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MEMÓRIA
Artista unia talento e elegância
JOSÉ GERALDO COUTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Se fosse necessário definir Vittorio Gassman em uma única palavra, ela seria elegância.
Seu talento, ao mesmo tempo
exuberante e controlado, lhe permitia brilhar no palco ou na tela
nos registros mais variados, fosse
sob a batuta de um Visconti (no
teatro) ou no mais medíocre filmeco de Cinecittà ou Hollywood.
Mas o que o distinguia da quase
totalidade dos outros era a nobreza essencial que infundia em cada
um de seus personagens, mesmo
que fosse o empresário inescrupuloso de "Esse Crime Chamado
Justiça" (Dino Risi, 71), o desastrado cavaleiro de "O Incrível
Exército de Brancaleone" (Mario
Monicelli, 65), ou o assaltante pé-de-chinelo de "Os Eternos Desconhecidos" (Monicelli, 58).
Formado no teatro, Gassman
sabia livrar-se dos excessos histriônicos da ribalta ao ver-se diante da câmera de cinema. Podia ser
intenso ou econômico, ou ambas
as coisas, de acordo com a necessidade. Um exemplo singelo: em
"Nós Que Nos Amávamos Tanto"
(74), de Ettore Scola, em que interpreta um advogado que "se
vende ao sistema", seu personagem reencontra um amigo dos
tempos de juventude e idealismo.
Abraça-o calorosamente, mas
num átimo seu rosto se ensombrece, expressando ao mesmo
tempo angústia, culpa e melancolia. Tudo sem nenhuma palavra, e
com uma sutileza assombrosa,
que só a câmera pode captar.
Qualquer filme com Vittorio
Gassman vale o ingresso, mesmo
que seja apenas um abacaxi em
que ele interpreta um amante latino ou um aventureiro de folhetim. Pois sua classe está presente
em todas as circunstâncias. Num
palácio ou numa favela, num navio pirata ou na rua, é um rei circulando entre os plebeus.
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