UOL


São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ERUDITO

Brasileiro conduz a Filarmônica de NY e a Orquestra da Filadélfia, duas das mais importantes sinfônicas americanas

Roberto Minczuk rege "Ferraris" dos EUA

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro brasileiro Roberto Minczuk, 36, cumpre agora em julho uma agenda que poucos colegas seus experimentaram alguma vez em suas carreiras, sobretudo com tão pouca idade: rege em oito récitas a Filarmônica de Nova York e em mais duas a Orquestra da Filadélfia. São duas portentosas "Ferraris" da música sinfônica norte-americana.
Em outubro do ano passado, Minczuk foi escolhido pelo diretor musical Lorin Maazel e pelos músicos da Nova York como regente associado.
No próximo dia 10, em concerto ao ar livre no Central Park, entre os seis compositores programados, ele regerá os brasileiros Camargo Guarnieri ("Dança Brasileira") e Villa-Lobos ("Prelúdio das Bachianas Nš 4").
Minczuk é também diretor artístico-adjunto da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Trompista de formação, estudou regência na Julliard, nos Estados Unidos, e trabalhou na Gewandhaus, de Leipzig (Alemanha). Aos 27 anos se tornou regente da Sinfônica da Universidade de Brasília e a seguir da Sinfônica de Ribeirão Preto.
Leia abaixo os principais trechos de sua entrevista à Folha.
 

Folha - É frequente maestros brasileiros regerem grandes orquestras no exterior?
Roberto Minczuk -
Em verdade não é fácil saber ao certo, já que no Brasil se divulga pouco o histórico de nossos artistas. Há o Eleazar de Carvalho, o Isaac Karabtchevsky e o John Neschling, que regeram orquestras importantes. Camargo Guarnieri regeu suas composições nos Estados Unidos. Villa-Lobos fez o mesmo na França.

Folha - Daria para falar de uma "escola de regência brasileira"?
Minczuk -
Creio que não. Há sempre casos individuais, mais ou menos como no tênis. Não existe uma escola brasileira de pessoas que praticam esse esporte.

Folha - O que significa ser "regente associado" da Nova York?
Minczuk -
Essas designações variam de orquestra para orquestra. Na de Nova York o último "associado" foi Leonard Bernstein, quando trabalhou ao lado de Bruno Walter. A função deixou em seguida de ser preenchida. Chegaram a ter regentes assistentes, como o Cláudio Abbado. O assistente não rege tanto a orquestra quanto o associado, ainda na terminologia interna de lá.

Folha - Boa parte dos concertos que o sr. regerá serão ao ar livre. Qual o significado deles na temporada da orquestra?
Minczuk -
É um dos compromissos anuais que a orquestra assume com a cidade e com a população. Eu regerei seis concertos em parques de Nova York, dois deles no Central Park. Regerei também no Vail Valley Festival, no Estado do Colorado, onde os músicos da filarmônica serão residentes no final do mês. O Lorin Maazel rege quatro concertos e eu, dois. Em novembro estrearei num dos concertos regulares da temporada de assinaturas.

Folha - Com um sobrenome russo, os músicos da orquestra o reconhecem como brasileiro?
Minczuk -
Eu me coloco como brasileiro em todas as circunstâncias. Ser descendente de russos, ter tido uma formação nos Estados Unidos e ter trabalhado na Alemanha são só detalhes.

Folha - Há a possibilidade de Nova York exigir mais do sr. nas próximas temporadas, obrigando-o a abandonar a Osesp?
Minczuk -
A possibilidade está excluída. Eu regerei a Osesp no ano que vem um pouco mais que nos oito ou nove programas deste ano. Há também os CDs que gravamos, um deles com as "Bachianas" 7, 8 e 9, outro com danças brasileiras de vários compositores. Gravaremos outro CD no final do ano, para concluir a série das "Bachianas" do Villa-Lobos. Há ainda minha participação na turnê que a Osesp fará no segundo semestre à Europa.

Folha - Seu nome foi citado por sites norte-americanos como opção para a direção de orquestras de médio porte. Há algo de concreto?
Minczuk -
Já recebi alguns convites. Mas não tenho pressa. Estou muito feliz com tudo o que estou fazendo. Adoro meu trabalho com a Osesp e com Neschling. Gosto de viver no Brasil e de estar criando meus filhos aqui. Não há em mim ansiedade.


Texto Anterior: Artes cênicas: "Gingado" cativa público francês em Montpellier
Próximo Texto: Panorâmica - Música: Paul McCartney planeja show em Cuba
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.