São Paulo, sábado, 30 de maio de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice "O Nordeste vive a ressaca do regime militar", diz Azevedo
SYLVIA COLOMBO Gilberto Freyre, em "Nordeste" O mercado fonográfico das regiões Sul e Sudeste está mais receptivo à música nordestina. É o que pensam Geraldo Azevedo -que acha que vivemos a "ressaca do regime militar"- e Elba Ramalho -que aposta no crescimento turístico como justificativa. Os dois acabam de lançar disco novo: Azevedo, uma antologia de sua carreira, e Elba, um álbum de forró (leia texto ao lado). "Raízes e Frutas", o CD duplo que reúne o melhor da carreira do cantor e compositor pernambucano Geraldo Azevedo segue uma taxionomia própria. O primeiro disco é "Frutas" -doces como o mel que, segundo o sociólogo Gilberto Freyre, rega a alma dos homens do Nordeste-, que reúne canções açucaradas, embaladas pelo violão sertanejo. Em "Raízes", o segundo disco, estão os ritmos afro-brasileiros da região. Aí impera a música regional, com ênfase para o forró. "Estou vivendo um momento feliz, porque o interesse da juventude pela música nordestina está crescendo", disse Azevedo. Comemorando 25 anos de carreira -a estréia em disco foi em 1972, ao lado do também pernambucano Alceu Valença-, o cantor não esconde seu otimismo. "O Brasil vive a ressaca do regime militar. As pessoas começam a olhar a cultura nordestina sem o preconceito em relação a ela que caracterizou a época." Mas não é o mangue beat e a axé music que encabeçam esse interesse juvenil? Azevedo discorda. "O Nordeste está produzindo bons violeiros e cantadores, além de novas bandas de forró." As 19 músicas que compõem a antologia foram escolhidas por ele e por Robertinho do Recife, que produziu o disco. Curiosamente, ficaram de fora algumas passagens importantes, como "O Bicho de Sete Cabeças". Representando a tríade Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, aparece "Táxi Lunar", revista com sopros em evidência. "Preferi fazer o disco sem convidados, porque queria reler as minhas próprias interpretações", diz o cantor. Só Zé Ramalho aparece, em "O Amanhã é Distante", uma versão de "Tomorrow Is a Long Time", de Bob Dylan. Curiosa também é a gravação de "Caravana" (de Azevedo e Valença) com a participação da "Orquestra Filarmônica de L. A." (!!!). Azevedo explica: "L. A. não é Los Angeles, é a abreviatura de Luiz Antonio, nosso arranjador". "Raízes e Frutos" comemora um momento em que o forró está em moda e termina lembrando: "O inglês da ferrovia/escreveu no barracão/for all, for all, for all/foi então que o pau comeu/nunca mais sentou o pó" (Geraldo Azevedo e Capinan). Disco: Frutos e Raízes Artista: Geraldo Azevedo Lançamento: BMG Preço: R$ 35 (o CD, em média) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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