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SEM CARTAZ
'Boogie Nights' e Godard saem logo das salas
"Titanic" naufraga
bilheterias alheias
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
Você assistiu a "Boogie Nights
- Prazer sem Limites"? E
"Meia-Noite no Jardim do Bem
e do Mal"?
Se não, saiba que perdeu a
chance. E a culpa não foi exatamente sua. "Boogie Nights", o
filme que permitiu a Burt Reynolds concorrer ao Oscar de melhor ator, e "Meia-Noite", filme-exceção de Clint Eastwood,
ficaram pouco tempo em cartaz.
Isso significa dizer que os dois
filmes estiveram em cartaz, respectivamente, por uma e duas
semanas. Sim, "Boogie Nights"
conseguiu a "proeza" de ficar
apenas uma semana em cartaz
- menos de uma, em algumas
salas da região da avenida Paulista, graças às pré-estréias da
quinta-feira.
Grosso modo, um filme estrangeiro chega às salas brasileiras por intermédio do distribuidor. Este monta um contrato
com os exibidores e lança o produto em salas diversas. O acordo
é uma "via de duas mãos", em
que os distribuidores precisam
das salas e os exibidores têm de
aceitar alguns filmes "ruins"
para poder exibir os "garantidos" sucessos de bilheteria dessas distribuidoras.
Usando o exemplo de "Boogie
Nights": o filme, da New Line,
produtora independente, é distribuído pela Warner Bros., uma
"major", ou seja, grande empresa. As exibidoras Paris e Haway apresentaram o filme em algumas de suas salas.
A pesquisa que sempre fazem
no primeiro fim-de-semana do
filme apontou um público abaixo da média (gerente de marketing da Fox/Warner do Brasil
não soube precisar os números à
Folha, alegando que era um cálculo "complicado").
Luciana Kikuchi, gerente de
marketing da Fox/Warner Bros.,
afirma que o filme foi mal nas
bilheterias, mas não garante que
isso se deu pela escolha errada de
salas. "É um filme que agride o
público de shopping, porém é
exibido nesse espaço", diz o cineasta Carlos Reichenbach.
O professor de cinema e ensaísta Ismail Xavier, que se surpreendeu com a saída do filme,
diz que foi um erro de lançamento. Ele também aponta uma
questão pertinente, a da falta de
estatísticas.
"É certo que filme com baixa
bilheteria é "queimado', mas,
desde o fim da Embrafilme, em
90, não temos acesso a dados",
diz o ex-presidente da entidade,
Carlos Augusto Calil.
A Folha procurou o sindicato
dos distribuidores, o dos exibidores e a Federação Nacional do
Cinema. Todos afirmaram que
as estatísticas são feitas pelos exibidores e distribuidores.
O diretor da Lumière e da Severino Ribeiro Distribuidora,
Bruno Wainer, é contra o sigilo
do sindicato. "Nós até divulgamos, mas nenhuma distribuidora o faz. Isso é uma forma de poder. Detendo informações, é fácil controlar o mercado."
A Warner, mesmo prometendo, não divulgou à Folha os números sobre "Boogie Nights"
até o fechamento desta edição.
O que ninguém negou, contudo, foi o "efeito Titanic". A superprodução ainda ocupa muitas salas em São Paulo, tirando
espaço dos filmes que não arrebanham tanto público.
A agenda lotada obriga a exibição rápida dos filmes menores.
O que vem exigindo, também,
atenção redobrada do público.
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