São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007

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Mostra reúne a arte de espírito punk

"Panic Attack!", no Barbican Centre, em Londres, apresenta 150 obras, produzidas durante as décadas de 70 e 80

Exposição inglesa exibe trabalhos como fotografias, pinturas, vídeos e outras mídias, que encarnam o espírito rebelde da época

ALEXANDRE XAVIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

Apesar de sempre associado à música, o punk se utilizou de outras formas de arte para se manifestar. Para lembrar que o movimento representado pelo Sex Pistols foi além das guitarras (e para celebrar o 30º aniversário do lançamento do single "God Save The Queen"), o Barbican Centre de Londres reuniu a mais significativa arte visual punk rock produzida entre a metade da década de 1970 e a de 1980 e inaugurou neste mês a exposição "Panic Attack! Art in the Punk Years".
Entre fotografias, pinturas, vídeos e outras mídias, há 150 obras expostas no Barbican que retratam o espírito rebelde-expressionista dos anos em que o punk floresceu em Londres e Nova York.
Os artistas selecionados para a exposição viveram nas mesmas áreas decadentes que Black Flag, Ramones, Sex Pistols e Buzzcocks (em alguns casos, eles conviveram com as bandas). "Ambas as cidades eram um terreno fértil para a subcultura do punk e do pós-punk", dizem os curadores Mark Sladen e Ariella Yedgar.
Alusão direta às bandas da época são, porém, muito poucas na mostra. As únicas marcantes são três: o retrato original de Patti Smith que ilustra o álbum "Horses" -foto clássica de Robert Mapplethorpe- e duas colagens de Jamie Reid (a que virou a capa de "God Save the Queen", do Sex Pistols, e uma segunda opção, descartada por Malcolm McLaren).

Catarse moral
Não é difícil relacionar as outras obras de "Panic Attack!" ao punk rock. "Todos haviam incorporado o mesmo espírito", relata Sladen. Há em comum entre os artistas e as bandas a tentativa de provocar uma catarse moral através do confronto e da exploração de temas delicados. "A expressão por meio do confronto é essencialmente punk. Também havia uma noção comum de performance transgressiva e várias técnicas artísticas eram similares."
"Panic Attack!" consegue mostrar não só que os anos punk foram férteis na arte visual marginal mas que apesar de relativamente curto, o movimento influenciou -e ainda influencia- muita gente.
Há algumas obras, como as fotos de Robert Logo e os vídeos de Derek Jarman, que pendem mais para a cena no wave [artistas mais barulhentos e menos engajados politicamente] e lembram mais o primeiro disco do Sonic Youth do que o "Never Mind the Bollocks". "Panic Attack!" está em cartaz no Barbican até 9 de setembro. Os ingressos custam 8 libras (cerca de R$ 31).

Nos anos 70
"Panic Attack!" guarda relações com uma polêmica mostra feita no Reino Unido na época do aparecimento do punk.
Era 1976, e o ano bem que poderia ter acabado em setembro para grande parte dos conservadores súditos da rainha. Foi em novembro daquele ano que o Sex Pistols proferiu o primeiro e mais famoso palavrão da história da televisão inglesa.
No mês anterior, a exposição "Prostitution" havia deixado membros do Parlamento de cabelo em pé e tinha conseguido iniciar uma briga entre os jornais londrinos. Um grupo de arte chamado COUM Transmissions juntou fotos de revistas pornográficas com "ready-mades" feitos de peruca e absorvente usado, expôs tudo numa galeria de arte moderna e provocou um "escândalo cultural".
O tradicional diário "The Times" foi pedir explicações a um dos membros do COUM Transmission e ouviu o seguinte: "A peruca a gente usa pra tirar o excesso de sangue do absorvente". O "Guardian" foi o único grande jornal a não execrar "Prostitution", mas foi execrado pelo "Sun" por concordar que foto de mulher pelada de perna aberta era arte. Na semana seguinte, a imprensa publicou a indignação de um deputado do Partido Conservador, que chamou COUM Transmissions e a banda de rock do grupo (o Throbbing Gristle) de "destruidores da civilização".
O destaque dado pelos jornais aos "artistas incivilizados" durou semanas e fora proporcional ao espanto de seus editores. Até o financiamento de "Prostitution" foi criticado pela imprensa (que não admitiu o fato de o governo ter apoiado uma turnê da mostra nos EUA).


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