São Paulo, sábado, 30 de maio de 1998

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Elba Ramalho exibe sua alegria nostálgica em "Flor da Paraíba"

da Redação

"Quem aprende sua língua pode falar todas as línguas", diz Elba Ramalho. Então, quem fala "paraibano" fala bem "baiano", "pernambucano", "paulista", o que for. Quem é do Nordeste gosta de forró. Essa lógica inusitada é da cantora paraibana e de seu "Flor de Paraíba", disco que acaba de ser lançado pela BMG.
O disco reúne composições de artistas -novos e tradicionais- de vários cantos do país, mas a linguagem é uma só: o forró.
A Bahia fornece letras de Carlinhos Brown e Caetano Veloso, Pernambuco, de Lenine e Dominguinhos, o Maranhão, de Zeca Baleiro, o Paraná, de Itamar Assumpção (que é radicado em São Paulo), e a Paraíba, além da própria Elba, do músico Chico César.
O álbum é um retorno ao início de sua carreira. Carreira esta que já passeou pela música latina, com o álbum "Devora-me" (96) e recebeu críticas dos conterrâneos.
"Na verdade, o início da minha carreira foi como baterista de uma banda de rock", lembra Elba.
Dona de uma casa em Trancoso (BA), ela conta que tem estado impressionada com o número de paulistas que, ao visitar a região, curtem o forró com a mesma intensidade que os nativos. "Vi que todo mundo está gostando de forró de novo, por isso resolvi dar este presente para o meu público."
Para a cantora, a política de incentivo ao turismo dos governos do Ceará, Pernambuco e Paraíba ajudou a "abrir a cabeça das pessoas para a cultura nordestina". Vai ainda mais longe: "Vivemos uma época em que os muros caem. Há uma revolução espiritual, e o conceito que o país tem de si mesmo mudou. Nesse contexto, o Nordeste deixou de parecer ser um lugar de pessoas "inferiores"'.
Ela concorda com Azevedo quanto ao período de "trevas" em que viveu a música nordestina. Mas aponta para as portas que a tropicália teria aberto para sua geração. "Gil, Caetano e companhia não monopolizaram o espaço intencionalmente. Quem fez isso com eles foi a mídia. Agora, por causa deles, o caminho está trilhado. Eu e muitos artistas fomos beneficiados com o trabalho deles."
Assim como a antologia de Geraldo Azevedo, o disco de Elba é produzido por Robertinho do Recife. As fotos da capa são do artista paulista Fábio Delduque.
Das 13 músicas que compõem o álbum, apenas "Casa, Comida e Paixão" (Dominguinhos/Fausto Nilo) foge ao ritmo frenético e encarna a também nordestina serenidade.
Ela conta que montou o repertório conversando com amigos. Brown deu a ela "São Xangô Menino", como parte do repertório que produziu para ser "gasto" até o ano 2.000. Caetano entregou a ela "Zé Esteves", na carona da trilha sonora do filme "Tieta".
Escala também o time dos clássicos: Dominguinhos, Luiz Gonzaga e Gordurinha.
Apesar da "alegria nordestina" que Elba alega ter disseminado no disco, o tom nostálgico quanto aos costumes da região é visível, como em "Lavadeira do Rio" (Lenine): "Ô Rita, tu sai da janela/que as moça deste lugar/nem se demora a donzela/nem se destina a casar".
(SC)

Disco: Flor da Paraíba
Artista: Elba Ramalho
Lançamento: BMG
Preço: R$ 18 (o CD, em média)



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