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ANÁLISE
Personalidade forte foi sua marca
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A Katharine Hepburn que
morre aos 96 anos coberta de
Oscar de melhor atriz (quatro) e
da admiração geral nem sempre
foi unanimidade.
Bem pelo contrário: para começar, depois de se revelar na Broadway, parecia não fazer nenhuma
questão de pôr os pés em Hollywood.
Por isso exigiu mundos e fundos da RKO para rodar "Vítimas
do Divórcio" ao lado de John
Barrymore, dirigida por George
Cukor. A companhia aceitou, o
filme fez sucesso.
Hepburn fez novas exigências
salariais para assinar um contrato
de longa duração. A RKO aceitou.
Isso parecia ser o início de uma
trajetória linear de sucesso, idéia
que só pôde ser reforçada depois
que Hepburn ganhou o Oscar de
melhor atriz, já em 1933, com seu
terceiro filme, "Manhã de Glória",
de Lowell Sherman.
Logo a RKO veria que a atriz,
embora muito profissional, estava longe de aceitar o figurino
hollywoodiano. Gostava de andar
sem maquiagem, não dava autógrafos, regulava entrevistas. O que
hoje se costuma chamar de franqueza, na época, era tido como arrogância.
Com isso, em pouco tempo colocar Katharine num primeiro
papel equivalia a praticamente
garantir o fracasso de um filme. E
o fracasso de "Levada da Breca", a
grande surpresa de 1938 nos
meios cinematográficos, parecia
dar a entender que a carreira da
atriz estava terminada.
Mas agora ela estava disposta a
ir em frente. Comprou os direitos
de "Núpcias de Escândalo" e, assim, a possibilidade de escolher o
diretor (o mesmo George Cukor,
que a lançara em 1931) e o elenco
do filme. A produção da MGM foi
um sucesso e a relançou como estrela.
Spencer Tracy
Talvez outro fator essencial no
sucesso que se seguiu tenha sido o
encontro com Spencer Tracy, em
"A Mulher do Dia" (42), com
quem a partir daí ela faria uma
dupla de sucesso em oito filmes e
que, sobretudo, seria o homem de
sua vida.
No último filme com Tracy,
"Adivinhe quem Vem para o Jantar?" (1967), de Stanley Kramer,
ganhou o seu segundo Oscar. Em
1968, repetiria a dose por "O Leão
no Inverno", onde encarava um
grupo de atores britânicos (Peter
O'Toole, Anthony Hopkins, Nigel
Terry etc.) e nem de longe passava
vergonha.
O Oscar final, por "Num Lago
Dourado" (81), de Mark Rydell,
apenas veio confirmá-la, com
mais de 70 anos, como grande dama do cinema americano.
Na verdade, Hepburn triunfara
sobre a máquina hollywoodiana,
diante de quem ousara ser independente desde os anos 30, e sobre os preconceitos do público, a
quem no fundo Hollywood representava.
Mostrara-se capaz de interpretar tanto dramas como comédias
e tragédias. Impusera aquilo que
para ela era indispensável para se
tornar uma estrela: a personalidade forte.
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