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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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ANÁLISE

Personalidade forte foi sua marca

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A Katharine Hepburn que morre aos 96 anos coberta de Oscar de melhor atriz (quatro) e da admiração geral nem sempre foi unanimidade.
Bem pelo contrário: para começar, depois de se revelar na Broadway, parecia não fazer nenhuma questão de pôr os pés em Hollywood.
Por isso exigiu mundos e fundos da RKO para rodar "Vítimas do Divórcio" ao lado de John Barrymore, dirigida por George Cukor. A companhia aceitou, o filme fez sucesso.
Hepburn fez novas exigências salariais para assinar um contrato de longa duração. A RKO aceitou. Isso parecia ser o início de uma trajetória linear de sucesso, idéia que só pôde ser reforçada depois que Hepburn ganhou o Oscar de melhor atriz, já em 1933, com seu terceiro filme, "Manhã de Glória", de Lowell Sherman.
Logo a RKO veria que a atriz, embora muito profissional, estava longe de aceitar o figurino hollywoodiano. Gostava de andar sem maquiagem, não dava autógrafos, regulava entrevistas. O que hoje se costuma chamar de franqueza, na época, era tido como arrogância.
Com isso, em pouco tempo colocar Katharine num primeiro papel equivalia a praticamente garantir o fracasso de um filme. E o fracasso de "Levada da Breca", a grande surpresa de 1938 nos meios cinematográficos, parecia dar a entender que a carreira da atriz estava terminada.
Mas agora ela estava disposta a ir em frente. Comprou os direitos de "Núpcias de Escândalo" e, assim, a possibilidade de escolher o diretor (o mesmo George Cukor, que a lançara em 1931) e o elenco do filme. A produção da MGM foi um sucesso e a relançou como estrela.

Spencer Tracy
Talvez outro fator essencial no sucesso que se seguiu tenha sido o encontro com Spencer Tracy, em "A Mulher do Dia" (42), com quem a partir daí ela faria uma dupla de sucesso em oito filmes e que, sobretudo, seria o homem de sua vida.
No último filme com Tracy, "Adivinhe quem Vem para o Jantar?" (1967), de Stanley Kramer, ganhou o seu segundo Oscar. Em 1968, repetiria a dose por "O Leão no Inverno", onde encarava um grupo de atores britânicos (Peter O'Toole, Anthony Hopkins, Nigel Terry etc.) e nem de longe passava vergonha.
O Oscar final, por "Num Lago Dourado" (81), de Mark Rydell, apenas veio confirmá-la, com mais de 70 anos, como grande dama do cinema americano.
Na verdade, Hepburn triunfara sobre a máquina hollywoodiana, diante de quem ousara ser independente desde os anos 30, e sobre os preconceitos do público, a quem no fundo Hollywood representava.
Mostrara-se capaz de interpretar tanto dramas como comédias e tragédias. Impusera aquilo que para ela era indispensável para se tornar uma estrela: a personalidade forte.


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