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Mostra reúne a arte de espírito punk
"Panic Attack!", no Barbican Centre, em Londres, apresenta 150 obras, produzidas durante as décadas de 70 e 80
Exposição inglesa exibe trabalhos como fotografias, pinturas, vídeos e outras mídias, que encarnam o espírito rebelde da época
ALEXANDRE XAVIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES
Apesar de sempre associado
à música, o punk se utilizou de
outras formas de arte para se
manifestar. Para lembrar que o
movimento representado pelo
Sex Pistols foi além das guitarras (e para celebrar o 30º aniversário do lançamento do single "God Save The Queen"), o
Barbican Centre de Londres
reuniu a mais significativa arte
visual punk rock produzida entre a metade da década de 1970
e a de 1980 e inaugurou neste
mês a exposição "Panic Attack!
Art in the Punk Years".
Entre fotografias, pinturas,
vídeos e outras mídias, há 150
obras expostas no Barbican que
retratam o espírito rebelde-expressionista dos anos em que o
punk floresceu em Londres e
Nova York.
Os artistas selecionados para
a exposição viveram nas mesmas áreas decadentes que
Black Flag, Ramones, Sex Pistols e Buzzcocks (em alguns casos, eles conviveram com as
bandas). "Ambas as cidades
eram um terreno fértil para a
subcultura do punk e do pós-punk", dizem os curadores
Mark Sladen e Ariella Yedgar.
Alusão direta às bandas da
época são, porém, muito poucas na mostra. As únicas marcantes são três: o retrato original de Patti Smith que ilustra o
álbum "Horses" -foto clássica
de Robert Mapplethorpe- e
duas colagens de Jamie Reid (a
que virou a capa de "God Save
the Queen", do Sex Pistols, e
uma segunda opção, descartada por Malcolm McLaren).
Catarse moral
Não é difícil relacionar as outras obras de "Panic Attack!" ao
punk rock. "Todos haviam incorporado o mesmo espírito",
relata Sladen. Há em comum
entre os artistas e as bandas a
tentativa de provocar uma catarse moral através do confronto e da exploração de temas delicados. "A expressão por meio
do confronto é essencialmente
punk. Também havia uma noção comum de performance
transgressiva e várias técnicas
artísticas eram similares."
"Panic Attack!" consegue
mostrar não só que os anos
punk foram férteis na arte visual marginal mas que apesar
de relativamente curto, o movimento influenciou -e ainda influencia- muita gente.
Há algumas obras, como as
fotos de Robert Logo e os vídeos de Derek Jarman, que
pendem mais para a cena no
wave [artistas mais barulhentos e menos engajados politicamente] e lembram mais o primeiro disco do Sonic Youth do
que o "Never Mind the Bollocks". "Panic Attack!" está em
cartaz no Barbican até 9 de setembro. Os ingressos custam 8
libras (cerca de R$ 31).
Nos anos 70
"Panic Attack!" guarda relações com uma polêmica mostra
feita no Reino Unido na época
do aparecimento do punk.
Era 1976, e o ano bem que poderia ter acabado em setembro
para grande parte dos conservadores súditos da rainha. Foi
em novembro daquele ano que
o Sex Pistols proferiu o primeiro e mais famoso palavrão da
história da televisão inglesa.
No mês anterior, a exposição
"Prostitution" havia deixado
membros do Parlamento de cabelo em pé e tinha conseguido
iniciar uma briga entre os jornais londrinos. Um grupo de arte chamado COUM Transmissions juntou fotos de revistas
pornográficas com "ready-mades" feitos de peruca e absorvente usado, expôs tudo numa
galeria de arte moderna e provocou um "escândalo cultural".
O tradicional diário "The Times" foi pedir explicações a um
dos membros do COUM Transmission e ouviu o seguinte: "A
peruca a gente usa pra tirar o
excesso de sangue do absorvente". O "Guardian" foi o único
grande jornal a não execrar
"Prostitution", mas foi execrado pelo "Sun" por concordar
que foto de mulher pelada de
perna aberta era arte. Na semana seguinte, a imprensa publicou a indignação de um deputado do Partido Conservador, que
chamou COUM Transmissions
e a banda de rock do grupo (o
Throbbing Gristle) de "destruidores da civilização".
O destaque dado pelos jornais aos "artistas incivilizados"
durou semanas e fora proporcional ao espanto de seus editores. Até o financiamento de
"Prostitution" foi criticado pela
imprensa (que não admitiu o
fato de o governo ter apoiado
uma turnê da mostra nos EUA).
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