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POLÍTICA CULTURAL
Idéia de transformar a Estação Pinacoteca em espaço ocupado por três instituições partiu do MAM
Proposta de união de museus causa discórdia
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nova polêmica entre os
museus da cidade tem ganhado
espaço graças à surpreendente
proposta que prevê a fusão de três
das mais importantes instituições
de arte de São Paulo.
Na última semana, o superintendente do Museu de Arte Moderna (MAM), Ronaldo Bianchi,
com o vice-presidente da instituição, Roger Wright, apresentaram
à secretária da Cultura do Estado,
Cláudia Costin, um documento
intitulado "Fusão operacional para administração de recursos das
entidades: MAM, Pinacoteca e
MAC [Museu de Arte Contemporânea da USP]", sugerindo que os
três museus ocupem a Estação Pinacoteca (o antigo Dops) com
uma exposição de arte brasileira
no século 20 e sejam administrados por uma única organização
social.
"Essa é uma proposta minha,
apoiada pela diretoria do MAM.
Acho que é preciso otimizar recursos, num país miserável como
o nosso, e essa proposta se insere
nas mudanças propostas pelo governo do Estado em criar organizações sociais para gerenciarem
os museus", afirma Bianchi.
A sugestão ganha contornos delicados graças à saída de Milú Villela, como presidente do MAM,
anunciada também na última semana, após dez anos à frente da
instituição, sem a indicação de
um substituto. "Essa proposta
não tem nada a ver com a Milú, eu
já havia preparado o documento
antes mesmo de ela avisar que iria
sair, e ela, que sai para se dedicar a
um projeto internacional junto às
Nações Unidas, não vai fazer parte das negociações", diz Bianchi.
Difícil é não lembrar o que ocorreu com o MAM quando seu fundador, Ciccillo Matarazzo, decidiu, em 1963, entregar o acervo do
museu à USP, para se dedicar
com exclusividade à Bienal de São
Paulo, o que gerou o MAC e acabou com a coleção do MAM. "A
Milú não é o Ciccillo, e ela não está
saindo do conselho do museu,
apenas deixando o cargo de presidente. Creio que há uma oportunidade no ar, pois, até setembro,
há um prazo para a Pinacoteca se
reestruturar por meio da organização social", afirma Bianchi.
"Acho que se trata de uma proposta inadequada, que não respeita o histórico das três instituições e é totalmente inviável na
prática", diz Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca. Já Elza Ajzenberg, do MAC, não tem posição
definida: "Sou sempre a última a
saber. Não conheço a proposta,
prefiro ter mais informações para
poder emitir uma opinião".
Entretanto, a sugestão não é
bem vista dentro do próprio
MAM, ao menos segundo Tadeu
Chiarelli, membro do conselho
curatorial do museu. "Até vejo
com alguma simpatia dois ou três
museus ocuparem o mesmo espaço, por razões orçamentárias.
Mas o que dá riqueza na nossa vida cultura é a pluralidade, com os
caminhos que cada museu persegue. Se os três museus tiverem
uma única tutela de curadores, se
perderá esse dinamismo. É preciso lutar para sanar as dificuldades
dos museus, sem mudar suas características, preservando-se seus
acervos", afirma Chiarelli.
A questão é como melhorar o
diálogo entre as instituições sem
descaracterizá-las. "Existe uma
carência, na prática, de articulação entre os museus, que já aconteceu no passado e espero que seja
retomada, mas o pressuposto é o
respeito ao histórico das instituições. A Pinacoteca tem cem anos,
São Paulo tem a necessidade de
mais espaços", afirma Araújo. Ao
menos, a proposta polêmica instaura um debate necessário.
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