São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2000


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MEMÓRIA
Artista unia talento e elegância

JOSÉ GERALDO COUTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se fosse necessário definir Vittorio Gassman em uma única palavra, ela seria elegância.
Seu talento, ao mesmo tempo exuberante e controlado, lhe permitia brilhar no palco ou na tela nos registros mais variados, fosse sob a batuta de um Visconti (no teatro) ou no mais medíocre filmeco de Cinecittà ou Hollywood.
Mas o que o distinguia da quase totalidade dos outros era a nobreza essencial que infundia em cada um de seus personagens, mesmo que fosse o empresário inescrupuloso de "Esse Crime Chamado Justiça" (Dino Risi, 71), o desastrado cavaleiro de "O Incrível Exército de Brancaleone" (Mario Monicelli, 65), ou o assaltante pé-de-chinelo de "Os Eternos Desconhecidos" (Monicelli, 58).
Formado no teatro, Gassman sabia livrar-se dos excessos histriônicos da ribalta ao ver-se diante da câmera de cinema. Podia ser intenso ou econômico, ou ambas as coisas, de acordo com a necessidade. Um exemplo singelo: em "Nós Que Nos Amávamos Tanto" (74), de Ettore Scola, em que interpreta um advogado que "se vende ao sistema", seu personagem reencontra um amigo dos tempos de juventude e idealismo. Abraça-o calorosamente, mas num átimo seu rosto se ensombrece, expressando ao mesmo tempo angústia, culpa e melancolia. Tudo sem nenhuma palavra, e com uma sutileza assombrosa, que só a câmera pode captar.
Qualquer filme com Vittorio Gassman vale o ingresso, mesmo que seja apenas um abacaxi em que ele interpreta um amante latino ou um aventureiro de folhetim. Pois sua classe está presente em todas as circunstâncias. Num palácio ou numa favela, num navio pirata ou na rua, é um rei circulando entre os plebeus.


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