficar apenas uma semana em cartaz - menos de uma, em algumas salas da região da avenida Paulista, graças às pré-estréias da quinta-feira.
Grosso modo, um filme estrangeiro chega às salas brasileiras por intermédio do distribuidor. Este monta um contrato com os exibidores e lança o produto em salas diversas. O acordo é uma "via de duas mãos", em que os distribuidores precisam das salas e os exibidores têm de aceitar alguns filmes "ruins" para poder exibir os "garantidos" sucessos de bilheteria dessas distribuidoras.
Usando o exemplo de "Boogie Nights": o filme, da New Line, produtora independente, é distribuído pela Warner Bros., uma "major", ou seja, grande empresa. As exibidoras Paris e Haway apresentaram o filme em algumas de suas salas.
A pesquisa que sempre fazem no primeiro fim-de-semana do filme apontou um público abaixo da média (gerente de marketing da Fox/Warner do Brasil não soube precisar os números à Folha, alegando que era um cálculo "complicado").
Luciana Kikuchi, gerente de marketing da Fox/Warner Bros., afirma que o filme foi mal nas bilheterias, mas não garante que isso se deu pela escolha errada de salas. "É um filme que agride o público de shopping, porém é exibido nesse espaço", diz o cineasta Carlos Reichenbach.
O professor de cinema e ensaísta Ismail Xavier, que se surpreendeu com a saída do filme, diz que foi um erro de lançamento. Ele também aponta uma questão pertinente, a da falta de estatísticas.
"É certo que filme com baixa bilheteria é "queimado', mas, desde o fim da Embrafilme, em 90, não temos acesso a dados", diz o ex-presidente da entidade, Carlos Augusto Calil.
A Folha procurou o sindicato dos distribuidores, o dos exibidores e a Federação Nacional do Cinema. Todos afirmaram que as estatísticas são feitas pelos exibidores e distribuidores.
O diretor da Lumière e da Severino Ribeiro Distribuidora, Bruno Wainer, é contra o sigilo do sindicato. "Nós até divulgamos, mas nenhuma distribuidora o faz. Isso é uma forma de poder. Detendo informações, é fácil controlar o mercado."
A Warner, mesmo prometendo, não divulgou à Folha os números sobre "Boogie Nights" até o fechamento desta edição.
O que ninguém negou, contudo, foi o "efeito Titanic". A superprodução ainda ocupa muitas salas em São Paulo, tirando espaço dos filmes que não arrebanham tanto público.
A agenda lotada obriga a exibição rápida dos filmes menores. O que vem exigindo, também, atenção redobrada do público.



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