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CRÍTICA
Filme simula travessia bíblica
LEON CAKOFF
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A grande virtude da nova
produção Disney não foge à
sua própria regra: humaniza os
dinossauros com sentimentos. O
fascínio pelos dinossauros tem aí
a sua primeira chave. Que mundo
seria então aquele sem homens e
mitologia? A magnífica abertura
oferece um passeio panorâmico
com milhares de dinossauros em
campo aberto, misturando paisagens naturais com animação.
O "milagre" da recriação em
3D, que consumiu US$ 200 milhões e 3,2 milhões de horas em
processamento de dados, enche a
tela com a fauna do Cretáceo Superior. Qual dessas figuras refletiria a imagem de Deus?
O filme dos estreantes Ralph
Zondag e Eric Leighton é uma
bênção para os dinomaníacos que
se deixam fascinar pelos dilemas
da criação. O que somos, de onde
viemos e para onde vamos será
um pouquinho respondido por
este filme pela simples provocação de dar sentimento a criaturas
vistas como monstruosas e que
ocuparam o "nosso" espaço na
Terra há 65 milhões de anos.
Os "terríveis lagartos" da Disney, além dos dons da fala e da sociabilidade, agem com bom senso. Comportam-se exemplarmente para não decepcionar os
dinomaníacos adultos. A vantagem é grande, em se tratando de
produto Disney: ao menos eles
não se metem a besta e cantam.
"Dinossauro" praticamente começa pelo apocalipse, o mergulho
de meteoros na Terra para depois
sugerir com seus "personagens"
uma dolorosa travessia bíblica,
cheia de provações, como as de
Moisés. Otimista, o filme conduz
os nossos dinossauros a um oásis.
Igualmente bíblica é a inspiração da travessia do ovo do iguanodonte até ser chocado com segurança em uma ilha paradisíaca,
adotado como Tarzan por uma
família de lêmures, e crescer com
o espírito positivo de liderança. Já
adolescente, ele será Aladar, o
protagonista do filme.
A sequência da travessia do inocente ovo do dinossauro herbívoro por bocas de raptores justifica a
criação e o emprego eletrizante do
que a produção batizou como
"dino-cam", uma câmera computadorizada que atingia a velocidade de 50 km, era suspensa por cabos a 50 metros do solo, rodava a
250 quadros por segundo (contra
os 24 de uma filmagem normal) e
girava 360 graus. É inevitável a
sensação de cumplicidade.
Para os cinéfilos, há um jogo de
anacronismos, já que o roteiro de
"Dinossauro" foi escrito por Walon Green, 64, autora de um dos
melhores roteiros de faroeste: de
"Meu Ódio Será a Sua Herança"
(1969), de Sam Peckinpah.
Nesse clássico de grandeza shakespeariana, um bando de obstinados se batia desatento à passagem do tempo. Com os dinossauros, o tempo é a natureza de todos
os suplícios. Ninguém regride milhões de anos impunemente.
Avaliação:
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