São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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PERSONALIDADE

Ícone do concretismo brasileiro, artista paulista estava internado desde quinta e sofreu parada cardíaca

Pintor Hermelindo Fiaminghi morre aos 83 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

O pintor Hermelindo Fiaminghi morreu ontem, às 6h, vítima de parada cardíaca. Ele tinha 83 anos. Um dos ícones do concretismo brasileiro, estava internado havia cinco dias no Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Seqüelas de derrames sofridos desde 2000 e o agravamento do quadro de pneumonia levaram a uma parada cardíaca, segundo sua filha Patrícia, 26.
Também deixa a viúva Mercedes, 76, e os demais filhos: Maria Lydia, Hermes Augusto, José Ricardo e Luiz Henrique.
O enterro está marcado para hoje, às 9h, no cemitério Congonhas, onde o corpo seria velado.
"Ele não produziu nos últimos quatro anos, estava com o lado esquerdo do corpo bastante comprometido. Por exemplo: a gente lhe entregava uma folha com um lápis, e ele só desenhava o lado direito", diz a filha primogênita, Maria Lydia, 52.
Paulistano, de ascendência italiana, Fiaminghi sempre defendeu que a pintura deve explorar ao máximo seu caráter comunicativo e sensibilizador, como afirma o curador Guilherme Buenos, responsável por uma das suas últimas mostras, ocorrida no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, em 2003, reunindo 16 pinturas das décadas de 50 e 80.
Fiaminghi contava 15 anos quando começou a trabalhar na cia. Melhoramentos com litografia (exercício de decompor cores na mente e na pedra para depois recompor na sobreposição de matizes), conforme descreveu ao Mais! em junho de 2001.
"Na litografia, o primeiro passo era olhar o original e fazer a leitura das cores existentes, para reproduzi-las. Para cada cor programada, uma pedra. Ali, eu fazia cor por cor. Eu não pinto cor por cor. Eu remonto o quadro com as cores que imagino que vão funcionar. Na época, a litografia me ensinou muito mais do que a aula de pintura. Aprendi a retícula, o valor das cores e a relação entre elas. Tinha uma visualidade da cor muito especial, mas eu não decorava os nomes das cores, o que ajudou na pintura."
Entre as influências confessas, está a do pintor Alfredo Volpi (1896-1988), com quem aprendeu observando-o e trabalhando em seu ateliê entre 1959 e 1966, no Cambuci, mesmo bairro onde Fiaminghi mantinha o seu.
A aproximação com os concretistas foi determinante na carreira. Em 1956, o artista sugeriu as soluções gráficas dos cartazes-poemas (padronização de tipos, diagramação) para a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).
Entre os participantes, estavam Lygia Clark, Waldemar Cordeiro, Hélio Oiticica, Luiz Sacilotto, Volpi, Lygia Pape, Amílcar de Castro, Franz J. Weissmann e Ivan Serpa, além dos poetas Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, Ferreira Gullar e Waldimir Dias Pino.
"Não faço mais arte concreta, mas ainda sou concreto", disse Fiaminghi à Folha na mesma entrevista de 2001. "Os pintores que fazem a outra pintura não podem nem ver a arte concreta nem saber se ela existe, por que existe, o que é. Nem sabem o que quer dizer, não querem nem saber. Você por aí já pode medir o que ela representa. Amaldiçoaram um bando de pintores concretos por não entenderem a arte concreta. Você não sabe como é triste viver num país onde um bando de ignaros completos o detesta porque você faz uma arte diferente."
Hoje, a arte concreta brasileira é dos movimentos mais valorizados, como o destaque dado em mostras recentes inauguradas em Los Angeles e Houston, nos EUA.


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