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PERSONALIDADE
Ícone do concretismo brasileiro, artista paulista estava internado desde quinta e sofreu parada cardíaca
Pintor Hermelindo Fiaminghi morre aos 83 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
O pintor Hermelindo Fiaminghi morreu ontem, às 6h, vítima
de parada cardíaca. Ele tinha 83
anos. Um dos ícones do concretismo brasileiro, estava internado
havia cinco dias no Incor (Instituto do Coração) do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Seqüelas de derrames sofridos
desde 2000 e o agravamento do
quadro de pneumonia levaram a
uma parada cardíaca, segundo
sua filha Patrícia, 26.
Também deixa a viúva Mercedes, 76, e os demais filhos: Maria
Lydia, Hermes Augusto, José Ricardo e Luiz Henrique.
O enterro está marcado para
hoje, às 9h, no cemitério Congonhas, onde o corpo seria velado.
"Ele não produziu nos últimos
quatro anos, estava com o lado esquerdo do corpo bastante comprometido. Por exemplo: a gente
lhe entregava uma folha com um
lápis, e ele só desenhava o lado direito", diz a filha primogênita,
Maria Lydia, 52.
Paulistano, de ascendência italiana, Fiaminghi sempre defendeu que a pintura deve explorar
ao máximo seu caráter comunicativo e sensibilizador, como afirma
o curador Guilherme Buenos, responsável por uma das suas últimas mostras, ocorrida no Museu
de Arte Contemporânea (MAC)
de Niterói, em 2003, reunindo 16
pinturas das décadas de 50 e 80.
Fiaminghi contava 15 anos
quando começou a trabalhar na
cia. Melhoramentos com litografia (exercício de decompor cores
na mente e na pedra para depois
recompor na sobreposição de
matizes), conforme descreveu ao
Mais! em junho de 2001.
"Na litografia, o primeiro passo
era olhar o original e fazer a leitura das cores existentes, para reproduzi-las. Para cada cor programada, uma pedra. Ali, eu fazia
cor por cor. Eu não pinto cor por
cor. Eu remonto o quadro com as
cores que imagino que vão funcionar. Na época, a litografia me
ensinou muito mais do que a aula
de pintura. Aprendi a retícula, o
valor das cores e a relação entre
elas. Tinha uma visualidade da
cor muito especial, mas eu não
decorava os nomes das cores, o
que ajudou na pintura."
Entre as influências confessas,
está a do pintor Alfredo Volpi
(1896-1988), com quem aprendeu
observando-o e trabalhando em
seu ateliê entre 1959 e 1966, no
Cambuci, mesmo bairro onde
Fiaminghi mantinha o seu.
A aproximação com os concretistas foi determinante na carreira. Em 1956, o artista sugeriu as
soluções gráficas dos cartazes-poemas (padronização de tipos,
diagramação) para a 1ª Exposição
Nacional de Arte Concreta, no
Museu de Arte Moderna de São
Paulo (MAM).
Entre os participantes, estavam
Lygia Clark, Waldemar Cordeiro,
Hélio Oiticica, Luiz Sacilotto, Volpi, Lygia Pape, Amílcar de Castro,
Franz J. Weissmann e Ivan Serpa,
além dos poetas Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari,
Ronaldo Azeredo, Ferreira Gullar
e Waldimir Dias Pino.
"Não faço mais arte concreta,
mas ainda sou concreto", disse
Fiaminghi à Folha na mesma entrevista de 2001. "Os pintores que
fazem a outra pintura não podem
nem ver a arte concreta nem saber
se ela existe, por que existe, o que
é. Nem sabem o que quer dizer,
não querem nem saber. Você por
aí já pode medir o que ela representa. Amaldiçoaram um bando
de pintores concretos por não entenderem a arte concreta. Você
não sabe como é triste viver num
país onde um bando de ignaros
completos o detesta porque você
faz uma arte diferente."
Hoje, a arte concreta brasileira é
dos movimentos mais valorizados, como o destaque dado em
mostras recentes inauguradas em
Los Angeles e Houston, nos EUA.
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