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Elba Ramalho exibe sua alegria
nostálgica em "Flor da Paraíba"
da Redação
"Quem aprende sua língua pode
falar todas as línguas", diz Elba
Ramalho. Então, quem fala "paraibano" fala bem "baiano",
"pernambucano", "paulista", o
que for. Quem é do Nordeste gosta
de forró. Essa lógica inusitada é da
cantora paraibana e de seu "Flor
de Paraíba", disco que acaba de
ser lançado pela BMG.
O disco reúne composições de
artistas -novos e tradicionais-
de vários cantos do país, mas a linguagem é uma só: o forró.
A Bahia fornece letras de Carlinhos Brown e Caetano Veloso,
Pernambuco, de Lenine e Dominguinhos, o Maranhão, de Zeca Baleiro, o Paraná, de Itamar Assumpção (que é radicado em São
Paulo), e a Paraíba, além da própria Elba, do músico Chico César.
O álbum é um retorno ao início
de sua carreira. Carreira esta que
já passeou pela música latina, com
o álbum "Devora-me" (96) e recebeu críticas dos conterrâneos.
"Na verdade, o início da minha
carreira foi como baterista de uma
banda de rock", lembra Elba.
Dona de uma casa em Trancoso
(BA), ela conta que tem estado impressionada com o número de
paulistas que, ao visitar a região,
curtem o forró com a mesma intensidade que os nativos. "Vi que
todo mundo está gostando de forró de novo, por isso resolvi dar este presente para o meu público."
Para a cantora, a política de incentivo ao turismo dos governos
do Ceará, Pernambuco e Paraíba
ajudou a "abrir a cabeça das pessoas para a cultura nordestina".
Vai ainda mais longe: "Vivemos
uma época em que os muros
caem. Há uma revolução espiritual, e o conceito que o país tem de
si mesmo mudou. Nesse contexto,
o Nordeste deixou de parecer ser
um lugar de pessoas "inferiores"'.
Ela concorda com Azevedo
quanto ao período de "trevas"
em que viveu a música nordestina.
Mas aponta para as portas que a
tropicália teria aberto para sua geração. "Gil, Caetano e companhia
não monopolizaram o espaço intencionalmente. Quem fez isso
com eles foi a mídia. Agora, por
causa deles, o caminho está trilhado. Eu e muitos artistas fomos beneficiados com o trabalho deles."
Assim como a antologia de Geraldo Azevedo, o disco de Elba é
produzido por Robertinho do Recife. As fotos da capa são do artista
paulista Fábio Delduque.
Das 13 músicas que compõem o
álbum, apenas "Casa, Comida e
Paixão" (Dominguinhos/Fausto
Nilo) foge ao ritmo frenético e encarna a também nordestina serenidade.
Ela conta que montou o repertório conversando com amigos.
Brown deu a ela "São Xangô Menino", como parte do repertório
que produziu para ser "gasto" até
o ano 2.000. Caetano entregou a
ela "Zé Esteves", na carona da
trilha sonora do filme "Tieta".
Escala também o time dos clássicos: Dominguinhos, Luiz Gonzaga
e Gordurinha.
Apesar da "alegria nordestina"
que Elba alega ter disseminado no
disco, o tom nostálgico quanto aos
costumes da região é visível, como
em "Lavadeira do Rio" (Lenine):
"Ô Rita, tu sai da janela/que as
moça deste lugar/nem se demora a
donzela/nem se destina a casar".
(SC)
Disco: Flor da Paraíba
Artista: Elba Ramalho
Lançamento: BMG
Preço: R$ 18 (o CD, em média)
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